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The Mission faz show trevoso para multidão de góticos saudosos

Apresentação da banda Mission, em São Paulo - Gabriela Franco/UOL
Apresentação da banda Mission, em São Paulo Imagem: Gabriela Franco/UOL
do UOL

Gabriela Franco

Colaboração para Splash, em São Paulo

15/10/2024 12h00

O frio que rapidamente se abateu sobre São Paulo no final de tarde do último domingo (13) foi o parceiro ideal para os ingleses do The Mission —que retornaram ao Brasil para uma apresentação na medida certa para uma pequena, porém empolgada, multidão de góticos e saudosos dos anos 1980 no intimista Carioca Club. O clima acabou ficando soturno na medida certa, o que não tirou uma boa dose de amplos sorrisos no rosto de um público essencialmente acima dos 30/40 anos.

A abertura ficou a cargo dos americanos do Christian Death, grupo formado pelo lendário Rozz Williams, figura mítica da cena gótica que faleceu em 2022. Tal qual o Mission, veteranos e igualmente vítimas de um sem-número de mudanças de formação do final dos anos 1980 até aqui. Com o palco montado para lembrar praticamente um final de tarde fúnebre no cemitério, com direito a até flores nos pedestais dos microfones, eles desfilaram o seu som mais pesado, de guitarras ácidas entre o punk e o metal, tentando aquecer a audiência ansiosa pela atração principal. Não foi tarefa fácil.

Além de clássicos das trevas como "Romeo's Distress" e "Cavity - First Communion", todas com afiadas e diretas críticas à religião, Christian Death encontrou o seu espaço principalmente na empolgante performance de palco da holandesa Maitri Nicolai —que às vezes assume o baixo e, em outras, canta e rouba a cena do atual líder do quarteto, o vocalista Valor Kand, entre movimentações hipnotizantes e bruxescas, brilhando como uma espécie de versão dark de Florence Welch na ótima "Beautiful".

Depois de um final absolutamente abrupto e inesperado, com um "tchau" seco, o palco foi devidamente remontado para o grupo liderado por Wayne Hussey, que abriu as cortinas e iniciou a apresentação pontualmente às 20h, já com o single "Wasteland", levando seus fiéis seguidores ao delírio. Com a voz praticamente intacta desde os anos 1980, ótima extensão, sustentação e alcance de agudos, Hussey estava absolutamente à vontade, sentindo-se em casa (neste caso, literalmente, dada a sua relação com o país) a cada dancinha que fazia com a sua inseparável Fender pendurada no corpo e sem nunca tirar os óculos escuros do rosto.

Mission - Gabriela Franco/UOL - Gabriela Franco/UOL
Apresentação da banda Mission, em São Paulo
Imagem: Gabriela Franco/UOL

O mais interessante é que a sonoridade do combo britânico de fato parece mais vigorosa e hard rock do que o Christian Death, que entre o pós-punk e um proto rock de arena, mas ainda assim a combinação entre ambas para a turnê parece estranhamente fazer sentido.

Como toda boa banda ainda em atividade e, de alguma forma, lançando novos discos, claro que o Mission também experimenta algumas faixas mais recentes no setlist, como é o caso de "Can't See the Ocean for the Rain", de "Another Fall from Grace", seu álbum mais recente, de 2016 (ou seja, nem tão recente assim). A recepção não era, digamos, fria como o clima fora da casa, mas a onda que se movia no público não passava de uma marolinha.

A coisa começava a ganhar corpo, no entanto, aos primeiros acordes de hits como "Like a Child Again" (com o refrão cantado emocionalmente a plenos pulmões, conforme o músico comandava seus fãs como um maestro) e a climática "Afterglow".

Só que, inteligentemente, a banda soube segurar a empolgação até o final, fazendo nada menos do que dois bis, guardando suas armas mais poderosas para o encerramento. No primeiro, além da melancolicamente bela e recente "Swan Song", de 2013, eles entregaram as aguardadíssimas "Butterfly on a Wheel" e "Severina" —esta última, acendendo uma corrente de celulares buscando registrar cada minuto da performance.

Já no segundo bis, se deram ao luxo de explorar dois lados B do final dos anos 1980, "The Crystal Ocean" e "Wake (RSV)", antes do encerramento com a apoteótica "Tower of Strength", apropriadamente dedicada à sua companheira brasileira, Cynthia.

A missão estava mais do que cumprida. E aqueles senhores pareceram tão satisfeitos quanto os outros senhores na plateia, todos devidamente revigorados uns com as energias dos outros. Como sempre deve ser.

O grupo faz sua quarta e última apresentação no Brasil nesta terça-feira (15), em Curitiba, no CWB Hall.

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