Gilberto Gil nunca imaginou que seria odiado: 'Esses tempos chegaram'
Gilberto Gil, 82, e a mulher, a empresária Flora Gil, 64, foram hostilizados por torcedores brasileiros, em 2022, durante a Copa do Mundo do Qatar. Eles foram xingados enquanto caminhavam para assistir a uma partida entre Brasil e Sérvia. O episódio é apenas um dos exemplos em que o músico foi vítima do ódio, intensificado nos últimos anos pela polarização política.
Esses tempos chegaram. Eu nunca imaginei que um dia iriam me odiar, iriam me xingar. E coisas assim, como fazem agora o tempo todo pela internet. Eu não [fico lendo comentários]. Eu já sei que estão lá. Eu já sei que vão dizer isso, vão dizer aquilo. Gilberto Gil
O artista falou sobre a surpresa ao se reconhecer vítima da intolerância. A declaração foi feita durante participação no Conversa com Bial (Globo) que vai ao ar na noite desta sexta-feira (13) e que Splash acompanhou a gravação.
Cantor destaca que, apesar de todo ódio, as manifestações de carinho ainda são maiores. "Não só de fãs, mas dessas pessoas que tiveram o privilégio de acompanhar uma obra durante muitos anos, por muito tempo."
Compositor acumula mais de 60 anos de carreira, com trabalhos que impactaram diferentes gerações de brasileiros. Tempo de estrada não impede, porém, um nervosismo antes de subir ao palco. "Encarar a multidão também é desestabilizante. Faz tremer na base. Dá frio na barriga, um certo tremor, nervosismo."
É o que dá o sentimento, o que traz o sentimento de ser um artista. De representar aquele trabalho, aquele negócio de cantar para os outros. Eu costumo dizer que a primeira pessoa do público sou eu. É para mim mesmo que a inspiração acena, mas é para todo mundo que a gente canta. É para o outro que a gente canta.
'Eu sou um homem velho'
Gil confidenciou que a percepção da passagem do tempo foi fundamental para o entendimento de que era preciso dizer adeus às grandes turnês. "Eu sou um homem velho. Chega uma hora que cansa. A última turnê nesse formato, com viagens intensas, dedicação excessiva. Isso eu quero dar um descanso".
Músico reflete sobre o desgaste natural que acompanha a idade e as demandas de uma carreira extensa. Gil, porém, não pretende abandonar a música completamente, buscando apenas um ritmo mais tranquilo.
Também tem um acúmulo de energia que vem da decantação natural de você fazer aquilo o tempo todo. O palco é muito energizante. A plateia traz muito de volta essa energia distendida. O palco tem esses dois lados: a bateria que descarrega um pouquinho, mas carrega também. Os dois polos, o tempo todo ali trabalhando. O tempo pesa.
Músico confirmou aposentadoria dos palcos em junho, durante uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. A exemplo do que já fez Milton Nascimento, ele pretende continuar na música, mas longe da rotina dos shows.
Turnê "Tempo Rei" começa em 15 de março do próximo ano, por uma escolha de Gil e equipe. "Foi uma decisão de todos, como foi a decisão de escolher o nome, reunir esses vários conceitos para determinar o perfil da excursão. Foi feito em conjunto. Foram eu e eles que decidimos que deveríamos começar por Salvador", contou o artista, em conversa com a imprensa.
