Pijama ou cobertor? O que te esquenta mais no frio, segundo a ciência
Você capricha no pijama para dormir quentinho ou prefere investir num cobertor de respeito? Dependendo da escolha, as noites de frio podem ser mais ou menos confortáveis. Não é verdade que tanto o pijama quanto o cobertor (ou uma combinação dos dois) te esquentam da mesma maneira.
Para ficar o mais quente possível, use uma combinação de pijama e cobertor.
Para ter conforto térmico (ou seja, usar uma quantidade normal de roupas sem sentir frio ou calor demais), opte pelo cobertor.
A explicação para isso está na área da física chamada termodinâmica, que estuda as causas e efeitos de eventos como trocas de calor, variações de temperatura e transformação de energia.
A combinação de pijama e cobertor funciona melhor para aquecer, porque coloca mais superfícies intermediárias entre o seu corpo e o ambiente, diminuindo drasticamente a perda de calor.
Mais quente, porém, não quer dizer mais confortável. Quando a temperatura do "sistema" corpo-agasalho-cobertor aumenta muito, é preciso "ligar" o mecanismo de resfriamento do corpo: o suor. Neste caso, há a sensação de desconforto.
Tirar o cobertor após suar, fará você sentir mais frio de novo, porque a água é um excelente condutor térmico.
Pronto, começou um processo de cobre e descobre extremamente irritante.
O que diz a ciência
O corpo humano funciona, basicamente, como uma usina transformadora de energia. Pijama e cobertor funcionam como barreiras que limitam a perda de calor do seu corpo.
Quando comemos algo, estamos consumindo uma fonte de energia. O nosso corpo a converte em trabalho, que pode ser desde o ato de caminhar até as funções mais básicas do corpo. Uma boa parte dessa energia, que pode chegar a até 70%, acaba sendo desperdiçada na forma de calor.
Há diferentes meios pelos quais o corpo perde calor:
- Transpiração: o processo de evaporação da água através da pele. Em exercícios intensos, o corpo perde 85% do seu calor pela transpiração;
- Condução: quando se perde calor por contato com objetos ou substâncias. Em temperaturas do ar abaixo dos 20ºC, o corpo perde cerca de 2% de sua temperatura por meio da condução pelo ar. Outro caso ocorre na água --que, aliás, conduz calor muito melhor do que o ar;
- Convecção: é a resposta ao movimento natural do ar quente tentando subir e roubando calor do corpo. Normalmente o corpo perde de 10 a 15% de sua temperatura dessa forma;
- Radiação: é a principal forma, especialmente quando a temperatura do ar está abaixo de 20 ºC. Isso se dá pela emissão de radiação infravermelha, que é responsável por 65% da perda de calor do corpo.
Essa perda de calor não é algo ruim: é fundamental para que o corpo funcione corretamente. A nossa anatomia é "desenhada" para maximizar a eliminação de calor para o ambiente.
O corpo humano está normalmente acima da temperatura ambiente e isso, por si só, já faz com que ele perca calor todo o tempo. Essa perda de calor também é fundamental para garantir que o corpo se mantenha dentro de um intervalo bem restrito de temperaturas, algo exigido para a manutenção da nossa vida.
Pijamas e cobertores limitam a perda de calor do corpo ao interromper os processos de evaporação, radiação, condução e convecção.
Para isso, utilizam materiais que são maus condutores térmicos, como lã e tecidos sintéticos.
Ao manterem o ar quente próximo do corpo, o processo de convecção também é afetado.
Paralelamente, ter uma superfície intermediária entre você e o ambiente também diminui a eficiência do processo de radiação.
Muitas vezes é mais confortável dormir com poucas camadas de roupa (ou até mesmo sem) e debaixo de um bom cobertor. Assim, você garante que a temperatura do "sistema" fique agradável, sem impedir que o corpo realize a troca natural de calor.
Aquelas mantas forradas com alumínio, usadas em operações de resgate, usam o metal como um condutor térmico e retentor da radiação emitida pelo corpo. Isso funciona bem em situações de frio extremo.
Você pode experimentar em casa: deixe um pedaço de papel alumínio com o lado reflexivo voltado para a sua pele, por alguns minutos, sobre a sua mão. A região deve ficar mais quente do que o resto do corpo.
Choque térmico?
Há muita gente que evita isso com medo de um "choque térmico" na hora que sair das cobertas. Aqui, o risco é só em casos muito extremos.
O simples ato de pisar no chão gelado ao levantar dificilmente provocará dano ao organismo, salvo quando há exposição de grande área corporal.
Diante de uma variação brusca e extrema de temperatura, o corpo reage alterando o calibre dos vasos sanguíneos. Isso pode ocasionar desde um leve mal-estar até quadros graves de arritmias cardíacas, alterações pulmonares e metabólicas.
Ainda que isso seja improvável de acontecer na sua casa, uma boa opção —inclusive em termos de conforto— para quem quer aposentar o pijama nas noites frias é manter uma roupa por perto para vestir assim que você sair da cama.
Fontes: Adriano Alencar, professor de física do corpo humano; Leandro Russovski Tessler, professor de física; e Fábio André Santos Pampolha, médico de família e comunidade.
*Com reportagem de junho de 2021