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Globo usa número de seguidores de atores para vender patrocínio nas novelas

Maísa interpreta Bia em "Garota do Momento" - Fábio Rocha/Globo
Maísa interpreta Bia em 'Garota do Momento' Imagem: Fábio Rocha/Globo
do UOL

De Splash, no Rio

01/11/2024 05h30

Além do desempenho das novelas no Ibope, a Globo também usa os números das redes sociais para vender patrocínio e anúncios em suas tramas. Splash teve acesso ao plano comercial da emissora para 2025, no qual também destaca os números dos atores com mais seguidores.

Para vender a novela das 9, "Mania de Você", a emissora destaca os números milionários dos protagonistas nas redes sociais. Os destaques são: Agatha Moreira (10 milhões de seguidores nas redes sociais), Chay Suede (mais de 6 milhões), Nicolas Prattes (mais de 4 milhões) e Gabz (cerca de 700 mil).

Ao divulgar a próxima novela das 6, "Garota do Momento" para o mercado publicitário, a emissora abre o leque e expõe não só os protagonistas. "Os talentos Globo acumulam milhões de seguidores nas redes sociais e possuem fit com os mais diversos segmentos", diz o documento.

Maisa é o grande destaque da trama que estreia na segunda-feira (4), com mais de 48 milhões de seguidores apenas no Instagram. Emissora ainda destaca os 14 milhões de fãs da atriz no Facebook, 13 milhões no X, 19,9 milhões no TikTok e 5,7 milhões no YouTube, além de associá-la a diferentes nichos: Mídia & Notícias, Moda & Estilo, Comidas & Bebidas, Programas de TV, Beleza e Esporte & Fitness. É a atriz mais detalhada no plano comercial.

Outros nomes também aparecem, como Lilia Cabral (3,8 milhões de seguidores no Instagram), Fábio Assunção (2,8 milhões no Instagram), Pedro Novaes (mais de 500 mil somando Instagram e TikTok) e Duda Santos (mais de 400 mil somando Instagram e TikTok).

A faixa das 7, que exibe atualmente "Volta por Cima", é a única que não destrincha os números de seus atores no plano comercial. A trama de Claudia Souto é protagonizada por Jéssica Ellen e Fabricio Boliveira.

Influência: tendências do mercado

Personalidades da TV sempre foram influenciadores, apesar de ser uma palavra popularizada recentemente, pontua Fátima Pissarra, fundadora e CEO da Mynd em entrevista a Splash. Uma personagem de novela, por exemplo, poderia influenciar a compra de um brinco —o que acontece atualmente nas redes "de forma mais abrangente e real".

As pessoas querem consumir o que o influenciador está comendo no seu café da manhã, querem ter o mesmo carro ou, até mesmo, visitar os mesmos lugares. O mais importante é que a conversa seja a mais autêntica possível, pois o público consegue entender a diferença da vida real e da personagem.

Fátima ainda explica: nem sempre o influenciador ou artista com o maior número de seguidores vai vender mais o produto. Com o boom das redes sociais, o número de seguidores nas plataformas digitais sempre foi uma forma de identificar quem era mais famoso, mas as marcas já entenderam que nem sempre quem tem o maior número de seguidores vende mais.

"Tudo depende da estratégia da marca. Se ela quiser fazer um reforço de imagem, talvez, o influenciador com o maior número de seguidores seja melhor, pois a mensagem vai chegar em mais pessoas. Agora, se ela quer vender um produto específico, um influenciador especializado, mais de nicho aquele assunto, pode ser a melhor alternativa".

Polêmica: seguidores x talento

O assunto, por outro lado, gera preocupação em parte da classe artística, opina Hugo Gross, presidente do SATED-RJ (sindicato dos artistas do Rio de Janeiro). Ele diz que a TV Globo é uma empresa privada e tem o direto de elaborar o plano que preferir, mas acredita que estratégia reforça escalações baseadas em números e, não, talento.

Tem que combater essa história de que você precisa ter seguidor para trabalhar como ator. Até hoje não temos comprovado que o ibope das novelas melhoraram por conta de seguidores, dito é 'Travessia', que foi um investimento enorme na Jade Picon, que não era atriz. O SATED cedeu uma autorização específica para o determinado produto, e não teve sucesso... O que manda deve ser o talento, não é o número de seguidor. Hugo Gross

Ele pontua ainda que autores, no geral, não concordam com essa estratégia porque "eles escrevem pensando em um talento para desempenhar seus textos". Splash entrou em contato com a Globo para saber se a emissora quer comentar a situação, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.

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