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Paixão de brasileiros por jogos de luta traz estúdios de games a BGS 2024

Participante experimenta jogo na Brasil Game Show - Birth Filmes
Participante experimenta jogo na Brasil Game Show Imagem: Birth Filmes
do UOL

Arthur Eloi

Colaboração para Splash, em São Paulo

21/10/2024 05h30

Basta abrir o Instagram de qualquer artista internacional para se deparar com centenas de "Come to Brazil" nos comentários. Quando os brasileiros amam o trabalho de alguém, querem a pessoa em nossa terra o mais rápido o possível. Durante o Brasil Game Show 2024, alguns estúdios de games de luta perceberam o mesmo. Splash marcou presença na 15ª edição do evento, que aconteceu em São Paulo, entre os dias 9 e 13 de outubro.

A paixão brasileira por jogos de luta, porém, é muito mais antiga. Esse carinho surgiu nas décadas de 1980 e 1990, nos movimentados fliperamas, e criou toda uma geração de entusiastas de "The King of Fighters", "Street Fighter", "Mortal Kombat", e muitos outros.

No evento, três representantes de títulos distintos deram as caras por um motivo em comum: seus jogos são bastante jogados por brasileiros. No caso de "Brawlhalla", game de luta gratuito da Ubisoft, o fato veio como surpresa.

Nosso 9º aniversário é em novembro, e a comunidade brasileira esteve com a gente e cresceu conosco esse tempo todo. O campeão do nosso mundial do ano passado é brasileiro, também. O Brasil é um lugar bem grande para 'Brawlhalla'. Joshua Kenneth, gerente de marca do game

Para agradar essa enorme parcela do público, o jogo até recebeu personagem brasileira, com a chegada da lutadora/dançarina Vivi, no início de 2024. "Tivemos reações muito positivas, até mesmo antes de anunciá-la ao mundo", relembrou o gerente de marca. "Mostramos a personagem para os funcionários do estúdio brasileiro da Ubisoft, para eles nos dizerem se estava tudo certo, e todos ficaram muito contentes e animados. Alguém até me falou: 'Eu conheço umas cinco Vivis na vida real, isso é perfeito!'."

"Após o lançamento dela, alguns desenvolvedores até ganharam aulas de capoeira em São Paulo", contou, aos risos. "Me pareceu super divertido, queria muito ter ido e fiquei com inveja vendo as fotos que me mandaram."

A conexão entre gamers e otakus

Quem teve uma experiência parecida com a de Joshua Kenneth foi o japonês Minoru Kidooka, fundador e CEO da Arc System Works. A desenvolvedora está na ativa desde a época do Master System, mas hoje é mais conhecida por jogos de luta com estilo de anime, seja aqueles que adaptam séries, como "Dragon Ball" e "Hunter x Hunter", ou então projetos originais, como "Guilty Gear".

Faz tempo que sabíamos que o Brasil tem uma comunidade muito forte e vibrante de jogos de luta, desde os anos 1990. Mas com a Arc System Works sendo uma empresa relativamente pequena, e meio longe daqui, sempre quisemos vir, mas nunca tivemos a oportunidade. Finalmente conseguimos! Minoru Kidooka, através de um tradutor

Muito simpático, o senhor japonês se surpreendeu ao ser tratado como celebridade no Brasil: "Não me pedem autógrafos nem no Japão! Foi uma sensação incrível vir aqui e conhecer todos os fãs. Sentimos uma recepção muito calorosa", comemorou, ainda que tomado pela surpresa da situação. "Fico pensando se as pessoas não iriam preferir receber autógrafos de Daisuke [Ishiwatari, criador de "Guilty Gear"] em vez de alguém como eu. Da próxima vez, vamos nos preparar e trazer alguém mais bonito."

Kidooka quis presentear os jornalistas com quem conversou, e na busca por lojas de São Paulo que vendessem doces japoneses, se deparou com a enorme difusão da cultura japonesa no país:

Antes de vir ao evento, nós estávamos pelo bairro japonês —Liberdade, certo?— e vimos todas as lojas temáticas, aquelas com estatuetas de personagens de anime e afins, e elas estavam lotadas de brasileiros. Vimos que os brasileiros, realmente, amam anime e cultura japonesa. Ver a todos aqui jogando as demonstrações dos jogos [no evento] e levando a sério é muito legal! Minoru Kidooka

Agora que entende o apelo dos jogos da Arc System Works no Brasil, Minoru Kidooka prometeu estreitar as relações com a comunidade do país, começando por uma tradução em português para "Guilty Gear Strive", de 2021. "Todos nos conhecem tão bem que sinto que é a nossa hora conhecermos melhor vocês", falou. "Acreditamos que isso será um ponto de partida, o início da nossa relação com a base de fãs daqui."

Preço brasileiro

Um dos estandes mais movimentados do evento foi de um jogo de luta. Filas gigantescas se formaram para tirar umas partidas no vindouro "Fatal Fury: City of the Wolves", novo game da lendária japonesa SNK. Apesar da espera considerável, o público aproveitou cada segundo com o controle nas mãos, segundo Maxx Clark, gerente de marketing da empresa.

"Os fãs daqui estão curtindo juntos, rindo e se divertindo [nas estações], tenho visto só positividade", falou a Splash. "Há tanta gente apaixonada no Brasil que compensou o voo de 25 horas que peguei para vir. Amei como eu fui recebido."

Nascido na Califórnia, Clark mora em Tóquio, no Japão. Mas, mesmo morando no berço dos jogos de luta, a dedicação dos jogadores brasileiros conquistou o executivo:

Amamos os nossos jogadores do mundo todo, então não quero comparar muito, mas posso dizer que os fãs brasileiros são muito animados e apaixonados pelos nossos jogos. As pessoas aqui querem tirar fotos com a gente, falar sobre os jogos, mostrar camisetas e cosplays. É uma avalanche de positividade! Valeu muito a pena virmos para a BGS. Maxx Clark

O novo "Fatal Fury" retoma a franquia de 25 anos de hiato. Nesse tempo, a derivada "The King of Fighters" carregou o legado, se tornando especialmente gigante no Brasil e América Latina. Sabendo desse carinho, a empresa quer ouvir dos fãs da região sobre o tópico mais sensível: o preço.

Acontece que "City of the Wolves" só será vendido em edição especial, que já traz a primeira leva de lutadores adicionais. Por conta disso, o valor nos consoles é de R$ 299, chegando a R$ 324 no PC. Clark disse que os canais da empresa estão abertos para quem quiser discutir soluções: "Aos jogadores, fãs e influencers que tiverem feedbacks sobre qual seria o 'preço correto', mandem para a gente por email ou redes sociais", pediu. "Seria ótimo termos algumas impressões sobre esse tópico, então nos informem de qualquer comentário a respeito."

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