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Experiência pessoal inspirou Tilda Swinton em 'Quarto ao Lado': 'Tive medo'

Tilda Swinton e Julianne Moore em cena de "O Quarto ao Lado", filme de Pedro Almodóvar - Divulgação
Tilda Swinton e Julianne Moore em cena de 'O Quarto ao Lado', filme de Pedro Almodóvar Imagem: Divulgação
do UOL

De Splash, em São Paulo

23/11/2024 05h30

Tilda Swinton, 64, tem uma longa carreira com personagens fantásticos, como o anjo Gabriel em "Constantine", a Anciã em "Doutor Estranho", e a Feiticeira Branca em "Crônicas de Nárnia". No entanto, em "O Quarto ao Lado", filme de Pedro Almodóvar em cartaz nos cinemas, a atriz britânica teve a chance de interpretar um dos papéis mais reais de sua carreira, afinal a experiência vivida por Martha — sua personagem — era algo que conhecia.

O longa apresenta as jornalistas Ingrid (Julianne Moore) e Martha, muito amigas na juventude, mas que passaram anos sem manter contato. Ao descobrir uma doença terminal, Martha pede à amiga que fique ao lado dela enquanto comete suicídio assistido. Ingrid então vive um dilema moral de ajudar e estar ao lado de uma pessoa amada em um momento como este. O filme conquistou o Leão de Ouro em Veneza e é uma adaptação do livro "O Que Você Está Enfrentando", de Sigrid Nunez.

Em entrevista com jornalistas da qual Splash participou, Swinton relembrou já ter vivido algo parecido, mas esteve no lugar de Ingrid. "Tive, duas vezes, o privilégio de ser pedida para ser companheira de alguém que estava enfrentando o fim de sua vida, o que é uma coisa diferente do que é mostrado no filme, afinal não se tratava de suicídio."

A atriz era muito amiga do diretor Derek Jarman; ambos trabalharam juntos em "O Jardim" (1990). Ele morreu de Aids em fevereiro de 1994, aos 54 anos, e pediu para que Tilda Swinton ficasse a seu lado durante o período. "Assim como Ingrid, tive muito medo. Eu era uma pessoa jovem e ele foi a minha primeira Marta. Ele me inspirou com uma atitude para sua própria morte que carreguei definitivamente comigo. Eu o carrego com a minha vida e eu o carreguei comigo desde então, especialmente quando eu estava nessa posição com membros da minha família e amados que estavam enfrentando o fim de sua vida."

Tilda Swinton e o amigo Derek Jarman - Reprodução/ IMDB - Reprodução/ IMDB
Tilda Swinton e o amigo Derek Jarman
Imagem: Reprodução/ IMDB

Foi uma grande bênção quando Pedro [Almodóvar] me enviou este roteiro, por ser um lugar que estive na minha vida nos últimos anos. Mas, agora, tive a oportunidade de estar na situação de Marta e colocar-me no lugar de alguém que iria morrer. Foi realmente um privilégio e me senti confortável.
Tilda Swinton

A discussão sobre suicídio assistido está em voga na sociedade desde que o poeta Antônio Cicero escolheu esta maneira para morrer. No Brasil, o ato é considerado crime. O Código Penal brasileiro prevê que essa prática pode ser enquadrada como homicídio doloso, com penas de até 20 anos. As discussões sobre a legalização esbarram em barreiras culturais, políticas e religiosas.

Mesmo abordando tanto a morte, Swinton defende que "O Quarto ao Lado" fala sobre sobrevivência. "Martha é alguém que se conhece e conhece como ela quer viver. Ela adoraria continuar vivendo, mas está muito doente para que isso aconteça da forma desejada. Então, ela prefere 'ir' mais cedo, de uma maneira determinada por ela."

Para a atriz, também se trata de uma história de amizade e triunfo. "Ela pede à Ingrid para apoiá-la, por conhecer o poder da amizade, particularmente nesses momentos. Ela sabe que não quer estar sozinha e esse apoio dá o poder a ela para tirar sua própria vida sozinha, porque ela sente essa ajuda. Essa é uma história realmente positiva e triunfante, uma fábula sobre sobrevivência."

Pedro Almodóvar

"O Quarto ao Lado" chama a atenção não apenas por sua temática, mas também por ser o primeiro filme em inglês do cineasta espanhol.

A Splash, Swinton rebate as críticas sobre os diálogos presentes no filme, tidos como "fantasiosos" por alguns críticos. "Ele escreve em 'saltos altos', com primor e classe. Isso independe da língua. Como só agora começou a trabalhar em inglês, as pessoas estranham, mas se você perguntar para um espanhol, ele não verá diferença."

A atriz é fã de Almodóvar desde que assistiu a "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos", dirigido por ele e lançado em 1998. A partir de então, sempre foi um desejo próprio conseguir trabalhar com o cineasta. "Quando eu o conheci, disse que aprenderia espanhol se fosse preciso para estar em um filme dele. A resposta foi uma risada, que interpretei como: 'de jeito nenhum'. Anos depois, o convite chegou."

Tilda Swinton, Pedro Almodóvar e Julianne Moore  - Jon Kopaloff/Getty Images - Jon Kopaloff/Getty Images
Tilda Swinton, Pedro Almodóvar e Julianne Moore
Imagem: Jon Kopaloff/Getty Images

Palestina

Durante a conversa com a imprensa, Tilda Swinton disse a um jornalista de Israel que sentia muito por toda a tensão vivida no local pelo conflito entre Israel e Palestina. "Quero que você saiba que o mundo inteiro está no 'quarto ao lado' de vocês", disse a atriz, em referência à ajuda que sua personagem recebe no filme.

O profissional de imprensa presente, no entanto, rebateu o comentário da atriz e disse saber que ela é "pró-Palestina". Swinton já se pronunciou a favor do cessar-fogo no conflito e até mesmo participou de eventos beneficentes para arrecadar fundos para envio de recursos médicos à Faixa de Gaza.

Sou contra qualquer tipo de genocídio. Não sou apenas pró-Palestina, sou pró-vida. Não dá para fecharmos os olhos para o que está acontecendo.
Tilda Swinton

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