'Psicocandidatopata' desafia a sanidade do eleitorado de SP
Manteve-se no novo Datafolha o bololô que imprime a marca da indefinição na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Contados os votos válidos, continuam estatisticamente empatados Guilherme Boulos (29%), Ricardo Nunes (26%) e Pablo Marçal (26%). Entre todos os enigmas contidos nesse tríplice empate, o mais intrigante é a sobrevida que o eleitorado paulistano concede a Marçal, que se consolidou na reta final da campanha como um "psicocandidatopata".
A psicologia ensina que são duas as principais características da psicopatia: a tendência a comportamentos antissociais e a ausência de qualquer sentimento de culpa em relação aos atos praticados. Na sua penúltima sequência de crimes, o distúrbio (comporta)mental de Marçal ultrapassou todos os limites. Ele levou às redes laudo falso para tentar novamente associar Boulos ao consumo de cocaína.
O laudo mentiroso menciona internação fictícia na clínica de um amigo de Marçal que já foi condenado por falsificação de diploma. Na data citada na peça, Boulos teve intensa e comprovada atividade pública. O documento ficcional traz a assinatura falsificada de um médico morto. Numa única tacada, Marçal acorrentou-se a pelo menos quatro crimes: divulgação de fatos inverídicos, difamação eleitoral, falsificação de documento, uso de documento falsificado.
"Eu recebi e publiquei", disse Marçal neste sábado. "Não fui eu que dei o laudo, eu só publiquei." Escarnecendo da autoridade da Justiça Eleitoral, que voltou a desligar da tomada o seu Instagram, o "psicocandidatopata" inaugurou novo perfil, que atraiu em poucas horas meio milhão de seguidores.
Poder-se-ia alegar que Marçal conserva a competitividade na véspera da eleição porque a malfeitoria do prontuário médico de fancaria foi cometida na noite de sexta-feira. Mas conspira contra essa percepção o rastro de perversões que Marçal imprimiu na campanha. Além de mentir sobre Boulos, atribuiu a Tabata responsabilidade pelo suicídio do pai, transformou em estupro uma imputação de assédio, já arquivada, contra Datena, zombou de sua própria condenação criminal, fabricou baixarias em debates...
Além de intimar a Judiciário a provar sua utilidade, a desmoralização do processo eleitoral pendura na conjuntura uma interrogação incômoda: até onde o eleitor de São Paulo permitirá que o melado escorra? As urnas deste domingo não decidirão apenas quais candidatos passarão para o segundo turno. Na prática, elas emitirão um laudo sobre a sanidade do eleitorado paulistano. As urnas dirão que tipo de cidade São Paulo deseja ser.