Criativa, 'cabeçuda' e original: 'Arcane' tem fim grandioso e emotivo
Atenção: o texto abaixo contém spoilers da segunda temporada de Arcane
Três anos após o surgimento da série na Netflix, e três semanas após a estreia da segunda temporada, "Arcane" chegou ao fim neste sábado (23). A animação, inspirada no game "League of Legends", recebe a leva final de três episódios, que consegue dar uma conclusão digna e bombástica a um dos maiores sucessos do streaming.
Para honrar esse desfecho tão aguardado, a Riot Games juntou jornalistas e influenciadores para assistir os episódios na tela grande, em evento realizado na noite de sexta (22), no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Splash esteve presente, e por mais que toda a comoção dos espectadores tenha rendido aplausos e gritos emocionados nas cenas mais intensas, surpreendeu como os capítulos ainda acharam espaço para momentos experimentais e sensíveis.
Como um todo, a segunda temporada é muito diferente da primeira, por ir mais a fundo nas várias rixas e questões daquele universo, além do conflito entre as irmãs-protagonistas Vi e Jinx. De início, a decisão parece estranha, mas logo a série mostra domínio narrativo para desenvolver vários arcos ao mesmo tempo e até mesmo mesclá-los. A disputa das irmãs se torna parte da briga de classes da cidade de Piltover — que, por sua vez, se torna parte do eterno conflito entre ciência e magia, ordem e caos.
É admirável como a animação continua experimental e ousada até os momentos finais. A reta final é cheia de ação, como batalhas entre exércitos, mortes de personagens importantes e até uma cena de sexo lésbico entre Vi e Caitlyn, que foi assistida aos aplausos da platéia na exibição em São Paulo. Mas, ainda assim, o seriado não se rende ao espetáculo e encontra respiros para entregar momentos filosóficos, realidades paralelas e outros planos existenciais, e muita emoção real para garantir que cada núcleo de personagem tenha o encerramento que merece.
O ritmo de tudo pode soar meio "montanha-russa", transitando pelos altos e baixos com velocidade, mas esse é o apelo: no espaço de minutos, vai do frenesi de uma intensa cena de luta entre a guerreira Mel Medarda e sua mãe Ambessa, a uma despedida muito sentimental entre Jayce e seu antigo parceiro de laboratório, Viktor; até um final carregado para as protagonistas Vi e Jinx.
Com toda a atenção que conquistou, a série poderia simplesmente ter se rendido ao "final Marvel", em que os mocinhos se reúnem, o mal é derrotado e o público sente um gostinho do que virá pela frente. Há toque de filmes de herói na reta final, seja no tom das batalhas ou em um episódio que se passa no "Multiverso", por assim dizer, mas "Arcane" se mantém orgulhosamente criativa, "cabeçuda" e original até o final.
Por conta disso, talvez a conclusão não agrade a todos. É um final grandioso, mas muito mais preocupado em encerrar tudo de forma redonda do que ser barulhento, o que pode soar morno para alguns. Em especial, quem espera grandes aparições de outros personagens do universo de "League of Legends", ou pistas para os próximos projetos audiovisuais da Riot Games, vai se decepcionar. A série até deixa algumas pontas soltas, mas tudo é conclusivo o suficiente.
Por agora, o que importa é que "Arcane" acabou de forma digna, a altura de tudo que fez o seriado brilhar quando surgiu, em 2021. Três anos depois, segue tão cheia de personalidade, inventividade, experimentação visual e ótimas personagens, que vão deixar saudades. É o primeiro de vários projetos da casa, mas seguirá sendo uma obra única.