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Para Interpol e PF, facções miram crime digital, 'invisível, sem violência'

Cris Faga/Dragonfly Press
Imagem: Cris Faga/Dragonfly Press
do UOL

De Tilt, em São Paulo

12/10/2024 05h30

O crime organizado está se modernizando. Grandes roubos a banco, com trocas de tiro com a polícia, e tráfico de drogas, que precisa de armamento pesado para acontecer, são dispendiosos.

Agora, facções têm diversificado seus negócios, focando em crimes digitais. Quem diz isso é a Interpol e a Polícia Federal.

Erik Siqueira, chefe da coordenação de repressão a fraudes bancárias da PF, comparou dois crimes recentes numa palestra na ABBC (Associação Brasileira de Bancos), realizada no início de setembro.

Em 29 de agosto de 2021, criminosos do chamado "Novo Cangaço" dominaram a cidade de Araçatuba (SP) para roubar bancos.

De acordo com Siqueira, os criminosos tiveram um investimento de quase R$ 600 mil e causaram um prejuízo na casa dos R$ 7 milhões. "Foi uma ação muito violenta. Teve confronto com a polícia", afirmou.

Em comparação, uma organização criminosa em 2022 causou um prejuízo de R$ 30 milhões com investimento de, "no máximo, R$ 2.000", de acordo com Siqueira, "comprando um kit fraude no Telegram".

"Foi uma ação invisível para o grande público, sem confronto com a polícia e com risco muito baixo para o criminoso. O cara está lá no ar condicionado fazendo fraude."
Erik Siqueira, da PF

A fraude a que ele se refere foi alvo da operação "Saque Antecipado" da PF, que descobriu uma organização que criava contas bancárias em nome de terceiros para receber auxílio emergencial.

Na sequência, o dinheiro era enviado para contas laranjas para ser pulverizado para outras contas.

Em relatório da Interpol sobre ameaças globais, a instituição diz que organizações criminosas da América Latina - como PCC, CV e cartéis mexicanos - estão cada vez mais envolvidas em fraudes financeiras, impulsionadas pela digitalização que ocorreu na pandemia.

A Interpol diz que essas organizações — famosas por de tráfico de drogas, armas e sequestros — estão se beneficiando do fato de fraudes financeiras serem de baixo risco e altamente lucrativas.

"Ferramentas digitais aumentam a escala das operações, garantem o anonimato dos infratores e facilitam a lavagem de dinheiro. Por essa razões, é muito provável que mais organizações criminosas assumam novas empreitadas."
Trecho do relatório "Interpol Global Financial Fraud Assessment" de 2024

"O PCC [Primeiro Comando da Capital] foi a organização que mais investiu em fraudes de auxílio emergencial durante a pandemia. Esses grupos claramente estão de olho em novas formas de obter dinheiro", disse Erik Siqueira.

Fora do Brasil, um dos principais casos é do CJNG (Cartel de Jalisco Nova Geração), do México. Reportagem do jornal The New York Times mostra que a organização criminosa criou centrais de telemarketing para aplicar golpes em cidadãos dos Estados Unidos e do Canadá.

No caso, eles pagavam propinas para funcionários de resorts vazarem informações de idosos. Depois, ligavam para eles oferecendo a compra de seus direitos adquiridos de uso de resort por um valor acima do mercado. O problema é que para a operação ser realizada eram incluídas várias taxas.

Um casal entrevistado pelo jornal diz ter perdido quase US$ 900 mil com o golpe.

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