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'Ainda bem que foi pouco': mãe perde grana para mostrar furada do Tigrinho

Julia (esq.), 14, ao lado de sua mãe a consultora de consórcio Sandra Silva (dir), 37 - Arquivo pessoal
Julia (esq.), 14, ao lado de sua mãe a consultora de consórcio Sandra Silva (dir), 37 Imagem: Arquivo pessoal
do UOL

De Tilt, em São Paulo

18/12/2024 05h30Atualizada em 18/12/2024 10h09

O que fazer quando seu filho é bombardeado de propagandas de bets e cassino online, prometendo ganhos com pouco investimento? A consultora de consórcios Sandra Silva, 37, quis mostrar na prática para sua filha de 14 anos que a realidade é diferente das promessas mirabolantes feitas em anúncios.

"Coloquei R$ 20 para ela testar esses joguinhos, como o do 'Tigrinho' [de cassino online], após ela me pedir e ver vários influenciadores dando dicas de como ganhar. Ela jogou 10 rodadas em dois jogos, seguiu o que era dito e não ganhou nada", disse.

"Ainda bem que foi pouco", disse Sandra. "Com esse dinheiro, ela poderia ter comprado um açaí, um salgado ou um picolé. Disse a ela: 'está vendo? Não dá para acreditar em tudo que está no mundo virtual'".

Os jogos eram Fortune Tiger (conhecido como "jogo do Tigrinho") e o Fortune Ox (que tem um touro como símbolo). Ambos são jogos de azar do tipo "máquina caça-níquel", cujo resultado depende unicamente de sorte.

Em junho, a Polícia de Alagoas descobriu que influenciadores recebiam contas viciadas para promover jogos de cassino online. Dessa forma, ao demonstrarem em suas redes os ganhos falsos, incentivariam seus seguidores a se inscrever e jogar.

Sandra criou uma conta em seu nome para que a filha jogasse, mas pesquisa recente feita pelo Instituto Locomotiva, a pedido da empresa de tecnologia Unico, aponta que 17% dos pais declaram que seus filhos de 7 a 17 anos possuem perfil em sites ou em plataformas de cassino online.

"Isso é preocupante, pois esses são só os pais que sabem. Além disso, estamos falando de crianças e adolescentes, que precisam ceder dados pessoais, como CPF, endereços e informações bancárias dos responsáveis", afirmou Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, durante apresentação do estudo.

A partir de 1º de janeiro de 2025, com o início da vigência da regulação das apostas online, casas de apostas e cassino online devem barrar o acesso de menores de idade.

O levantamento do Instituto Locomotiva sobre bets e cassinos online com pais indica ainda que jovens estão ativamente apostando ou "jogando" nesses sites. Os principais meios de pagamento usados pelos filhos são pix (63%), cartão de crédito (48%), cartão de débito (38%) e boleto (14%). Cerca de 13% dos responsáveis não sabem nem qual é o método de pagamento usado pelos filhos.

A discussão levanta a importância sobre a importância dos pais ao educar sobre o uso da tecnologia. Sandra diz que sua filha tem limite de uso, e que faz com que ela ajude em tarefas de casa para não ficar o dia todo no celular.

Mesmo que pais não sejam especialistas no mundo digital, a Safernet, organização que promove o uso seguro da internet para crianças e adolescentes, recomenda que os responsáveis façam a mediação de uso das crianças e adolescentes - aliás, qualquer ato delas pode recair sobre eles.

Algumas dicas da entidade:

  • Negocie o tempo diário de acesso dos filhos online. É importante também que eles tenham horário para estudo e outras atividades, como passear com amigos e praticar uma atividade física.
  • Oriente-os para ter liberdade com responsabilidade. Ou seja, não compartilhem imagens que possam fazer você se arrepender posteriormente.

Dependendo da faixa etária, a Safernet recomenda que pais usem soluções de mediação parental, que permitem estabelecer regras de uso para menores de idade. Tem desde apps voltados para redes sociais, como apps e soluções que podem ser estendidos para toda a família.

Como bets podem evitar a presença de menores

O processo para reduzir a presença de menores em bets e cassinos online é o uso da tecnologia. O processo, explica Felipe Magrim, diretor de políticas públicas da Único, envolve algumas etapas.

A primeira tem relação com o CPF. Para se cadastrar em sites licenciados no Brasil é necessário incluir o número do documento. Só com isso, diz Magrim, já é possível sabe se a pessoa é menor de idade, barrando o cadastro da pessoa.

A parte da tecnologia entra com a validação de identidade. Para evitar que menores usem, bets poderão contar com sistemas de identificação por biometria. "Nas operações de saque e recuperação de senha, por exemplo, poderá haver um processo de validação pelo rosto. A ideia de ter verificação em vários momentos é justamente para trazer uma camada de segurança para o segmento", afirma.

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