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O que acontece quando se é atingido por um raio (e se sobrevive)?

Muito cuidado com raios! - Gene Blevins/Reuters
Muito cuidado com raios! Imagem: Gene Blevins/Reuters
do UOL

De Tilt, em São Paulo

13/12/2024 12h00

Relâmpagos e trovoadas no céu: para muitos, um espetáculo fascinante; para outros, um motivo de pânico. O risco é real e leva apenas alguns milésimos de segundos para se ser atingido por um raio, um evento que pode gerar temperaturas em torno de 50 mil graus Celsius, tão quente quanto a superfície do Sol.

Essas pessoas geralmente sofrem de um distúrbio de estresse pós-traumático: ser atingido por uma descarga é algo que elas não esperavam de maneira alguma, e que as tira totalmente de controle.

Queimaduras e cicatrizes

Pode acontecer de a corrente elétrica correr pela superfície do corpo e seguir adiante, tudo numa fração de segundos. Isso pode resultar em queimaduras sérias.

Na maioria das vezes, trata-se de queimaduras de segundo grau comparáveis a uma escaldadura por vapor de água. Até chaves nos bolsos podem ser perigosas: elas absorvem o raio e literalmente se fundem na pele.

Depende de vários fatores, se a corrente flui principalmente na superfície da pele ou se penetra na própria pessoa

Quando o coração não aguenta

Mas a corrente também pode fluir para o corpo através da cabeça: ela procura uma via de entrada pela orelha, narinas, boca ou órbitas oculares, e daí penetra na medula espinhal.

Algumas vítimas simplesmente tombam ou apresentam problemas cardíacos. Podem ocorrer distúrbios do ritmo cardíaco, mas nesses tais casos geralmente o coração já estava danificado antes.

Outras vezes, porém, o coração simplesmente para, como alguém tivesse pressionado brevemente o botão da pausa. Aí é preciso reanimar a vítima logo. Se não há ninguém para avaliar a situação corretamente, a vítima de eletrocussão em geral morre. O neurologista está convencido de que muitos poderiam ser salvos se recebessem assistência com a devida rapidez.

Músculos descontrolados

Muitas funções corporais funcionam por meio de eletricidade, como os músculos ou os nervos cerebrais. Uma forte descarga atrapalha esse sistema. Se os músculos são afetados, ficam flácidos e não podem mais ser controlados. A vítima tomba ao chão, fica caída e não consegue se mexer, paralisada.

É como um ataque de paraplegia. Trata-se de uma contração muscular involuntária, que a pessoa não tem como influenciar.

"O que foi isso?"

Ser atingido por um raio é uma experiência que muitos provavelmente nem registram conscientemente. É tudo, literalmente, rápido como um relâmpago.

Após milésimos de segundos, tudo acabou, mas não para o eletrocutado, inconscientemente ele pode entrar em estado de choque.

Entre 30 e 50 pessoas são atingidas por raios todos os anos, e aproximadamente 10% não sobrevive ao evento traumático.

Passado que não passa

Nervos e músculos são os mais prejudicados por uma descarga: com uma alta percentagem de líquido, eles opõem bem pouca resistência. O cérebro pode sofrer danos cerebrais que só vão aparecer muito mais tarde. Os nervos finíssimos responsáveis pela percepção de temperatura ou de dor são frequentemente destruídos.

Durante os exames a maioria dos médicos mede apenas os nervos espessos e muitas vezes não percebe que se trata de uma chamada "neuropatia das pequenas fibras", ou seja, que os canais nervosos menores estão danificados.

Lesões na cabeça podem evoluir para transtornos de personalidade, com comprometimento da capacidade de concentração e de trabalho. Do ponto de vista neuropsicológico, quem sobrevive a um raio pode não ter mais o mesmo rendimento de antes.

O sobrevivente sofre lacunas de memória e tem dificuldade de fazer associações.

Falsas sabedorias

O raio não precisa necessariamente atingir em cheio para causar danos físicos. Uma espécie de "cambalhota elétrica" acontece até com mais frequência. Nesses casos, ele atinge um objeto próximo, que, em vez de encaminhar a corrente para o solo, a faz saltar para uma pessoa próxima, e só então a carga passa através dela para o chão. Isso é muito comum perto de árvores.

"Evite carvalhos, procure faias e encontre tílias". Essa velha sabedoria popular alemã só provoca um olhar de censura os cientistas. Portanto: árvore é árvore.

O que fazer durante tempestades?

Há diversas maneiras de se proteger de raios. A primeira regra é levar a tempestade a sério e não ficar do lado de fora: interromper todas as atividades ao ar livre, procurando abrigo numa casa, de preferência um prédio com sistema de proteção contra raios. Outra opção seria uma construção sem para-raios, mas se possível de pedra.

Um carro também oferece abrigo seguro durante tempestades por se tratar de uma gaiola de Faraday. É uma cápsula de lata selada, que serve como condutor e assim também como blindagem elétrica.

Estimar distâncias

E por fim, se você ver um raio, deve começar a contar até o soar do trovão. Divida então esse número por três, e assim terá aproximadamente a distância do impacto em quilômetros.

Assim, se a contagem é de 30 segundos, a distância é de dez quilômetros. Se forem menos de dez segundos entre raios e trovões, há risco de vida. E mesmo que seja um pouco mais, não se deve se descuidar. Quando o último raio ou trovão passar, espere mais 30 minutos antes de sair. É um tempo que vale a pena esperar.

*Com reportagem de julho de 2021

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