Miss Universo tem 125 candidatas e duas brasileiras: como isso é possível?
O Miss Universo chega à sua 73ª edição com um recorde de participantes: são 125 candidatas de países e territórios de todos os continentes. Dentre elas tem duas brasileiras, ambas nordestinas: Luana Cavalcante, do Recife (PE), e Glelany Cavalcante, nascida em Feira de Santana (BA). E, apesar do sobrenome, elas não são parentes —até onde se sabe.
Como é possível duas brasileiras?
A presença de duas brasileiras no concurso é permitida pelo regulamento, isso porque Luana representa o Brasil e Glelany, a Itália. Para uma brasileira concorrer em outro país, ela precisa cumprir requisitos como, por exemplo, morar legalmente no país estrangeiro por período pré-determinado e/ou ser cidadã do país. A regra se aplica a estrangeiras que queiram competir aqui no Brasil também.
"O que me permitiu participar não foi somente o fato de residir no país, mas ter também a cidadania italiana", explica Glelany para Splash. Com 30 anos, ela também era impedida de competir pelas regras anteriores. Uma delas impedia mulheres casadas e outra limitava a idade da misses a até 28 anos. Esses impedimentos foram derrubados com a nova gestão, que exige apenas que a competidora seja maior de 18 anos.
Disse [para mim mesma] que era minha vez, me inscrevi, participei e ganhei. Tenho uma sensação de gratidão muito forte pela Itália, porque é o país que me acolheu e se tornou minha casa. Sou a primeira da família a retomar essas origens [italianas]. Glelany Cavalcante, Miss Itália
Caso ela vença o Miss Universo, essa será a primeira vez que a Itália ganhará o título. O Brasil já venceu em 1963, com Ieda Maria Vargas, e em 1968, com Martha Vasconcellos. Por representar outro país, uma possível vitória de Glelany não poderia entrar na contagem brasileira.
A final do concurso acontecerá neste sábado (16), na Cidade do México, e será transmitida no canal Telemundo no YouTube, a partir das 23h (horário de Brasília).
Da Bahia à Itália
Glelany mora na Itália há dez anos e tudo começou graças a sua carreira de modelo. Ela nasceu e viveu até os 14 anos em Feira de Santana, depois morou em Brasília, onde iniciou a carreira internacional como modelo. A Itália foi sua primeira parada no exterior.
"Acabei ficando na Itália porque foi um mercado que funcionou muito para mim. Também me apaixonei pelo país". Glelany continua: "Chegando na Itália eu não tive a sensação de chegar em um lugar novo, mas senti uma conexão muito forte como se fosse um lugar que sempre me pertenceu e eu estivesse voltando".
Com pouco tempo de residência, ela conheceu o então namorado, hoje marido, que é italiano. Os dois são casados há sete anos e a miss está prestes a se formar em comunicação publicitária na Universidade para Estrangeiros de Perugia, instituição italiana localizada na região central do país.
Glelany diz que é bisneta de italianos da Toscana. "Brasil e Itália têm uma ligação muito forte. Neste ano, comemoramos 150 anos da imigração italiana no Brasil. Poder ser a representação dessa união de duas nações tão maravilhosas é uma satisfação muito grande, principalmente nesse momento em que a gente vê e vive muitos conflitos entre nações".
Glelany usa o multiculturalismo como bandeira na busca pelo Miss Universo. Apesar disso, ela também já foi vítima de ataques xenofóbicos após ser eleita Miss Itália. Ela teve, inclusive, seu seu sotaque questionado.
Sofri, sim, xenofobia de uma minoria na Itália, mas foquei as pessoas que me ajudaram e apoiaram o meu sonho. Isso me deu mais força e demonstrou o quão necessário é a minha representação e o que estou fazendo. O que usaram para me atacar se tornou uma motivação maior.
Duas Cavalcantes
Curiosamente, as duas brasileiras dividem quarto no Miss Universo. Luana Cavalcante afirma que se conectou muito com a colega: "Nos encontrarmos aqui foi uma obra do universo. Nos conectamos desde o primeiro contato que tivemos, ainda por telefone, e em 15 dias nos tornamos especiais e importantes uma para a outra. É um encontro de almas brasileiras".
Glelany também não poupa elogios à colega. "A Luana tem uma autoestima contagiante. Desde que estou com ela estou mais confiante comigo mesma. Espero poder transmitir, na mesma proporção, coisas boas para ela. Somos diferentes, mas a gente se respeita, se compensa e se ajuda muito. Já ganhei uma irmã de coração".
A conexão das duas Cavalcantes vai além do Miss Universo: "Ela conversa com minha família, eu com a família dela. Minha mãe adora a Luana, o filhinho dela, o Pedro, me adorou. Não vejo a hora de a gente fazer esse encontro de famílias, seja no Brasil ou na Itália", deseja Glelany.
Tenho certeza que vou levar a Luana para a vida. Acredito que nada é por acaso, tenho certeza que Deus e o destino têm algo de muito especial reservado para nós. Esse encontro não foi por acaso: quem sabe nós duas de mãos dadas no final do Miss Universo? Glelany Cavalcante, Miss Universo Itália 2024