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Desmaios e rotinas exaustivas: competidoras criticam o Miss Universe Brasil

Montagem: Miss Rio Grande do Sul, Eduarda Dallagnol; Miss Piauí, Gabriela Pessoa; e Miss Tocantins, Jackeline Balestra - Repordução/ Instagram
Montagem: Miss Rio Grande do Sul, Eduarda Dallagnol; Miss Piauí, Gabriela Pessoa; e Miss Tocantins, Jackeline Balestra Imagem: Repordução/ Instagram
do UOL

Colaboração para Splash, em São Paulo

30/09/2024 05h30Atualizada em 30/09/2024 19h31

Quando a primeira mãe foi eleita Miss Universe Brasil, em 2024, os bastidores escondiam candidatas com rotinas exaustivas, envolvendo desmaios e má alimentação. Ao menos é o que contam três das 27 candidatas do concurso ouvidas por Splash. A organização do evento, porém, nega as acusações.

O que aconteceu

Na última semana, candidatas do Miss Universe Brasil 2024 ganharam destaque expondo o concurso nacional na coluna de Gabriel Perline na revista Contigo! e na coluna de Fabia Oliveira no Metrópoles. A reportagem de Splash fez contato com cinco das 27 candidatas. Duas agradeceram o contato, mas não quiseram conceder entrevista. Uma delas se manifestou nas redes sociais por meio de advogados. Duas decidiram conversar com a reportagem.

Dentre elas está a Miss Universe Rio Grande do Sul, Eduarda Dallagnol, que foi finalista da competição pelo voto popular. Ela detalha o que viu nos bastidores: "O terror psicológico começou quando a gente soube que estava sendo tratada de forma diferente das demais [candidatas]. E eu não sei por quê".

A Miss Universe Tocantins, Jackeline Balestra, conta que soube de algumas dessas situações de terror psicológico e pressão: "Infelizmente, posso dizer que também vivi momentos de pressão. Essa jornada é muito árdua, desde a preparação até a competição, e acho inaceitável qualquer forma de desrespeito, seja verbal ou psicológico".

Eduarda Dallagnol conta ainda que teria sido xingada junto com outra candidatas [confira ao final da reportagem].

A Miss Piauí, que também foi citada nas supostas mensagens com xingamentos, publicou nota pública em seu perfil no Instagram assinada por seus advogados. A nota afirma que a miss está "mentalmente exaurida após exaustiva preparação":

[Gabriela Pessoa] neste momento encontra-se física e mentalmente exaurida após exaustiva preparação que o concurso exige. (...) No momento estão sendo reunidas todas provas necessárias para que sejam adotadas as medidas cabíveis contra aqueles que, de maneira dolosa, tenham propagado ofensas à honra e imagem de nossa cliente em grupos de aplicativos de mensagens de grande alcance, que chegaram ao conhecimento da mesma após vazamento. Nota pública dos advogados da Miss Universe Piauí 2024

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Nota pública dos advogados da Miss Universe Piauí 2024, Gabriela Pessoa
Imagem: Reprodução/ Instagram @gabi.pessoa

Rotina exaustiva

Antes de Splash, a gaúcha Eduarda Dallagnol falou com o colunista Gabriel Perline, da revista Contigo, relatando a rotina exaustiva do concurso. Ela havia dito que recebeu mensagens às 5h para ir em reuniões marcadas às 7h30, mas que "não tinham relevância e poderiam ter sido organizadas previamente".

Gerson Antonelli, CEO do Miss Universe Brasil, disse a Splash que não tomou conhecimento de queixas das candidatas sobre rotina exaustiva: "Não que a gente saiba [sobre as queixas]. Porque a agenda era passada para elas sempre no dia anterior. O café da manhã sempre foi às 7h30".

Gerson afirmou que o concurso de miss não é um momento "de férias": "Como é um concurso de beleza, você não vai a um resort de férias. A gente trabalha com as candidatas de acordo com a agenda que a gente tem. Sempre tinha almoço às 12h30 ou 13h, com intervalo de até 2 horas entre o almoço e as atividades, que eram sempre avisadas com antecedência".

Jackeline Balestra afirma que não recebeu ofensas diretas, mas reforça a pressão que sentia: "Não sofri xingamentos diretamente, mas a pressão estava sempre presente, o que nos coloca em uma situação emocionalmente muito delicada. Ninguém merece ser tratada dessa forma, ainda mais quando estamos todas ali com o sonho de realizar algo maior".

Jackeline não ficou no Top 13 de semifinalistas e afirma que foi desclassificada por postagem em rede social: "Fui desclassificada sem uma explicação formal, e para minha surpresa, continuaram permitindo que as pessoas votassem em mim, o que gerou uma situação ainda mais frustrante e desrespeitosa com quem me apoiava. Não houve transparência por parte da organização nesse sentido, o que nos deixa com muitas dúvidas e sentimentos de injustiça".

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Miss Tocantins 2024, Jackeline Balestra, esteticista e empresária de 29 anos
Imagem: Reprodução/Instagram @missuniversebrasiloficial

Problemas na alimentação? Concurso nega!

Segundo Jackeline, a questão da alimentação foi complicada ao longo das agendas para o concurso: "Embora houvesse momentos em que comíamos bem, especialmente nos restaurantes patrocinadores, a rotina era muito desorganizada. Não tínhamos horários fixos para as refeições, e em várias ocasiões acabamos jantando por volta das 2h. Isso, claro, afetava o nosso bem-estar e energia para enfrentar os compromissos do dia seguinte".

A Miss Universe Tocantins diz que foi servida uma pizza margherita para as misses após candidatas passarem mal: "Várias meninas passaram mal. Eu tive intoxicação, [a Miss] Piauí desmaiou comigo. (...) Só começaram a mandar pizza porque a Piauí desmaiou. Até a água era 'racionada'. No contrato dizia que era liberado. Depois chegando no hotel, tínhamos apenas as que eles entregavam quando tinha alguma agenda no hotel, o resto tinha que comprar".

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Mensagens mostram misses perguntando sobre pizza para jantar no confinamento do Miss Universe Brasil 2024
Imagem: Reprodução/ WhatsApp/ Redes sociais

Splash teve acesso a uma gravação de tela que mostrava o seguinte áudio: "Gente, Piauí está passando mal agora", diz uma das candidatas em um grupo do WhatsApp. Eram 23h47. Não foi especificado em qual dia do confinamento isso teria ocorrido.

Quando questionado sobre as candidatas que passaram mal, Gerson Antonelli cita apenas a Miss Amazonas. Segundo ele, ela não conseguia falar na entrevista, pois estava com infecção na garganta. Ele também cita outra candidata, a Miss Paraíba, que desistiu por motivos de saúde.

Segundo Gerson e sua advogada, a miss que desmaiou foi a da Paraíba. Ela teria ido para o hospital, sendo atendida por seu plano de saúde. Eles afirmam que não sabem de outra miss que desmaiou.

Sobre as pizzas, a advogada Gabriela Sturiale Sartini afirma: "Antes das pizzas serem solicitadas, fomos em jantares na programação e posteriormente algumas misses perguntaram se poderiam comer outra coisa. Então nós pedimos as pizzas após chegar de um dos jantares".

Gerson relata que algumas misses se negavam a comer quando tinham oportunidade: "Quando o garçom passa com a comida, tem miss que está preocupada em fazer selfie, em tirar foto e acaba não comendo, depois fala que não comeu. Por exemplo, foi feita uma festa em uma balada que a Miss Universo foi e ela comeu normalmente".

Algumas candidatas se recusaram a comer porque não quiseram comer. Pensamos, já que tiveram algumas que não quiseram comer, pedimos pizza para quando elas voltarem, porque eu fiquei preocupado delas irem para o quarto sem se alimentar após se recusarem a comer o que estava sendo servido para elas. Algumas acham que não podem comer porque vão engordar, outras porque não gostam da comida que está sendo servida. Não posso controlar o prato que está sendo servido para cada candidata. Gerson Antonelli, CEO do Miss Universe Brasil

Sem sede. Gerson informou que após todas as candidatas receberem pizza em seus respectivos quartos, ele liberou o frigobar do hotel para elas beberem o que tinha disponível. O concurso ainda avalia se entrará com alguma ação contra declarações públicas sobre a competição.

Jackeline Balestra, a Miss Universe Tocantins, disse esperar que as condições do concurso possam melhorar nas próximas edições:

Acho importante reforçar que o Miss Brasil deveria ser uma plataforma de empoderamento e respeito, tanto para as candidatas quanto para o público. O que passamos nos bastidores não deveria apagar o valor dessa competição, mas é essencial que as coisas sejam feitas com transparência e dignidade. Espero que as futuras competições possam aprender com esses erros e oferecer um ambiente mais justo e saudável para todas as participantes. Jackeline Balestra

Jurada controversa?

Outro problema apontado pela Miss Rio Grande do Sul, em entrevista à Contigo, foi a postura dos jurados: "Eles declararam publicamente que eu não fazia o perfil do Miss Universe".

A reportagem apurou que ela se referia à jurada Ana Claudia Mendes, conhecida como Purple. Purple é comunicadora social, bailarina profissional e cursa psicologia com especialização em neuropsicologia. Ela analisou as candidatas estaduais antes de ser convidada para ser jurada.

Após publicar opiniões sobre as candidatas estaduais eleitas até o início de setembro, Purple recebeu críticas. A favorita para ela, no quesito das qualidades técnicas expressivas de linguagem corporal cênica, também acabou recebendo críticas devido à especulação, em grupos do universo miss, sobre um suposto resultado arranjado. A profissional então fez uma publicação de apoio contra o hate recebido pela candidata — que não vamos a identificar, visto que Purple apagou a publicação original de suas redes.

Purple nega ter dado demonstração pública de apoio a alguma candidata específica: "Em nenhum momento houve demonstração pública de apoio à vencedora ou quem ia vencer. O que houve foi uma demonstração pública de apoio a essa menina, que tinha um sonho como todas as outras candidatas e que estava sendo atingida por mentiras e por mensagens veiculadas nas redes sociais, dizendo que a menina tinha comprado coroa. Ninguém apresentou prova alguma", afirma.

Tentaram insinuar coisas colocando em xeque a minha idoneidade. Veja bem, se eu sou uma profissional da área de expressão corporal e fui convidada pra ser jurada de um concurso para avaliar técnica corporal, não há problema algum de eu ter feito um trabalho prévio, no meu ponto de vista, que ajudou várias misses inclusive que participaram desse concurso. Mas aí foi distorcido tudo isso e veiculado mentiras sobre terror psicológico, sobre uma série de coisas que de fato não aconteceram. Ana Claudia Mendes, conhecida como Purple

Eduarda mantém as críticas a Purple: "[Ela] fez uma análise minha —se diz especialista em linguagem corporal e até hoje eu não vi um diploma—, disse que eu não tinha o perfil de Miss Universo e que o meu perfil era Miss Grand. E apoiou uma outra candidata".

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Miss Rio Grande do Sul 2024, Eduarda Dallagnol, estudante de direito de 25 anos
Imagem: Reprodução/Instagram @missuniversebrasiloficial

A gaúcha não concordou em ter sido avaliada pela jurada: "Fico me perguntando onde está o profissionalismo dos jurados, por que eu era uma Miss Grand e não uma Miss Universo? Me julgou nas redes sociais após a minha eleição, no meu estado, e estava lá me julgando para ser a nova ou a próxima Miss Universe Brasil".

Gerson Antonelli disse à reportagem não ser possível controlar opinião dos jurados: "A opinião de cada pessoa eu não posso controlar, também não posso ficar checando o que cada pessoa diz 24 horas por dia. Convido a pessoa [para o júri] que eu acho que tem a capacidade de analisar uma área no quesito que eu estou procurando analisar na candidata".

Purple explica que fez post a uma candidata que falava-se que seria a vencedora —antes do resultado, que não confirmou a especulação: "Eu não tinha recebido o convite para ser jurada. E não tinha nenhuma relação com o júri e eu fiz esse post com a mais pura sinceridade. (...) Concurso se vence na hora e a vencedora do concurso não foi ela e eu estava no júri. Avaliei tecnicamente como jurada técnica de expressão corporal cada uma delas".

Purple disse que retirou todos os vídeos do seu canal O Corpo Cênico sem focar o mundo miss e também desativou o canal: "Se eu soubesse que iriam usar o trabalho profissional de uma artista que merece valor, nesse país que desvaloriza tanto a arte, eu não teria feito [as análises]. Mas não me arrependo pelo simples motivo do meu objetivo única e exclusivamente de ajudar misses e misters a chegar no topo".

Quanto à candidata Eduarda Dallagnol, cuja torcida se voltou contra mim quando eu fiz a avaliação dela, ela estava em segundo lugar na [minha] avaliação corporal cênica. Eu realmente falei que o perfil dela era mais Grand pelo tipo de passarela que ela apresentava. Esse é o meu trabalho, avaliar corporalmente e dar essa diretriz para que as misses vejam a sua passarela, façam algum retoque, façam algum ajuste para que elas possam ser vitoriosas no palco do Miss Universo. Ana Claudia Mendes, conhecida como Purple

Supostos xingamentos

Pelo menos duas das candidatas também teriam recebido ofensas ou xingamentos. Um suposto print mostrou as supostas agressões verbais.

Eduarda Dallagnol conta que soube do ocorrido após o concurso: "Depois de uns certos dias, descobrimos que , por mensagens da organização do Miss Universe Brasil, fomos chamadas de put*s".

Splash teve acesso a um print de uma suposta conversa de uma integrante da equipe do Miss Universe Brasil. Na captura de tela há sua foto, seu primeiro nome e número de telefone. Sem contexto para analisar o teor das mensagens supostamente enviadas, as misses do Piauí e do Rio Grande do Sul são citadas: "Piauí pela sacanagem que ela anda fazendo com a gente. Rio Grande do Sul porque é put*".

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Suposta mensagem mostra xingamento a candidata do Miss Universe Brasil
Imagem: Reprodução/ WhatsApp/ Redes sociais

Eduarda Dallagnol ficou indignada ao tomar conhecimento das supostas mensagens: "A gente saiu do nosso estado com um sonho e fomos chamadas de put*s e comparadas com meio mundo, realmente desvalorizadas. O que não era pra acontecer em um concurso onde celebra a mulher", desabafa.

A reportagem tentou contato com a mulher que teria enviado as mensagens, mas não obteve retorno. Splash preservou a identidade dela, já que a veracidade das mensagens ainda não foi confirmada.

Gabriela Sturiale Sartini, advogada de Gerson Antonelli, CEO do Miss Universe Brasil, se pronunciou em contato com a reportagem: "Primeiro, esses prints que estão sendo veiculados e que tivemos conhecimento por matérias, nós não sabemos o contexto e não sabemos sequer a veracidade se realmente houve essa conversa, se ela realmente proferiu essas mensagens. Precisaríamos avaliar se partiu do celular dela, se não se trata de montagem".

Para Gabriela, há muitas questões sobre o conteúdo propagado: "Segunda coisa, caso tenha sido proferida uma mensagem do telefone dela, precisamos saber se realmente foi ela que enviou essa mensagem e qual o contexto em que foi enviada. Daí, partimos para uma terceira questão de que são conversas privadas liberadas. Eu pergunto: essas conversas privadas poderiam ter sido divulgadas? (...) Caso tenha partido do celular dela, era uma conversa privada que não poderia ter sido divulgada sem autorização de uma das partes. Tem muitos problemas envolvidos nessa situação", finaliza.

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