Não era amor, era ovulação: fase de libido alta interfere nas relações?
"Na verdade eu nem gosto de muito de você, eu tava ovulando": pelas redes sociais, memes neste estilo circulam entre grupos de mulheres. A brincadeira tem um fundo de verdade: para uma parcela das mulheres, a chegada do período fértil, em especial dos dias de ovulação, resulta em um aumento da libido — que pode servir até como empurrãozinho para tomar atitudes mais impulsivas ou ousadas no contexto dos relacionamentos.
Universa embarcou nessa onda e pediu para que nossas seguidoras no Instagram compartilhassem histórias em que sentiram que o período do ciclo influenciou sua tomada de decisão amorosa. Algumas disseram que já instalaram aplicativos de paquera durante estes dias e logo depois apagaram. Outras garantem que ficam "mais soltas" e sentem que chamam mais a atenção. Há até quem relate ter sonhos eróticos e acionar mais os contatinhos durante o período. Você lê alguns desses relatos a seguir.
"Só conseguia pensar em sexo"
Catarina*, de 30 anos, percebeu o quanto o período fértil influencia suas decisões quando parou de usar um método anticoncepcional hormonal. "Depois de cinco anos sem menstruar, precisei tirar o anel vaginal no mês passado, por uma questão médica. Até aquele momento, sentia que as minhas relações sexuais aconteciam mais por uma questão social, de agradar aos meus parceiros, do que para me dar prazer", conta. Porém, alguns dias depois da retirada, ela se espantou com a própria libido.
"Foi uma sensação muito forte, como se meu corpo pedisse para ser tocado. Ficou difícil me concentrar no trabalho, eu literalmente só pensava em sexo. Mesmo depois de me masturbar, era como se ainda quisesse muito mais", relembra. Movida pelo tesão, abriu o jogo com um dos rapazes com quem estava conversando por um aplicativo de relacionamento e, sem o conhecer pessoalmente, fez um convite para que ele fosse direto para sua casa. "Não foi a melhor transa da minha vida, mas foi importante para me satisfazer naquele momento", reflete.
Quem já está acostumada aos efeitos do período fértil é Maria*, de 41 anos. "Sou casada há vinte anos e, desde que meu esposo fez uma vasectomia, parei com os métodos anticoncepcionais e comecei a ovular novamente. Nesses dias é como se sentisse minha energia diferente. Gosto de usar roupas bonitas e geralmente fico bem-humorada", conta. Ela também já chegou a se interessar por pessoas fora do casamento:
Fiz um trabalho temporário e tive contato com um rapaz bem mais jovem do que eu, de 28 anos. Ele começou a me dar muita atenção justamente no meu período de ovulação. Confesso que senti muito tesão por ele. Mas segurei a onda porque sabia que logo aquilo iria passar. Não deu outra: alguns dias depois, já tinha perdido a graça".
Nem todas, entretanto, conseguem distinguir tão bem os limites entre os desejos sexuais e os sentimentos românticos. Renata Chaguri, de 35 anos, conta que já se sentiu confusa algumas vezes. "Um dos casos tem a ver com um amigo. Nós nos aproximamos na faculdade e gostávamos de falar sobre tudo, incluindo sexo. Até que ele surgiu com a proposta de ficarmos juntos casualmente e eu aceitei. Nós tínhamos um gosto parecido para filmes, então assistíamos alguns deles juntos. Era uma relação gostosa, mas não pensava nele como alguém com quem quisesse ter um compromisso", diz.
A situação mudou depois que contou para algumas de suas amigas sobre o envolvimento e elas começaram a opinar. "Muitas diziam 'você gosta dele, com certeza', pelo carinho que tínhamos um pelo outro. Depois de um tempo fiquei confusa e comecei a pensar que aquilo poderia ser verdade, que realmente poderia estar apaixonada. Principalmente nas fases do mês em que meu tesão se intensificava, essa ideia surgia para mim com mais força", conta. Como resultado, Renata passou a cobrar mais a presença do rapaz e eles acabaram se afastando por um um tempo.
"Hoje reflito sobre o quanto eu e outras amigas muitas vezes só queremos transar, mas somos criadas socialmente para a ideia do romance, dos príncipes. E acredito que isso influencia na forma como nos comportamos", diz.
Como identificar os dias de ovulação
Nem todas as mulheres conseguem identificar com clareza as divisões do ciclo menstrual. Mas, basicamente, ociclo é dividido em fase folicular, período de ovulação e fase lútea. Descubra como esse ciclo funciona a seguir.
Fase folicular
Ela começa com a menstruação e tem como protagonista o estrogênio. Nessa época, depois da descamação do útero (período menstrual), o corpo se prepara novamente para uma possível gravidez, deixando a parte interna do órgão, chamado de endométrio, mais espesso. É também nesse período que o organismo seleciona um óvulo para ser liberado para a possível fecundação.
Ovulação
Aproximadamente 14 dias após a menstruação ter começado, ocorre a sua liberação e tem início a ovulação. É importante ressaltar que, para muitas mulheres, o período da ovulação pode acontecer antes ou depois desse tempo, uma vez que nem todos os ciclos são regulares.
Esta é a fase em que muitas relatam um aumento na libido. No entanto, a relação ainda vem sendo estudada pelos médicos. Não existe um consenso de que a ovulação necessariamente aumentaria o desejo sexual feminino, uma vez que se trata de um processo complexo. Questões externas, como satisfação pessoal e afetiva, precisam ser levadas em conta ao avaliarmos esse quesito da vida.
Um sinal que ajuda a mulher a identificar se está ovulando é a excreção de um muco transparente, com textura semelhante a uma clara de ovo, durante dois dias através do canal vaginal. Caso a mulher tenha relações sexuais sem fazer uso de um método anticoncepcional enquanto está ovulando ou nos três dias que antecedem a ovulação, ela pode engravidar. Isso porque os espermatozoides são capazes de permanecerem no vivos no organismo feminino por até 72 horas.
Fase lútea
Por fim, após os dois dias de ovulação, tem início a fase lútea, na qual o corpo aumenta a produção de progesterona. É quando a mulher pode ficar mais introspectiva e manifestar os sintomas da TPM. Vale lembrar que mulheres que fazem uso de métodos anticoncepcionais hormonais, tais como as pílulas, não têm período fértil.
*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.
Fonte: Rebecca Sotelo, ginecologista e obstetra, com matéria publicada em 01/11/2020