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Ligação 'oculta': cientistas desvendam posição de 31 pirâmides do Egito

Pirâmides de Gizé, no Egito - Getty Images/iStockphoto
Pirâmides de Gizé, no Egito Imagem: Getty Images/iStockphoto
do UOL

Colaboração para Nossa

15/11/2024 05h30

Cientistas liderados pela professora de ciências da terra e do oceano Eman Ghoneim, da Universidade da Carolina do Norte em Wilmington (EUA), descobriram a existência de uma conexão entre 31 pirâmides no Egito, entre elas a famosa Grande Pirâmide de Gizé, uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Em um estudo publicado na revista científica Communications Earth & Environment, que incluiu análises de imagens via satélite, pesquisas geofísicas e testes de amostras de sedimentos, o grupo de experts chegou à conclusão que a região hoje desértica era um antigo braço do rio Nilo de pouco mais de 64 km —eles propõem rebatizar a área para Ahramat, que significa "pirâmides" em árabe.

Eman Ghoneim estudando a topografia do braço Ahramat do Nilo em frente à Pirâmide de Gizé - Divulgação/Universidade da Carolina do Norte - Divulgação/Universidade da Carolina do Norte
Eman Ghoneim estudando a topografia do braço Ahramat do Nilo em frente à Pirâmide de Gizé
Imagem: Divulgação/Universidade da Carolina do Norte

O campo de pirâmides entre Gizé e Lisht teria sido construído durante um período de mil anos —acredita-se que os trabalhos começaram há cerca de 4.700 anos. Mas, naquela época, o Nilo teria um fluxo muito mais intenso e diversos braços a mais do que aqueles conhecidos hoje.

Há cerca de 4.200 anos, iniciou-se um enorme processo de seca neste braço e, com o acúmulo de areia trazida pelos ventos durante um longo período, o leito acabou assoreado.

Ou seja, as pirâmides não foram construídas em uma porção inabitável do deserto do Saara originalmente —a paisagem acabou morrendo, mas elas perduraram.

A equipe de pesquisadores da Carolina do Norte organizando amostras coletadas do solo na região do antigo braço do Nilo - Divulgação/Universidade da Carolina do Norte - Divulgação/Universidade da Carolina do Norte
A equipe de pesquisadores da Carolina do Norte organizando amostras coletadas do solo na região do antigo braço do Nilo
Imagem: Divulgação/Universidade da Carolina do Norte

Ligação por água

Diante destas novas evidências, o time da Carolina do Norte conseguiu responder não só a uma pergunta que perdurava, mas parcialmente esclarecer um mistério que desperta a curiosidade das pessoas há milênios —como as pirâmides foram construídas ali?

Apesar de hoje desértico, o campo das pirâmides fica próximo a Mênfis, a antiga capital do Egito na era dos faraós. Sobrepondo ao mapa o novo braço do Nilo encontrado, fica claro que as águas ligavam as pirâmides à cidade.

Além disso, diversas delas tinham túneis e passagens que as ligavam ao leito em Ahramat, o que sugere que as ligações com as águas também serviam para transportar materiais de construção.

O mapa elaborado com as conclusões do estudo aponta onde ficava o antigo braço do Nilo que permitiu a construção das pirâmides - Reprodução/Nature - Reprodução/Nature
O mapa elaborado com as conclusões do estudo aponta onde ficava o antigo braço do Nilo que permitiu a construção das pirâmides
Imagem: Reprodução/Nature

Segundo essa teoria, os antigos egípcios, portanto, não arrastaram aqueles imensos blocos de pedra pelo deserto para realizar suas obras, mas navegaram com eles para uma região que era fértil em seu tempo —cortada por uma "artéria cultural" (como os estudiosos apelidaram o Nilo) e ao redor da qual a civilização egípcia se desenvolveu.

Muitos de nós que somos interessados no Egito Antigo estamos cientes que os egípcios deveriam ter usado uma hidrovia para construir seus monumentos enormes, como as pirâmides e os templos no vale [do Nilo], mas ninguém tinha certeza da localização, do formato, do tamanho ou proximidade deste megacanal ao local das pirâmides de verdade. Nossa pesquisa oferece o primeiro mapa de um dos principais antigos braços do Nilo em uma escala tão grande e o conecta com os maiores campos de pirâmides no Egito.
Eman Ghoneim, líder da pesquisa, em comunicado à imprensa.

Este mapeamento também ajuda a compreender como a escolha do local de novas pirâmides foi mudando ao longo de séculos.

"O curso da água e seu volume mudaram com o tempo, então faraós da quarta dinastia tiveram de fazer escolhas diferentes do que aqueles da 12ª dinastia. A descoberta me lembrou da íntima conexão entre geografia, clima, ambiente e comportamento humano", comentou à AFP a coautora do trabalho, Suzanne Onstine, da Universidade de Memphis, nos EUA.

Ghoneim e seus colegas durante os trabalhos de campo para confirmar a localização do antigo braço do Nilo - Divulgação/Universidade da Carolina do Norte - Divulgação/Universidade da Carolina do Norte
Ghoneim e seus colegas durante os trabalhos de campo para confirmar a localização do antigo braço do Nilo
Imagem: Divulgação/Universidade da Carolina do Norte

Os pesquisadores da Carolina do Norte defendem que os trabalhos continuem para priorizar os locais de futuras escavações e proteger a cultura egípcia.

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