De Darwin a Einstein: três histórias que provam que os gênios também erram
É impossível alguém acertar o tempo todo. Nem mesmo grandes nomes da ciência como Charles Darwin e Albert Einstein. Linus Pauling, químico duas vezes laureado com prêmio Nobel, por exemplo, construiu, com pressa, um modelo errado de DNA.
Curiosidades como essas foram reunidas no livro "Tolices Brilhantes" (Editora Record; lançado em 2017), escrito pelo astrofísico Mario Livio, ex-chefe da divisão científica de telescópio espacial Hubble.
Para ele, o que explica os erros dos gênios são as limitações da mente humana. Ao mesmo tempo, ele destaca que é percorrendo caminhos "errantes" que a ciência muitas vezes avança.
Darwin poderia ter ido além
O criador da teoria da seleção natural e da evolução das espécies poderia ter ido muito além da imensa contribuição que deu para o entendimento da vida na Terra.
Charles Darwin chegou a fazer experimentos com ervilhas iguais aos testes feitos por Gregor Mendel, que desvendou o funcionamento da hereditariedade e é considerado o pai da genética.
Em sua teoria da evolução das espécies, Darwin já estabelecia o princípio de que as características herdadas pelos seres vivos de seus progenitores são selecionadas pelo ambiente. Assim, os mais bem adaptados prevalecem sobre os que enfrentam dificuldades de sobrevivência. Contudo, Darwin não percebeu como as características são transmitidas de uma geração para outra.
O cientista britânico se agarrou a teorias erradas, mas que eram dominantes em sua época. Acreditava que a característica do pai e da mãe se misturam nos filhos - da mesma forma que acontece em uma lata de tinta. E seu erro foi ter ignorado que o mecanismo de seleção natural, que ele mesmo concebeu, não podia funcionar sob essa suposição da hereditariedade por mistura.
A teoria da seleção natural de Darwin não teria funcionado sem a explicação de Mendel, que mostrou que as características hereditárias seguem regra de proporção, em que alguns traços são dominantes sobre outros.
Einstein desconsiderou dado importante
O cientista especulou erroneamente sobre as forças que mantêm o Universo em equilíbrio. Sua fórmula da relatividade geral permitia a previsão de um comportamento acelerado do Universo. Einstein, contudo, apostava que o ele era estático, que não se expandia. Por isso, introduziu um fator de correção na fórmula, chamado de "constante cosmológica".
Segundo Livio, Einstein não gostava desse elemento "intruso" em seus cálculos. Achava que ele violava a simplicidade estética da física. Quando o astrônomo Edwin Hubble provou que o Universo de fato se expandia, o físico alemão revisou suas fórmulas e excluiu dela o fator de correção.
Existe um mito na história da física de que Einstein teria dito que a constante cosmológica foi "o seu maior erro". Mario Livio investigou e afirma que a frase provavelmente foi inventada por colegas do físico.
Para Livio, não foi a inserção da constante cosmológica nas fórmulas da relatividade de Einstein o erro do gênio, mas sim sua posterior exclusão. Isso porque ela se mostraria necessária para explicar outro fenômeno, descoberto em 1998 por uma equipe de astrônomos: a de que a expansão cósmica não está desacelerando, mas sim, acelerando.
Pauling e o DNA
A pressa para não perder o prazo de publicação de sua pesquisa foi inimiga de Linus Pauling. O maior químico do mundo construiu um modelo de DNA equivocado devido a um erro básico de química - justamente sua praia.
O cientista chegou a apresentar com pompa sua estrutura alfa-hélice de DNA, tridimensional composto por bastões e bolas, e que constituiriam a principal característica estrutural de muitas proteínas.
O modelo era semelhante a um outro rapidamente descartado pelo biólogo e neurocientista Francis Crick, que descobriu a verdadeira estrutura do DNA com seu colega James Watson. O próprio livro de Pauling de química elementar contradizia característica utilizada no modelo errôneo, ligada a carga de fosfatos.
*Com reportagem de junho de 2017.