Quem são Yeshua e Iemanjá, alvos de polêmica na música de Claudia Leitte
Claudia Leitte gerou controvérsia ao mudar a letra da música "Caranguejo", trocando uma saudação a Iemanjá por Yeshua, nome hebraico de Jesus, o que levou o secretário de Cultura de Salvador a criticar sua atitude.
O que aconteceu
Claudia Leitte mudou a letra da música "Caranguejo", trocando uma saudação à Iemanjá por uma referência a Yeshua, nome hebraico de Jesus. A mudança na letra, feita após sua conversão à religião evangélica, vem se repetindo em shows realizados pela cantora, sendo criticada pelo secretário de Cultura de Salvador, Pedro Tourinho, que apontou desrespeito às raízes culturais do Axé Music.
Esta não é a primeira vez que Claudia gera polêmica em torno da letra de "Caranguejo". Em fevereiro, durante o Carnaval, Claudia já havia substituído o verso "Saudando a rainha Iemanjá" por "Só louvo meu Rei Yeshua". A música, lançada em 2004 com sua antiga banda Babado Novo, homenageava originalmente a orixá das religiões de matriz africana. Críticas acusaram a cantora de ignorar as raízes culturais do Axé Music, enquanto defensores apontaram para seu direito de expressar sua fé.
Yeshua é o nome hebraico de Jesus Cristo, figura central do cristianismo. O termo é utilizado principalmente por cristãos messiânicos e evangélicos que desejam reforçar a conexão histórica e espiritual de Jesus com a tradição judaica. Para muitos fiéis, o uso de "Yeshua" enfatiza a essência original do nome, distante de traduções que surgiram ao longo dos séculos.
Já Iemanjá é uma divindade das religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, considerada orixá dos mares e protetora das famílias. Representando o sagrado feminino, ela é vista como símbolo de fertilidade, maternidade e força, sendo amplamente reverenciada em festas populares, como o Dia de Iemanjá, celebrado em 2 de fevereiro. Suas oferendas, com flores e presentes lançados ao mar, são comuns no imaginário cultural do Brasil, especialmente durante o Carnaval.
No contexto da música "Caranguejo", Yeshua e Iemanjá se encontram em campos distintos de fé e simbolismo. Enquanto um representa o cristianismo evangélico de Claudia Leitte, a outra reflete as raízes afro-brasileiras do Axé Music, intensificando o debate entre liberdade religiosa e respeito às tradições culturais.
Tourinho condenou indiretamente a atitude de Claudia Leitte em uma publicação no Instagram. Ele destacou que, ao modificar referências culturais afro-brasileiras, artistas "reescrevem a história" e reforçam práticas racistas.
O secretário aproveitou a polêmica para convocar uma reflexão sobre os 40 anos do Axé Music. Ele defende maior reconhecimento à cultura negra que fundamenta o gênero.
Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, reverencia sua percussão e musicalidade, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas, de repente, escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo, e é o surreal e explícito reforço do que houve de errado naquele tempo.
Pedro Tourinho, em post no Instagram
*Com informações de matérias publicadas em 17 de dezembro e 14 de fevereiro