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Febre das bets: famosos convivem com riscos e tentações de divulgar apostas

Mercado de apostas online ainda sofre com a ausência de uma regulamentação clara - Reprodução/Instagram
Mercado de apostas online ainda sofre com a ausência de uma regulamentação clara Imagem: Reprodução/Instagram
do UOL

De Splash, em São Paulo

15/10/2024 05h30

Felipe Neto, 36, afirmou que divulgar jogos de azar foi o "maior erro" da vida dele e que não vai usar o dinheiro que ganhou. A afirmação foi feita durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O youtuber, agora crítico à prática, prometeu devolver os ganhos obtidos com a publicidade e também lutar pela proibição das bets.

Arrependimento do influenciador ajuda a ilustrar a crescente controvérsia em torno do tema, que divide opiniões nos mais diferentes setores da sociedade. A polêmica ganhou ainda mais força após a prisão de Deolane Bezerra e a investigação contra Gusttavo Lima por suposto envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro. Os dois negam qualquer ilegalidade.

Fátima Pissarra - Reprodução/UOL  - Reprodução/UOL
Fátima Pissara é empresária
Imagem: Reprodução/UOL

Mercado de apostas online, apesar de toda a popularidade, ainda sofre com a ausência de uma regulamentação clara (e bem estabelecida) no Brasil. "Fala-se muito em um jogo responsável, mas sabemos que nem sempre é assim", alerta Fátima Pissarra, CEO da Mynd8, uma das maiores agências de marketing de influência do país, em conversa com Splash.

Em primeiro lugar, é importante pesquisar a idoneidade e credibilidade da empresa. As consultas oriundas das bets requerem um cuidado redobrado. O histórico de campanhas realizadas, o planejamento de mídia, a avaliação do produto, os participantes de campanhas anteriores, os donos da empresa, a avaliação da empresa no mercado e na mídia, etc. Tudo precisa ser pesquisado minuciosamente. Fátima Pissarra, CEO da Mynd8

Marcus Montenegro - Marcus Montenegro - Foto: Divulgação - Marcus Montenegro - Foto: Divulgação
Marcus Montenegro é fundador de uma das maiores agências do Brasil
Imagem: Marcus Montenegro - Foto: Divulgação

Falta de diretrizes claras coloca em xeque a responsabilidade dos influenciadores. A associação com algumas dessas empresas, em um contexto de incerteza legal, pode trazer consequências negativas para a imagem e a carreira de artistas e influenciadores. É o que avalia Marcus Montenegro, fundador da Montenegro Talents.

O Brasil é um dos países onde a população mais tem se endividado com as bets. Precisamos colocar em prática o artigo 220 da Constituição Federal, que prevê a possibilidade de se criar uma legislação específica para regular publicidade que seja nociva à sociedade e à família, como, por exemplo, o caso da legislação que regula a publicidade de tabaco e bebida alcoólica. Marcus Montenegro, empresário

Os gestores apontam que a principal razão pela qual famosos aceitam fazer publicidade de bets é o alto valor oferecido pelas empresas. "Essas parcerias atraem muitos famosos devido ao volume de dinheiro oferecido, principalmente no momento em que vivemos, onde os cachês de publicidade foram reduzidos de maneira geral em todos os segmentos", completa Fátima Pissarra.

Vozes dissonantes

 Camilla de Lucas - Reprodução/Instagram  - Reprodução/Instagram
Camilla de Lucas é ex-BBB e influenciadora digital
Imagem: Reprodução/Instagram

Enquanto alguns se deixam seduzir pelos altos cachês oferecidos, outros se posicionam contra a prática. É o caso da ex-BBB Camilla de Lucas, que já questionou publicamente a divulgação de jogos.

Alguns influenciadores fazem contratos com algumas casas de apostas. Eles fecham contrato de 3 ou 6 meses e vão receber um valor fixo por mês. Tem uma quantidade certa de stories para postar. Por exemplo, o influenciador tem que postar 15 stories por mês e aí ele recebe tanto. Camilla de Lucas

O influenciador Alex Junior compartilhou em 2023 a decisão de recusar R$ 17 mil mensais para divulgar um site de apostas. À época, o relato deixou claro o dilema moral enfrentado por alguns influenciadores. Ele soma mais de 632 mil seguidores só no Instagram.

Eu não queria ferir as pessoas, não queria destruir. E por mais que esses R$ 17 mil por mês pudessem me ajudar muito no momento em que estou, eu tive que recusar porque não faz parte dos meus princípios e valores. Alex Junior

A polêmica está longe do fim. Na semana passada, o governo federal começou a retirar bets do ar. A interrupção dos serviços começou com o auxílio da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Segundo o Ministério da Fazenda, a medida atinge todas as empresas que não preenchem os requisitos para conquistar a autorização em âmbito nacional ou estadual. A decisão, no entanto, já provocou reações e deve motivar disputas judiciais.

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