Pornografia: saiba quais são os prós e contras para sua vida sexual
Segundo estudos conduzidos pela empresa Quantas Pesquisas e Estudos de Mercado a pedido do canal a cabo Sexy Hot, em 2018, no Brasil, há 22 milhões de pessoas que assumem consumir pornografia — 76% são homens e 24%, mulheres.
Em algum momento da vida toda pessoa terá contato com a pornografia, seja de forma voluntária ou não. A maneira de lidar com ela, porém, é o que faz a diferença na experiência sexual.
Enquanto há quem a use como estímulo para esquentar as transas e a masturbação, outros acabam alimentando conceitos "tortos" sobre prazer e performance. Saiba quais são os prós e os contras desse tema tão controverso, cada vez mas acessível e até mesmo banalizado para alguns.
Prós
Estímulo à imaginação
Vídeos e filmes pornôs podem servir como o incentivo que faltava para casais combaterem a monotonia e explorarem outras formas de prazer. Além disso, pode ser uma forma de transpor para as imagens certas fantasias que ficavam só no plano do pensamento.
Maior conhecimento da anatomia
Por ser explícita e proporcionar, inclusive, ângulos bem detalhados e ampliados de certas partes do corpo, a pornografia permite entender como o sexo acontece, de fato, bem como descobrir como tudo —pênis, vagina, ânus, dedos, línguas— funciona na hora H.
Vale lembrar que a masturbação, especialmente a feminina, ainda é tabu para muitas mulheres, o que tem como consequência a falta de informação sobre como são as reações do corpo. E os homens, embora mais "liberados" culturalmente para se tocarem, também têm suas dúvidas.
Quebra de tabus
Visualizar como certa prática acontece —sexo anal, por exemplo— ajuda a se livrar de crenças erradas, ideias repressoras, pudores e vergonhas. É possível, ainda, ganhar uma mentalidade mais aberta e demonstrar maior respeito às diferentes práticas e orientações sexuais.
Compartilhamento de desejos e fantasias com o par
Assistir um filme pornô juntos pode levar muitos casais a perderem o receio de abrir o jogo sobre suas vontades, necessidades e até reclamações. Há homens e mulheres que, embora tenham vida sexual ativa, acreditam que o assunto se esgota na cama, no quarto, e evitam conversar a respeito do que sentem.
A pornografia pode ser a porta de entrada para compartilhar e experimentar fantasias e novidades.
Contras
Objetificação da mulher e machismo
A pornografia, de modo geral, coloca o homem no centro das ações —dentro e fora da tela. Embora materiais com um toque feminista estejam conquistando espaço nos últimos anos, a maior parte do conteúdo ainda coloca a mulher como submissa e disponível aos mandos e desmandos masculinos.
Muitas produções ainda mostram práticas violentas (enforcamentos, estupros, tapas) como se fossem comuns, naturais e, pior, apreciadas.
Ideias equivocadas sobre performance sexual
Os homens costumam ter pênis enormes, sempre rígidos, e demorar uma eternidade para gozar; já as mulheres não se cansam nunca, são gostosérrimas e poliorgásmicas, independente da prática. Como na vida real o cenário é bem diferente, a sensação de inferioridade é marcante para os homens mais inseguros, imaturos e inexperientes.
A pornografia pode causar a sensação amarga — não justificada— de que sua vida sexual é entediante se não for consumida com o mínimo de senso crítico. Em 2016, o psiquiatra Kevin Majeres, pesquisador da Universidade Harvard (EUA), divulgou um estudo que mostra que a pornografia afeta o cérebro masculino, prejudicando a região que os faz diferenciar a realidade da ficção.
Aprendizado deturpado do sexo
Isso acontece principalmente entre pré-adolescentes e adolescentes. Embora muitas famílias se preocupem com a educação sexual de seus filhos, na prática as conversas sobre o tema não costumam fluir de modo tão natural.
A busca por informação fora de casa sempre foi uma constante entre os mais jovens, mas hoje em dia o fácil e precoce acesso à pornografia, principalmente via celular, pode resvalar para comportamentos extremos e até mesmo moralmente complicados. As situações de abuso se tornam mais comuns e o sexo passa a ser usado para a submissão de outros, diferente de ser usado para obtenção e compartilhamento de prazer.
Especialistas americanos, inclusive, têm detectado a triste tendência de que a exposição precoce à pornografia está levando a um número alarmante de agressões sexuais violentas perpetradas por crianças contra outras da mesma idade.
Vício em masturbação e consequente dificuldade de relacionamento
É claro que a masturbação faz parte do contexto, mas se a pessoa passa a se exceder no consumo da pornografia para essa finalidade, algo está errado. Prejuízos à vida profissional e social e dificuldade ou resistência a estabelecer vínculos afetivos devem ser motivo de atenção, pois há um cenário de dependência. Relacionamentos demandam tempo e energia, então o vício é facilitado para quem tem dificuldades de administrar frustrações.
Fontes: Breno Rosostolato, psicólogo, educador sexual e cofundador do projeto de imersão para casais; LovePlan; Carlos Eduardo Carrion, psiquiatra especializado em sexualidade, de Porto Alegre; (RS); Oswaldo Martins Rodrigues Jr., psicólogo, terapeuta sexual e diretor do InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade Humana); e Ricardo Desidério da Silva, educador sexual e sexólogo do programa "Ver Mais" da TV Record Paraná.
*Com matéria publicada em 09/02/2019