Alvoroço no Brasil com 'Ainda Estou Aqui' conta? Como filmes levam Oscar
"Ainda Estou Aqui", que bateu recordes de público nos cinemas e venceu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza, é cotado pela crítica como um dos filmes com melhores chances de levar o Brasil ao Oscar nos últimos anos.
E a torcida por Fernanda Torres na categoria de Melhor Atriz —para levar a estatueta que sua mãe perdeu em 1999— já chamou a atenção da Academia depois de uma foto da atriz no Governors Awards alcançar mais de 2,8 milhões de curtidas, muito mais que qualquer um dos outros 25 atores destacados no perfil oficial do Oscar.
Até a página do prêmio celebrou Fernanda com a expressão "she is mother", algo como "ela é uma rainha" (tradução não literal do inglês).
Como indicados ao Oscar são escolhidos?
Os filmes se "candidatam" ao Oscar. Segundo o site da Academia, existe um processo de candidatura que envolve um envio de formulário e materiais sobre cada filme, com regras diferentes dependendo da categoria. Há datas-limite distintas dependendo da época de lançamento no circuito internacional de cinema, mas quase todos os prazos de candidatura se encerraram até 14 de novembro.
Todo ano, geralmente cerca de um mês após o fim das candidaturas, a Academia publica uma lista de todos os filmes elegíveis para o próximo Oscar — em 2022, eram 301 candidatos. Ou seja, são muitos os filmes e os eleitores não são obrigados a assistir todos para votar. Por isso, estúdios investem bastante tempo e dinheiro em campanhas de publicidade, para que seus filmes sejam notados pelos membros da Academia.
Quem vota? A Academia do Oscar tem mais de 10 mil membros, todos eles profissionais da indústria —atores, diretores, produtores, profissionais de figurino, direção de arte e etc. 95% deles votam no Oscar, segundo a revista Vanity Fair. Quem não é convidado pela Academia para se tornar membro só consegue entrar caso seja indicado por dois outros membros de sua área. Ou seja, atores só podem indicar outros atores.
Como indicados são escolhidos? Membros da Academia são divididos em seções, correspondentes à sua área de atuação. Cada membro vota apenas nas categorias das suas seções, ou seja, diretores só votam nas categorias de direção. As exceções são as categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Curta-Metragem, em que todos os membros podem votar. Nas categorias gerais, os filmes mais votados são indicados ao Oscar.
Categoria de Melhor Filme Estrangeiro é especial. Apenas um filme por país pode se candidatar e os eleitores são obrigados a assistir a uma porcentagem mínima dos filmes da categoria antes de votar em dois turnos —dando notas para cada um. Os 15 filmes com melhores notas entram para a lista de elegíveis à indicação. Uma nova votação é realizada e a lista é enxugada para cinco indicações definitivas ao Oscar.
Janeiro define a disputa. As votações preliminares, que definem a lista de candidatos à indicação em algumas categorias (como filme estrangeiro), acontecerão entre 9 e 13 de dezembro. A lista de filmes elegíveis —isto é, que podem competir por uma indicação— deve ser publicada no dia 17 de dezembro. Entre 8 e 12 de janeiro, os membros devem votar nos filmes que querem que sejam indicados ao Oscar no dia 17 de janeiro.
Os vencedores do Oscar serão votados entre 11 e 18 de fevereiro e cada eleitor escolhe um candidato por categoria. Mais uma vez, há uma exceção: a categoria de Melhor Filme, em que cada membro da Academia deve elaborar uma lista em ordem de preferência de seus indicados. Os vencedores serão anunciados em 2 de março.
Apoio dos brasileiros nas redes pode fazer a diferença?
Filmes têm regras para serem promovidos. Há casos na história do Oscar em que ações consideradas irregulares durante a campanha de promoção de um filme levaram à retirada de indicações. Em 2023, a indicação de Andrea Riseborough ao Oscar de Melhor Atriz gerou polêmica e foi "revista" pela Academia, depois que o time do filme realizou uma forte campanha de bastidores entre atores de peso, pedindo a estrelas que promovessem o filme nas redes. No fim, sua indicação foi mantida, mas a questão gerou mal-estar.
O apoio popular a Fernanda Torres nas redes pode ser uma ferramenta poderosa, sim, para trazer visibilidade a "Ainda Estou Aqui" em diferentes categorias. Quanto mais barulho, torna-se mais possível que os eleitores da Academia fiquem sabendo que o filme existe e acabem assistindo ao trabalho dela e de toda a equipe. Ou seja, mais chances de ser indicado —e até trazer a estatueta para a casa.
Grandes estúdios têm mais poder. É importante ter em mente que há um enorme investimento financeiro em Hollywood na promoção de curtas e longas —e isso pode pesar contra Fernanda e "Ainda Estou Aqui" na disputa. No entanto, até o momento, a paixão dos brasileiros pela atriz parece ter aberto os olhos da Academia para a relevância da produção, apostam jornalistas e críticos.