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Caetano e Bethânia em SP tem homenagem a Rita e Gal e anticlímax com louvor

Caetano e Bethânia no Allianz Parque, em SP - Divulgação
Caetano e Bethânia no Allianz Parque, em SP Imagem: Divulgação
do UOL

Adriana Del Ré

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/12/2024 11h46

Maria Bethânia e Caetano Veloso têm feito história na turnê conjunta que está rodando o Brasil desde agosto e chegou neste sábado (14) ao Allianz Parque, em São Paulo - onde eles se apresentam ainda neste domingo (15) e na quarta (18). Se a MPB clássica fosse o PIB (Produto Interno Bruto) do país, uma parcela considerável estaria concentrada no palco do estádio do Palmeiras na noite de sábado.

Além do peso de reunir de novo os irmãos Veloso, dois patrimônios da cultura brasileira, no mesmo show, a turnê Caetano & Bethânia mostra que a música brasileira também pode arrastar multidões para as arenas, algo que parecia só acontecer no Brasil com shows internacionais - os recentes mega tours de Ney Matogrosso e Jão, por exemplo, reforçam esse cenário, e, do outro lado da cidade, o sertanejo Gusttavo Lima encheu o estádio do Morumbi.

Sob uma chuva fina que caía na cidade, Bethânia e Caetano abriram o show um pouco depois das 20h30, para uma plateia lotada com 49 mil pessoas, já em alta frequência, com 'Alegria Alegria', considerada marco inicial do Tropicalismo e, apesar de ter sido escrita no período da ditadura - e sob o efeito dela - atemporal.

Emendaram com 'Os Mais Doces Bárbaros', relembrando os tempos dos libertários Doces Bárbaros, quarteto que eles formaram com Gilberto Gil e Gal Costa na década de 70.

Em 'Gente', Caetano se mostrou visivelmente emocionado com o que estava vendo. E nessa hora também os diferentes estilos dos irmãos ficaram ainda mais evidentes. Caetano é mais contido nos gestos, tímido até, com uma voz que faz contraponto à potência de Bethânia.

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Caetano e Bethânia em SP
Imagem: Divulgação

Já a irmã, discípula do diretor e dramaturgo Fauzi Arap, é dona de gesticulações mais expressivas, teatrais. Bethânia tem o que os franceses chamam de savoir-faire. E um complementa o outro, em voz e expressão, como se fossem gêmeos nascidos em anos distintos.

Gal, que morreu em 2022, se faz presente direta e indiretamente em algumas passagens no show. Ao cantarem 'Não Identificado', Caetano e Bethânia remeteram o público que conhece a obra de Gal ao seu universo. A homenagem, de fato, a ela acontece mais para a parte final da apresentação, quando cantam 'Baby' e 'Vaca Profana', e fotos dela são projetadas ao fundo. "Gal pra sempre", reverenciou Caetano.

Em 'Samba de Dois Rios', fazem citação à 'A Donzela se Casou', mas a esperada dancinha em dupla não aconteceu. Há uma emenda bonita de canções dedicadas às raízes afro-brasileiras, à ancestralidade, com 'Milagre do Povo', 'Filhos de Ghandi' e 'Dedicatória'.

Tropicália e sets solo

Caetano canta sozinho 'Tropicália' - compreensível, uma vez que Bethânia não participou do movimento, mas ficou a vontade de ouvir ao vivo essa música na voz dela. Seria uma boa chance para isso acontecer. Bethânia entra sozinha em 'Marginália II', e os dois voltam a se reunir em 'Um Índio' e 'Cajuína'.

Começaram, então, os sets solos. Caetano enfileirou 'Sozinho' (versão da música de Peninha que fez grande sucesso e o ajudou a chegar em outros públicos); o clássico 'O Leãozinho'; 'Você Não Me Ensinou a Te Esquecer' (da trilha sonora do filme 'Lisbela e o Prisioneiro'); 'Você é Linda', outro hit.

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Caetano e Bethânia em SP
Imagem: Divulgação

Depois veio o louvor 'Deus Cuida de Mim', que ele gravou com o pastor Kleber Lucas e gerou uma espécie de anticlimax no show. Caetano justificou a música, antes de cantá-la, como um "interesse no crescimento das igrejas evangélicas no Brasil".

Na sequência, já com outro figurino, foi a vez de Bethânia ocupar sozinha o palco, revivendo seus grandes sucessos: 'Brincar de Viver', 'Explode Coração', 'As Canções Que Você Fez Pra Mim' e 'Negue'.

De volta em dueto, Caetano e Bethânia prestaram tributo à Mangueira com 'Sei Lá Mangueira', 'A Menina dos Olhos de Oyá', 'Exaltação à Mangueira' e 'Onde o Rio é Mais Baiano'; a Raul Seixas, em 'Gita'; e a IZA, em 'Fé' (demarcando atenção a uma nova geração da música).

'Sampa' foi a música com que presentearam o público de São Paulo, e, por tabela, homenagearam Rita Lee, que morreu em 2023 - com seu marido e parceiro, Roberto de Carvalho, na plateia assistindo.

'Reconvexo' e 'Tudo de Novo', já famosas na interpretação dos dois, encaminharam o show diretamente para o final epifânico, sem pausa para bis, com 'Odara'. Faltou 'Maria Bethânia' no repertório, escrita por Caetano no exílio e que reforça a cumplicidade entre ambos.

Mas isso não chega a macular o show, que deve ser apreciado com devida atenção e reverência. Afinal, a plateia tem diante de si dois artistas veteranos ainda no auge de suas carreiras.

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