Tirar o Chrome do Google custaria US$ 20 bilhões ao comprador
A Justiça americana tenta forçar o Google a vender ou descontinuar o navegador Chrome —que vale US$ 20 bilhões, segundo estimativa da agência Bloomberg.
O que aconteceu
Em agosto, o DoJ (Departamento de Justiça dos EUA) decidiu que o Google detém monopólio de buscas online. Por isso, pedirá ao juiz da ação que force o Google a vender o navegador Chrome, de acordo com a Bloomberg.
O Chrome detém quase 67% do mercado de navegadores, de acordo com o StatCounter. Apesar disso, não é uma grande fonte de renda para o Google por si só, mas sim uma importante porta de entrada para os outros serviços da empresa. Assim, o Google consegue coletar dados do usuário para poder direcionar anúncios, o que é a base de negócios da empresa.
Especialistas especulam quem poderia se interessar pela compra do Chrome. Evelyn Mitchell-Wolf, analista sênior da eMarketer, disse à Bloomberg imaginar que empresas de inteligência artificial poderiam estar interessadas, mas acredita que os "compradores potenciais para o Chrome são poucos".
Já Josh Miller, co-fundador da Browser Co., acredita que várias empresas podem se interessar, para agitar o mercado. A dúvida, porém, é se os usuários continuariam utilizando o Chrome, já que a integração com os serviços do Google é um dos grandes atrativos do navegador.
Caso o Google opte por tornar o Chrome uma empresa independente, deverá repensar seu modelo de negócios. O navegador é gratuito e atualmente sustentado pelos lucros de anúncios do Google.
DoJ x Google
DoJ processou Google por considerar que a empresa tinha monopólio de buscas e publicidade digital. O processo começou em 2020 e culminou em agosto, com o juiz Amit Mehta considerando, de fato, a empresa detém monopólio, com grande controle nessas áreas.
Alta quantia paga para manter o Google como buscador padrão foi prova de prática anticompetitiva. A companhia pagava bilhões por ano em acordos de exclusividade para ser o buscador padrão em iPhones (líder de mercado nos EUA), celulares da Samsung, além de navegadores (Firefox e Safari, da Apple). Estima-se que foram gastos US$ 26 bilhões desde 2021.
Empresa é acusada de privilegiar produtos próprios em detrimento de concorrentes. Nos EUA, o site de recomendações Yelp, por exemplo, sempre foi crítico à empresa, argumentando que resultados de serviços do Google apareciam melhor que o deles.
Negócio de publicidade é visto como vetor para queda de jornais nos EUA. A consolidação do mercado de publicidade digital prejudicou o jornalismo, que depende de receitas de anúncios para sobreviver.
Órgão também pede o fim de acordos relacionados à busca e considera solicitar medidas educacionais para que Google explique aos usuários qual sistema de busca mais se encaixa no perfil de uso. Sistemas de busca Bing, da Microsoft, e DuckDuckGo podem ganhar espaço e baixar o preço para milhares de anúncios.
Por outro lado, a IA pode perder força. Analistas ouvidos pela Reuters apontam que, com menos receita, a empresa poderia perder poder para treinar inteligência artificial generativa, favorecendo o ChatGPT, da OpenAI, e o Claude, da francesa Anthropic.
Escrutínio do DOJ é sem precedentes. A investigação do Google visa reduzir o poder de big techs e pode respingar em Meta, Amazon e Apple.
Estamos considerando correções comportamentais e estruturais que preveniriam o Google de usar produtos como Chrome, Play e Android, de terem vantagem em busca do Google ou em produtos e recursos relacionados ao Google —incluindo recursos de inteligência artificial— para prevenir rivais ou novos competidores Documento do Departamento de Justiça dos EUA
(O Google é) uma empresa complicada, que tem uma quantidade enorme de alavancas operacionais para alcançar o que deseja, e por isso precisa ser correspondida com um conjunto igualmente amplo de medidas complementares, incluindo desinvestimentos quando necessário John Kwoka, professor da Northeastern University, ao Financial Times
Se o tribunal dividisse o Google, isso não mudaria essas condições monopolísticas. Uma divisão também seria uma punição excessivamente severa para uma empresa que alcançou grande parte de seu sucesso por meio de suas inovações em busca Michael Cusumano, professor de gestão do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), ao FT
*(Com AFP e Reuters)