Topo
Entretenimento

OPINIÃO

Carisma e nova música: por que vale a pena rever show de Paul McCartney

Paul McCartney em show no Allianz, em São Paulo, nesta terça-feira (15) - Marcos Hermes
Paul McCartney em show no Allianz, em São Paulo, nesta terça-feira (15) Imagem: Marcos Hermes
do UOL

Adriana Del Ré

Colaboração para Splash, em São Paulo

16/10/2024 10h13

Paul McCartney retornou nesta terça-feira, 15, com sua turnê Got Back ao Allianz Parque, em São Paulo, onde se apresentou para uma plateia lotada, com 47 mil pessoas. É basicamente o mesmo show que ele trouxe ao Brasil no ano passado e também não foge muito do formato das turnês anteriores que passaram pelo país.

Então, por que ainda vale a pena assistir a Paul McCartney, que segue um roteiro já conhecido de show, incluindo repertório e gracejos em português? Primeiro porque se trata simplesmente do maior Beatle vivo - o outro é Ringo Starr, mas o baterista não tem a mesma popularidade e o mesmo carisma de McCartney. Paul McCartney é o símbolo, em carne e osso, de um capítulo importante da história da música mundial.

Aos 82 anos, o lendário músico inglês exala vitalidade, mas não se sabe em que momento ele vai anunciar sua aposentaria dos palcos. Então, vê-lo em ação sempre pode ser a última vez. Ele ainda causa grande comoção na plateia, inclusive em fãs mais jovens, a exemplo de um rapaz próximo ao palco que começou a pular logo nos primeiros acordes de 'A Hard Day's Night', um dos grandes sucessos dos Beatles, para, minutos depois, cair no choro de emoção.

Além disso, McCartney investe em um setlist que ativa muitas memórias afetivas dos fãs, desde Beatles, passando por sua fase na banda Wings, ao lado da mulher Linda, que morreu em 1998, até a carreira solo. E, neste ano, ele incluiu no repertório 'Now and Then', música póstuma dos Beatles, lançada no ano passado, com ajuda de inteligência artificial. Sem contar que ele se mostra um ídolo acessível, ao se esforçar para falar algumas palavras em português, interagir com o público a todo momento e até levar fãs para o palco.

Com pontualidade britânica, o show teve início às 20h, com o já tradicional clipe nos telões que faz uma espécie de retrospectiva da carreira do músico, um recurso usado em suas últimas turnês. Meia hora depois, McCartney, canhoto, com seu baixo em punho, subiu ao palco com sua banda, com a pedrada Beatle 'A Hard Day's Night', seguida por 'Junior's Farm', da Wings.

Depois da segunda canção da noite é que McCartney passa a conversar com o público. "E aí, São Paulo? Boa noite, Brasil", arrisca, em português. É nessa hora, que, para além de sua obra, ele passa a cativar o público com essa tentativa de comunicação no idioma local. "Esta noite vou tentar falar um pouquinho de português", avisa.

Na construção do repertório, McCartney promove um zigue-zague cronológico. De 'Letting Go', outra da Wings, vai para 'Drive My Car' e 'Got To Get You Into My Life', ambas dos Beatles, e 'Come On To Me' (do álbum 'Egypt Station', de 2018). Solta um "o pai tá on", para delírio da plateia, e parte para 'Let Me Roll It', da Wings, e citação à 'Foxy Lady', de Jimi Hendrix, que McCartney diz ter conhecido pessoalmente nos anos 1960 e que era "um cara bonito".

Emenda em 'Getting Better', da era Beatles, assume o piano em 'Let 'Em In', da Wings, e dedica 'My Valentine' para a esposa Nancy. Relembra, ainda, 'Jet', 'Band on The Run' e 'Live and Let Die', grandes sucessos da Wings.

Todas as fases têm sua importância na carreira de McCartney, mas inevitavelmente o set dedicado aos Beatles é o mais festejado pelo público e, de sua histórica banda, ele incluiu também canções como 'I've Just Seen A Face', 'Lady Madonna', 'Blackbird', 'Get Back', 'Let It Be', 'Hey Jude', 'Ob-La-Di Ob-La-Da', 'Love Me Do', 'Birthday', 'Sgt Pepper Lonely Hearts Club Band/Helter Skelter', boa parte delas acompanhada em coro pela plateia.

Com 'In Spite Of All The Danger', ele volta no tempo e lembra da primeira canção que os Beatles gravaram. Ainda dessa seara, é tocante ouvir 'Now and Then', pela primeira vez, ao vivo. 'Here Today', que ele endereça ao "mano" John Lennon, e "Something", em tributo ao "parça" George Harrison, não são novidades no repertório, mas seguem emocionando. Ele retoma Lennon em 'I've Got a Feeling', num dueto virtual.

São 2h30 de show, em que McCartney encara uma verdadeira maratona, sem paradas - nem mesmo para o momento do bis -, e, multi-instrumentista que é, se reveza no baixo, piano, violão, banjo e ukulele. Uma experiência musical que vale a pena ser vista - e revista.

No Allianz Parque, em São Paulo, ele faz show também nesta quarta-feira, 16, com ingressos ainda disponíveis, e no sábado, dia 19, no Ressacada, em Florianópolis.

Entretenimento