Ainda que a produção do Tomorrowland Brasil, que acontece desde sexta-feira (11) em Itu, no interior paulista, tenha divulgado o mesmo número de público do primeiro dia de festival, a sensação é que havia muito mais do que 52 mil pessoas circulando pelos cinco palcos neste sábado (12).
Apesar da sensação de lotação, o que dificultou a circulação, as filas para alimentação e banheiros fluíram bem, e a total ausência de chuva deu aos participantes um sentimento de alívio e um terreno mais convidativo para dançar.
Pelos palcos, vimos ótimas apresentações, especialmente entregas consistentes de DJs mulheres, que ocupam 24% da programação. Ainda que em menor número, elas preencheram horários nobres no line-up, o que fez toda a diferença —de que adianta lotar o evento de nomes femininos e colocá-las sempre nos primeiros horários, tocando para meia dúzia?
Foi assim, logo no início da tarde, quando a belga Amber Broos, do alto de seus 21 anos, sentou a lenha (apelidinho carinhoso para techno pesado) no palco Adscendo Mainstage, demonstrando que nem só de sets comerciais vive a faixa nobre do Tomorrowland Brasil.
A entrada de um som mais conceitual em melhores slots (horários) do festival, além da estreia do palco Core, abertamente um espaço para mais experimentações e profundidade musical, vem ao encontro do amadurecimento da cena eletrônica global, que se espelha também no cenário nacional, puxado pelo sucesso de DJs que não economizam em pesquisa e qualidade em seus sets e produções, caso de nomes que elevaram a barra e padrões, como os brasileiros ANNA, Vintage Culture e Mochakk, todos presentes na escalação do Tomorrowland Brasil —ANNA tocou quinta (10) na festa The Gathering, fechada para os campistas, e sexta (11) no Mainstage, e com Vintage e Mochakk se apresentam neste domingo (13).
"Toquei no palco principal no Tomorrowland da Bélgica este ano, e fiquei muito feliz com a oportunidade que o festival deu para uma mulher brasileira tocando no 'prime time' do palco Mainstage também na edição brasileira. Fiquei muito feliz de ter tido essa oportunidade. Foi incrível, o público foi super receptivo e o festival, apesar de ter chovido, correu muito bem", disse ANNA com exclusividade a Splash.
Alemanha e Brasil
No palco Core, a grande cereja do bolo na noite deste sábado (12) foi o back2back (quando dois DJs tocam juntos) entre a alemã Ellen Allien, antiga conhecida dos brasileiros e um dos ícones do techno mundial, e a paulistana Badsista, um dos nomes que têm representado o som das festas underground de São Paulo pelo mundo afora.
Esta foi a segunda vez que Badsista e Allien se juntaram na cabine e, deixado o peso da estreia para trás, a dupla operou em total sintonia, atacando em diversas frentes: tocaram de acid techno a funk paulista, passando por electro, breaks e tech-house, criando um set de duas horas de ótima curadoria com alto grau de dançabilidade.
Camisa 10 da Seleção
Não muito longe do Core, o palco Tulip estremeceu com a apresentação do paulistano DJ Marky ao cair da tarde. Um dos mais hábeis DJs do planeta, Marky mostrou por que é considerado o DJ dos DJs, o camisa 10 da Seleção. Marky aprontou das suas; tocou com o toca-discos virado de cabeça para baixo, fez scratches e deu uma aula de drum'n'bass para iniciantes e iniciados. A pista de dança respondeu com muita vontade e vimos passinhos dos mais criativos até agora no Tomorrowland —uma das grandes liberdades que o "drumba" proporciona é a total ausência de regras e estilos de coreografias para se dançar esse gênero musical de batidas quebradas e grave no talo.
Fogos e fantasias
O público dá um show à parte no Tomorrowland, seja na Bélgica ou no Brasil. No sábado, as fantasias estavam em alta. Tinha desde Ewoks, os ursinho fictícios da série "Star Wars", duendes, unicórnios, robôs futuristas e muita gente circulando com pouquíssima roupa, algumas embrulhadas apenas em bandeiras de seus países, apesar do friozinho que baixou em Itu depois do entardecer.
Toda a atmosfera de sonho em torno do conceito do Tomorrowland é reforçada por muita tecnologia e cenografia. Os palcos em geral são ricos em telões de led, lasers, canhões de CO2, pirotecnia, papel picado e, a cada final de set, uma queima de fogos de artifício digna dos desfiles da Disney. Fica o pensamento sobre a sustentabilidade que envolve tudo isso, certamente um capítulo que precisa ser levado em conta.