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Flip: 'O Brasil foi pensado como um projeto de exclusão', diz Luiz Simas

Mesa de abertura foi conduzido pelo professor e escritor Luiz Antonio Simas -  Rafaela Araújo/Folhapress
Mesa de abertura foi conduzido pelo professor e escritor Luiz Antonio Simas Imagem: Rafaela Araújo/Folhapress
do UOL

De Splash, em Paraty (RJ)

09/10/2024 21h07

As ruas do centro histórico de Paraty (RJ) já estão tomadas pela 22ª Flip. A festa literária começou na noite desta quarta-feira (9) com uma "breve aula" dedicada ao escritor João do Rio, o grande homenageado da edição. O evento de abertura foi conduzido pelo professor e escritor Luiz Antonio Simas.

João do Rio, pseudônimo do jornalista Paulo Barreto, foi um dos cronistas mais relevantes do Brasil no início do século XX. Nascido em 1881, ele dedicou-se ao jornalismo e a crônica para registrar a vida urbana. O autor usou a literatura para explorar diversas características do Rio de Janeiro.

Ele teve um olhar crítico em relação à elite da época, que tentava reproduzir costumes europeus antes mesmo de reconhecer a própria identidade. O trabalho contrastava com o comportamento de outros autores da época, que exaltavam o suposto "progresso" observado do outro lado do oceano.

O país que o jornalista se preocupou em reportar, segundo Luiz Antonio Simas, colocou em prática um projeto de "exclusão, desigualdade e concentração de riqueza". "Nós fomos projetados para excluir. Fomos projetados como um estado colonial que queria que no fim das contas o Brasil fosse o país dos branquelos azedos, como eu, e que atacou permanentemente os corpos não brancos."

O projeto era apagar da formação cultural brasileira qualquer vestígio das culturas não brancas. Ou seja: tudo aquilo que remete às áfricas que pulsam o Brasil, as populações originárias, tem de ser apagado. É isso que explica a lei de vadiagem, que vigora no Rio de Janeiro, que diz que é crime, mas não diz o que é vadiagem. Luiz Antonio Simas, professor

João do Rio - Arquivo - Arquivo
João do Rio, o escritor homenageado da Flip deste ano
Imagem: Arquivo

João do Rio foi um dos pioneiros do jornalismo literário no país. Ele misturava reportagem, ficção, literatura e fatos. "João do Rio, como um dos pioneiros, foi além: registrou a história de uma cidade que se transformava, e não é exagero dizer que ele fez uma etnografia no início do século", contou a curadora da Flip Ana Lima Cecilio.

João do Rio vivia, na sua função de jornalista, entre o fascínio e o temor. Que cidade era essa? E João do Rio transforma o temor em um exercício de investigação. Ele era um sujeito que vivia na encruzilhada da modernidade do Rio de Janeiro [...] Ele temia o desaparecimento de várias profissões. De certa forma, ele imaginava que uma cidade estava morrendo, para que uma outra pudesse nascer. Luiz Antonio Simas

Homenagem também é uma tentativa da organização de recuperar a memória do autor, que foi se perdendo ao longo do tempo e teve o centenário de morte ignorado em 2021, conforme publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo.

22ª Flip

A 22ª Flip acontece de 9 a 13 de outubro, em Paraty, no Rio de Janeiro. Ana Lima Cecílio, curadora da Flip, destacou a importância do trabalho coletivo durante discuso de abertura da festa. Ela também anunciou a exibição de imagens raras do enterro de João do Rio, que morreu em 1921, resultado do trabalho de pesquisa de João Venâncio. "É muito comovente. A gente consegue ter noção do que é uma cidade emocionada com a morte de um escritor", comentou a curadora.

Felipe Neto é um dos destaques da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) 2024. O youtuber participará do debate "como enfrentar o ódio", na sexta-feira (11), ao lado da jornalista Patrícia Campos Mello. A mesa discutirá o "mecanismo do ódio" nas redes sociais e na sociedade, abordando questões como a polarização política e o sistema que se alimenta desse sentimento.

*O repórter viajou a convite do Instituto CCR, patrocinador e parceiro de mobilidade da Flip.

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