Bate-Bola? Entenda o movimento carnavalesco presente em 'Volta Por Cima'
Movimento cultural periférico do Rio de Janeiro, o Bate-Bola ganhará destaque na trama de "Volta Por Cima" (Globo). Na novela, Jão (Fabrício Boliveira) e Sidney (Adanilo) comandam um desses grupos que fazem parte da celebração do Carnaval carioca.
O que é o Bate-Bola
Parte da infância da autora Cláudia Souto, o Bate-Bola teve grande força nos subúrbios do Rio de Janeiro durante a década de 1970. Nascida na Tijuca, a responsável por "Volta Por Cima" acompanhou grupos bate-boleiros na zona norte do Rio. "Quando vimos que a novela ia atravessar o Carnaval, pensamos em mostrar um pouco dessa cultura, que ainda não tinha sido representada", explicou.
Costume transmitido de geração em geração, muitos acreditam que esse movimento teve início no século 10. Durante a colonização portuguesa, as roupas europeias chamativas se transformaram em fantasias coloridas e vibrantes, usadas como forma de protesto pelos povos periféricos.
No início, os grupos saiam pelas ruas visando uma disputa territorial. Moradores de um bairro enfrentavam os de outro, para impor poder, dominância e respeito. "Hoje em dia é muito mais amigável, mas já teve uma época muito marginalizada, de muita violência, com disputas de território", conta Vanessa Amorim, líder do grupo Brilhetes de Anchieta.
Com vestes que lembram palhaços, muitos saiam batendo bexigas de bois ou de porcos pelo chão. Isso fez com que, até hoje, muitas pessoas se recordem com medo dos costumes Bate-Bola.
Bate-Bola na atualidade
Ainda que existam grupos que continuam usando do Bate-Bola para dominar territórios, esse já não é mais o foco do movimento. Após passarem o ano inteiro preparando suas fantasias, os bate-boleiros saem na sexta-feira de Carnaval para brincar e cantar seus gritos de guerra.
Ao invés das marchinhas de Carnaval, são entoadas letras de rap, que são personalizadas para cada grupo. "Cada um tem sua identidade, sua música. Ou é um rap ostentação, ou um rap para provocar outra turma", explica um dos responsáveis por divulgar a cultura Bate-Bola, que não quis se identificar.
Hoje, as bolas já não são mais feitas com bexigas de animais, mas, sim, plástico. Foi esse item que inspirou o nome da manifestação cultural, por conta do barulho típico das bolas sendo batidas contra o chão.
Entre outros objetos que fazem parte dessa cultura, estão bandeira, sombrinha e leque, pirulito, capa, boneco, dentre outros. Cada grupo é identificado por algum desses adereços.
Nesses grupos de Bate-Bola, todo os componentes se vestem da mesma forma, com máscaras e vestimentas que os tornam irreconhecíveis. "Faz parte da tradição ser aquela figura que amedronta, pela máscara e pelo mistérios de você não falar com sua própria voz", ainda explica a Vanessa Amorim.
A cultura em si é muito marginalizada. Por ser de uma galera que, a grande maioria, é periférica, vem de favelas, são pessoas negras... ainda mais as mulheres, que ficam sempre para trás nesses assuntos. Vanessa Amorim para Splash
Patrimônio Cultural Carioca
Em 2012, o Bate-Bola se tornou Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial. Líder das Brilhetes de Anchieta, grupo criado em 2013, Vanessa Amorim é uma das pessoas que segue lutando para manter essa tradição viva.
Após conhecer o Bate-Bola por meio de seu sogro e seu marido, a carioca se apaixonou pela cultura e, em 2019, usou sua primeira fantasia. Antes, a participação de uma mulher neste movimento era algo inimaginável, por conta do ambiente machista e agressivo.
Enquanto se preparam para o Carnaval, Vanessa conta que esses grupos costumam se unir em outras ocasiões em prol da comunidade. Além de oficinas, peças e apresentações, os componentes ainda se reúnem em ações sociais.
Tem várias ações de Dia das Crianças, Dia das Mães, Natal. A galera se solidariza muito no inverno com a Campanha do Agasalho. Quem é dessa cultura, fora do Carnaval, trabalha para trazer maior conforto e acesso para a comunidade. Vanessa Amorim