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'Descobri câncer de mama aos 29 anos no melhor momento da minha vida'

"O fato de ter que fazer uma mastectomia sem ter tido filho, sem ter amamentado, me assustou na época, chorei bastante", diz Carolina Magalhães   - Reprodução
"O fato de ter que fazer uma mastectomia sem ter tido filho, sem ter amamentado, me assustou na época, chorei bastante', diz Carolina Magalhães Imagem: Reprodução
do UOL

Hysa Conrado,

Colaboração para Universa

18/10/2024 05h30

Depois de tratar um nódulo benigno aos 20 anos, a designer Carolina Magalhães desenvolveu o hábito de vez ou outra apalpar as mamas em busca de qualquer alteração. Aos 29, encontrou algo que não sentia antes no seios e decidiu procurar um médico. "Fui totalmente despreocupada para fazer o exame, em nenhum momento eu pensava sobre câncer", conta.

Mas o diagnóstico não só foi positivo para a doença, como ela precisou fazer uma mastectomia antes de iniciar o tratamento.

Recebi o diagnóstico no auge da juventude madura, com a carreira indo bem, com planos de casar e engravidar, vivendo talvez o melhor momento da minha vida.Carolina Magalhães, designer

A cirurgia para retirada da mama foi necessária porque, além do nódulo estar muito grande, as primeiras biópsias deram inconclusivas sobre a real situação de Carolina. Não é comum a ocorrência de câncer de mama em mulheres mais jovens, com menos de 40 anos, mas a condição da designer exigia uma atenção extra.

"O fato de ter que fazer uma mastectomia sem ter tido filho, sem ter amamentado, me assustou na época, chorei bastante. Mas eu fiz a reconstituição imediata da mama, então não tive a surpresa de acordar sem ela. O que me marcou foi a perda da sensibilidade, o inchaço, as cicatrizes. Hoje eu já levo com mais tranquilidade", afirma.

O câncer não é uma sentença

Agora, aos 37 anos, Carolina é considerada uma ex-paciente oncológica, mas ela descreve essa trajetória como uma verdadeira montanha-russa.

Após enfrentar também uma suspeita de câncer na tireoide e passar pela mastectomia, ela teve de lidar com uma recidiva, que é quando a doença reaparece. O tumor voltou para a mesma mama e ela precisou fazer quimioterapia, uma nova cirurgia, radioterapia e hormonioterapia durante uma jornada que durou oito anos.

Apesar disso, o que ela mais ouviu ao longo do percurso foi a frase "mas nem parece que você tem câncer", que acabou virando título do seu livro.

Eu não estava deitada na cama, estava vivendo a minha vida, trabalhando. Sempre encarei de forma positiva porque eu sou assim, mas as pessoas imaginavam que a careca era por outra coisa, por estar na moda ou por minha relação com o candomblé [raspar a cabeça faz parte da tradição].Carolina Magalhães, designer

O estigma faz pensar que a doença é uma sentença contra a vida e o bem-estar, mas não é bem assim. As possibilidades de tratamento existentes viabilizam desfechos otimistas para as pacientes e é sobre isso que Carolina tem falado em palestras, para seus milhares de seguidores no Instagram e no projeto "Se Cuida Preta", onde fala sobre saúde e autocuidado para mulheres negras e a população LGBTQIA+.

"A doença mudou muito a minha visão de como me encaixo na sociedade, de como eu posso contribuir a partir da minha experiência e do meu conhecimento, e é isso que eu tenho buscado hoje", afirma. Carolina também realizou o desejo de engravidar após o fim do tratamento hormonal. Ela e a companheira Geo Nunes são mães de Guilherme, de dois anos.

Fatores de risco para mulheres jovens

Apesar de ser uma doença com predominância em mulheres com mais de 40 anos, o câncer de mama também aparece para aquelas que são mais jovens e pode ser mais grave nesses casos, segundo o mastologista Alexandre Pupo, membro do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês.

"A grande diferença é a agressividade e a velocidade de crescimento, o que favorece a formação de metástase [quando as células cancerígenas se espalham]. O câncer na mulher jovem tem que ser visto com mais cuidado e, sempre que possível, tentar a identificação precoce para permitir o melhor tratamento", afirma o especialista.

Segundo Pupo, o principal fator de risco para que a doença se desenvolva em mulheres mais jovens é a predisposição genética, quando há casos de câncer na família, principalmente de mama, ovário e intestino. Carolina só descobriu após o diagnóstico que duas tias-avós também haviam lidado com a enfermidade.

"Também há risco para as pacientes que tiveram linfoma quando jovens e receberam doses de radiação para tratar", explica o mastologista.

A realização da mamografia como exame preventivo é recomendada para mulheres acima de 40 anos, antes disso só para aquelas que têm a possibilidade de uma herança genética para o câncer.

"Abaixo dessa idade, é importante que a mulher tenha a consciência do autoexame e o faça pelo menos duas vezes ao ano, com uma apalpação de toda a glândula mamária para ver se identifica algum nódulo, algum endurecimento ou outra coisa diferente que a alerta para ir ao médico", orienta o especialista.

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