Batatinha frita... Fã ganha R$ 1 milhão em prova que simula série 'Round 6'
Em um sábado de calor, chuvisco e céu cinza, milhares de fãs de "Round 6" acordaram cedo para se reunir no Parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo. O motivo? Participar de uma série de provas, com a promessa de que o vencedor embolsaria R$ 1 milhão.
Pensada para promover a segunda temporada do fenômeno televisivo coreano, a ação tinha tudo para dar errado, adaptando as provações do sombrio seriado em uma intensa gincana, com um prêmio em dinheiro tão significativo que poderia despertar o pior nas pessoas — assim como acontece na série. Felizmente, o resultado foi uma manhã com clima de competição amigável e espírito esportivo.
As regras do jogo
Uma grande área do parque estadual foi reservada para os participantes, espectadores, jornalistas e influencers, repleta de telões para quem quisesse assistir. No espaço de dez dias entre o anúncio e a realização do evento, a Netflix recebeu cerca de 16 mil inscrições de todo o Brasil, e as respondeu com um quiz de conhecimentos sobre a série. Dos que acertaram as respostas do teste, dois mil participantes foram selecionados.
A prova teve quatro etapas inspiradas nos jogos da série. A primeira foi "Batatinha 1, 2, 3", brincadeira tirada diretamente da série em que é preciso correr só enquanto uma boneca robô fala, se mantendo imóvel nos momentos de silêncio. A peneira inicial foi disputada em grupos de 200 participantes. Quem conseguiu "sobreviver" à impiedosa boneca ganhou o direito de disputar uma corrida de 6 km pelo parque, em que os 60 primeiros corredores a passarem pela linha de chegada avançaram para a próxima fase.
A penúltima etapa dividiu os finalistas da corrida em dez equipes de seis participantes, para disputas de cabo-de-guerra em uma plataforma. Os membros da equipe vencedora então se enfrentaram em um labirinto, onde só o primeiro a encontrar a saída levou a grana para casa.
Não só pelo dinheiro
Ainda que uma enorme quantia de dinheiro estivesse em jogo, o clima da disputa foi bastante amigável. O pessoal deixava claro que queria a grana, mas a principal motivação dentre os participantes que conversaram com Splash era só a chance de participar de algo divertido no fim de semana.
Foi o caso de Gilberto, engenheiro de 52 anos, que topou participar do evento por conta da filha. "Na verdade foi a minha filha que viu que tinha a prova, ela me inscreveu e respondemos juntos ao quiz. Não deu tempo de me preparar. Eu corro, mas vim mais para brincar", falou enquanto se preparava para a maratona, tendo passado pela peneira inicial - mas sem expectativas de voltar para casa milionário."Acho difícil, sendo bem realista", disse aos risos. "Vim mais para participar, brincar, fazer um exercício para a saúde, acho que é legal sempre fazer esse tipo de atividade."
A motivação foi muito parecida para Júlia, jovem de 27 anos, de São Paulo. Ao saber da competição, a estagiária de marketing convocou o noivo Gabriel para tentar a sorte. "Nós já corremos, então achamos que seria divertido pelo menos participar da corrida", falou. " Quem sabe? No mínimo vamos nos divertir, e no máximo ficamos milionários."
Espírito esportivo
As provas começaram às 7h, o que significa que muita gente chegou ao parque por volta das 6h, ou até antes. "O clima estava bom. Não foi tão competitivo quanto eu achei que seria, não foi tanto 'sangue nos olhos' assim", falou a participante Julia a Splash, pouco após ela e o noivo concluírem a peneira inicial. Para a jovem estagiária, a parte mais tensa da disputa seria a etapa após a corrida: "O cabo-de-guerra vai ser a maior dificuldade porque é uma coisa em grupo, não depende só de você. Tem que estar bem estruturado para dar certo. E o labirinto é um pouco de sorte e um pouco de estratégia."
Quem percebeu isso na prática foi, claro, o vencedor. Quem embolsou o prêmio de R$ 1 milhão foi Fernando Samejima, analista financeiro, de 31 anos. Por indicação de um amigo, o rapaz só topou para fazer exercício: "Estava zero esperando ganhar, vim só para correr os seis quilômetros. Queria passar da primeira prova para não ser eliminado no começo e poder correr, para já fazer o treino da semana e ficar tranquilo, mas aí fui passando e foi dando tudo certo."
O grande empecilho encontrado pelo vencedor foi o temido cabo-de-guerra, mas Samejima contou que os participantes foram cruciais para que vencesse. "A galera foi super positiva. Na fase em grupos, todo mundo foi se ajudando e comemorando que estava classificado, e quando se formaram os times, geral se abraçou e falou 'Vamos juntos'. Não tenho o que falar do pessoal."
O rapaz, claro, pretende recompensar os outros cinco membros da sua equipe da penúltima fase com parte do prêmio. "Primeiramente, vou dar uma parte para o pessoal que me ajudou a me classificar", garantiu. "Depois para o Samuca — o Samuel, o cara que fez eu me inscrever na prova —, e então para a família", falou sobre seus planos para o recém-adquirido milhão.
Conexão Coreia x Brasil
O fato de mais de duas mil pessoas terem acordado cedo num sábado para ver uma disputa inspirada em "Round 6" é sinal de como a série — e muitas outras produções coreanas — encontrou público no Brasil. O evento também prestigiou outros elementos da cultura sul-coreana: a área dos jornalistas, influencers e convidados, por exemplo, tinha comida pelo restaurante Komah, além de ocasionais músicas de k-pop sendo tocadas nos alto-falantes.
Para Jack Park, representante do Centro Cultural Coreano no Brasil, eventos como esse são representativos da expansão da cultura coreana pelo país e pelo mundo - um antigo exemplo de soft power do país asiático. Coreano que trabalha com a organização há uma década, ele afirma que o público brasileiro desenvolveu repertório e gosto pelas produções asiáticas e mais:
"É incrível acompanhar todo esse desenvolvimento e crescimento de interesse do público brasileiro sobre a cultura coreana. [...] É legal de acompanhar, porque vimos o caso de sucesso de 'Gangnam Style' [do artista Psy], em 2012, uma música que, primeiramente, despertou uma reação do público brasileiro como algo engraçado e diferente. Podemos observar o aumento de repertório do público brasileiro, que queria acompanhar coisas novas."
Segundo Park, isso se expandiu além das telas, despertando curiosidade pelo cinema, música e culinária da Coreia: "Acredito que esses conteúdos culturais vêm trazendo novos diálogos com a literatura, gastronomia e todas as áreas da cultura coreana", falou. "Isso é um exemplo de soft power que vem conquistando um público internacional."
A segunda temporada de "Round 6" chega ao catálogo da Netflix em 26 de dezembro.