A vez das patroas: em 2024, sertanejas crescem em estilo dominado por eles
As mulheres do sertanejo consolidaram ainda mais seu espaço em 2024, quebrando barreiras e acumulando conquistas inéditas, como o domínio total das indicações nas categorias do gênero no Prêmio da Música Brasileira. E cada integrante desse fenômeno foi estrela de grandes atos, como Ana Castela fechando perto de 300 shows no ano, Lauana Prado dominando as paradas de streaming, e Simone Mendes recebendo novamente a irmã, Simaria, no palco.
Para fechar com sela de ouro mais um ano em que o gênero ganhou maiores contornos femininos, a Globo exibe, nesta quarta (18), pela primeira vez, o especial "Amigas". É uma versão delas para o projeto "Amigos", famoso nos anos 1990 com vozes masculinas do gênero.
Com apresentação de Rafa Kalimann, o programa traz Ana Castela, Maiara & Maraisa, Lauana Prado e Simone Mendes com seus hits e homenagem a Paula Fernandes e a Marília Mendonça, morta em 2021. E como fim de ano nos remete a retrospectivas, Toca relembra como foram os últimos 12 meses de mulheres que já fizeram história no gênero.
Cachê gordo e cruzeiro para fãs
Com apenas três anos de carreira, Ana Castela, 21, disputa os cachês mais caros do alto escalão do sertanejo, com Gusttavo Lima, Jorge e Mateus e Henrique e Juliano. Entre 2023 e maio deste ano, contabilizou 240 shows, com apresentações que saltaram de R$ 60 mil o cachê para R$ 750 mil.
Ficou ainda 25 semanas no topo da parada da Billboard Brasil com 9 músicas entre as cem mais tocadas. A faixa "Nosso Quadro" teve o clipe mais assistido do ano no YouTube, com 350 milhões de visualizações.
Para UOL, em março, a embaixadora da Festa do Peão de 2024 disse ainda não estar acostumada com a vida de famosa. No entanto, demonstra orgulho de ver como tem lidado bem com as adversidades.
"Choro quando tenho que chorar, eu volto e paro com a terapia. Só que assim, eu tenho uma cabeça, isso Deus me deu mesmo, muito forte", declarou na época. "Acho que Deus me quis nesse mundo, porque as pessoas são muito ruins e era para eu ter desistido há muito tempo. Se tivesse desistido, eu não estaria aqui onde estou hoje. É Deus, família e a cabeça muito forte para estar aqui. A gente aprende a lidar com certas coisas."
O sucesso de Ana Castela foi coroado com um Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Sertaneja por Paraíso Particular (Ao Vivo). E 2025 já começa com novidades: a artista lança seu primeiro cruzeiro temático, inteiramente decorado em rosa.
Grammy Latino e reencontro com irmã
Quem também dominou a parada foi Simone Mendes, 40, que já entrou em 2024 com quatro músicas entre as mais tocadas no Billboard Brasil Hot 100 e acumulou 12 milhões de ouvintes mensais somente no Spotify. Quando formava dupla com a irmã Simaria, esse número era de 3 milhões.
Pela primeira vez, foi indicada e se apresentou no Grammy Latino como artista solo, com o álbum "Cintilante". Em 2017, ela e Simaria foram indicadas também ao "Melhor Álbum Sertanejo", na época com "Simone e Simaria Live".
A dupla, inclusive, se reencontrou duas vezes esse ano. As irmãs fizeram participação na turnê de Jorge e Mateus em Goiânia, em julho, e depois Simaria foi a um show de Simone, no Centro de Tradições Nordestinas, em São Paulo.
Derrubando preconceitos
Lauana Prado, 35, teve a canção mais executada nas plataformas de streaming no primeiro semestre de 2024. Ela alcançou o feito com o pot-pourri "Me Leva Pra Casa" / "Escrito Nas Estrelas" / "Saudade", segundo a Pro-Música, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras fonográficas do Brasil.
Prado, que começou a carreira empresariada por Fernando Zor, da dupla com Sorocaba, estreou no topo com "Cobaia", lançada há cerca de cinco anos com Maiara & Maraísa. Ela disputou pela quarta vez o Grammy Latino na categoria "Melhor Álbum de Música Sertaneja" com o projeto "Raiz Goiânia", abriu a Festa do Peão de Barretos, o templo do sertanejo, no interior paulista, em agosto, e fala abertamente sobre sua bissexualidade num meio fechado com o conservadorismo.
30 milhões de plays
Um dos maiores expoentes do piseiro, forró e sertanejo, Mari Fernandez, 23, também não vê problema em falar do namoro de três anos com Júlia Ribeiro. E diz que não foi alvo de preconceitos quando a relação veio à tona, há alguns meses.
"Nunca sofri nenhum tipo. Nem pressão [para não revelar o namoro], ou outra coisa nesse tempo que fui contando do meu relacionamento", afirmou ela à revista "Quem". Pelo contrário. Me senti muito acolhida e isso sempre foi muito importante para mim."
Mas a artista já vinha sendo muito bem acolhida. Mari iniciou o ano com mais de 30 milhões de plays nos tocadores de música, assinou com uma nova gravadora e foi indicada no Prêmio Multishow, considerado o maior de música do país.
Mari gravou ainda, em novembro, o DVD "Ao Vivo No Rio de Janeiro" e já bateu recorde de trocas de look no espetáculo. Ainda recebeu um Certificado de Diamante pela gravadora Som Livre.
A obra conta com participações especiais de Lauana Prado e da dupla Guilherme & Benuto. Além disso, marca oficialmente a transição da cantora do forró para o sertanejo, um gênero que ela já vinha flertando em seus projetos anteriores.
"Bem menos machismo"
A cantora e compositora Paula Mattos, 35, escreve músicas desde os 12 anos e começou a tocar aos 15 em pizzarias e praças de alimentação. Hoje é um dos maiores fenômenos do gênero, soma mais de meio bilhão de visualizações de seus vídeos no Youtube, onde reúne mais de 2 milhões de seguidores em seu canal oficial.
Em entrevista recente ao programa No Tom, Paula defendeu que as mulheres têm aberto caminho, tanto no sertanejo quanto na música popular brasileira. "Tem bem menos machismo, mas um detalhezinho ou outro a gente acaba percebendo, por ser mulher", aponta. "Alguns homens se incomodam um pouco de ver eu tendo minha vida, conquistando coisas."
Na mesma entrevista, diz que "Que Sorte a Nossa", música conhecida pela voz de Matheus & Kauan, é a única que acredita que deveria ter gravado em sua voz desde o início. "É a música da minha vida", disse.
Em 2015, após o lançamento da canção pela dupla, ela publicou a sua interpretação. "Em uma semana, deu 100 mil views —o que, para mim, era muito", lembra. "A gente deixou aquela emoção [falar]. A lágrima caiu no 'timing' certo —aquilo foi Deus, porque a gente nem tinha perspectiva para aquele projeto."
Maiara & Maraisa
A dupla, 36, estreou esse ano o "Maiara & Maraisa In Concert", com uma orquestra formada só por mulheres, emplacou a faixa "Vai Lá" nas paradas. As duas ainda levaram para o mar duas edições do navio temático delas e agora prepara a estreia do DVD "iMEMsidão", gravado em Goiânia.
Mas, como muitos artistas, as irmãs também tiveram um 2024 de críticas e julgamentos. Em especial à perda de peso de Maiara, que emagreceu mais de 35 kg em um ano.
Em conversa rápida com UOL, as duas, inclusive, negaram estarem mais reservadas no campo pessoal. "Aqui não tem robô, não. Aqui é humano. Aqui não tem nada de fachada, é realidade", disse Maiara.
Maraisa apoiou a irmã e também garantiu que elas são autênticas. "Isso é natural. A gente ama, a gente sofre, a gente se diverte. Nós não somos personagens, somos pessoas reais", concluiu ela, que se casará com Fernando Mocó no ano que vem. Enquanto isso, a irmã anda circulando com o empresário Mohamed Nassar.
A dupla anda também atuando na dramaturgia. Elas estão auxiliando a Globo na produção da novela "Coração Acelerado", nome provisório da próxima novela das sete da emissora, que estreia apenas em novembro do ano que vem e vai falar sobre o universo sertanejo.
Ou seja: mais que provaram que o feminejo não é apenas um movimento passageiro, mas um novo capítulo na história da música brasileira.