Sim, esse foi o ano de Tatá Werneck. Ela bombou com aquele seu estilo que a gente já conhece, só que falando mais de sexo e de coisas íntimas, enlouquecendo ainda mais a audiência. Mas se tem alguém que navegou tranquilo em águas às vezes turbulentas durante este ano inteiro foi Pedro Bial. E o melhor: não precisamos nem esperar até de madrugada para assistir ele na Globo, já que o GNT transmite sua Conversa diariamente em um horário ainda viável —para mim pelo menos.
Pedro Bial é daqueles casos raríssimos em que o sucesso anda junto com simpatia, carisma, humor fino, inteligência e savoir faire. Ele tem a manha, seja para escrever aqueles textos que fizeram história no Fantástico como para conduzir aquelas conversas bizarras que ele mantinha com os participantes do BBB. Se no início de cada edição de seu programa diário ele ainda usa um pouco dessa estratégia de textos tipo autoajuda, que tocam o coração dos telespectadores, é nas entrevistas que ele mostra todo o seu enorme potencial e talento —e olha que ele ocupou a vaga de Jô Soares, que era praticamente uma unanimidade nacional.
Tarefa difícil na transição, mas que ele exerceu com galhardia e, hoje, virou a maior referência no departamento de entrevistas. Além do seu talento próprio, sua oratória e criatividade na hora de entrevistar, seu olhar para o mundo e para as questões humanas faz com que o cardápio de entrevistados seja o ponto alto em cada temporada.
A variedade de temas e de entrevistados nunca deixa de surpreender: um dia tem papo-cabeça e em outro, um cantor de rebolation. Não se diz que um dos segredos da vida está no tempero das coisas, um pouco de barro, um pouco de tijolo? Pedro Bial resolve essa questão com maestria, junto com a sua afiada equipe de redatores e diretores. Até mesmo o figurino, criado por Marina Sanvicente, que veste outros tantos na emissora, reforça o estilo do entrevistador boa praça, inteligente, que domina o que faz.
Alguns dos pontos altos deste ano? A entrevista com Gabriela Medeiros, atriz trans que fez Buba em "Renascer": apesar de ela ter exagerado no figurino, sexy demais e um pouco fora do tom para esse momento que se mostrou tão profundo e sensível, com ela falando das dificuldades que enfrentou como mulher trans, a entrevista foi fundamental para entender um pouco dessa questão tão delicada.
Outro ponto alto foi a conversa com o poeta Eucanaã Ferraz, poeta e escritor que dividiu com Francisco Bosco os holofotes e que deu um banho de sensibilidade lendo um de seus poemas. Alguns dias depois, o tema era obesidade e a dificuldade dos gordos, com a médica especialista Eliete Bouskela e as meninas do Fat Family: outro gol de placa.
Depois teve Machado de Assis como tema, com a especialista tradutora e pesquisadora Flora Thomsom Deveaux, norte-americana que fala português fluente com sotaque carioca. Corta para uma outra noite mais recente, com Léo Santana e, dias depois, com o também cantor Daniel, o príncipe de Brotas.
Esse cardápio variado, ora prestigiando estrelas da casa, ora com intelectuais de renome, mesmo que seja uma fórmula já conhecida, tem um quê de especial quando o entrevistador é Pedro Bial. As surpresas, todas as noites, são parte fundamental do encanto que esse tipo de programa exerce, mas o talento do apresentador nesse caso faz toda a diferença.
Muito engraçado que, durante esse tempo que Pedro Bial está na Globo (parece que é desde que nasceu), ele continua não só se mantendo relevante como alavanca algo tão necessário na TV brasileira: um conteúdo sério, algumas vezes engraçado, outras vezes profundo e sempre necessário.
Ao contrário de Jô Soares, não são os personagens comuns que existem em torno de nós, e a gente às vezes não percebe, que são o sucesso do programa. E, sim, gente que realmente tem um trabalho sério, uma obra importante, vital para o momento que a gente vive.
Para finalizar, esta semana ainda teve os escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto: um sonho ver eles falando sobre como vem a inspiração para escrever. Um privilégio ir dormir com grandes poetas falando sobre a vida. Um bálsamo e também uma sorte, por que não, ter conversas inteligentes e às vezes profundas para arrematar um dia que às vezes pode não ter sido tão poético assim.