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Diversidade, samba e jogo do bicho: 'Volta por Cima' é o puro suco do Rio

Tati (Bia Santana), Doralice (Teresa Seiblitz), Lindomar (MV Bill) e Madá (Jéssica Ellen) em "Volta por Cima" - Beatriz Damy/Globo
Tati (Bia Santana), Doralice (Teresa Seiblitz), Lindomar (MV Bill) e Madá (Jéssica Ellen) em 'Volta por Cima' Imagem: Beatriz Damy/Globo
Filipe Pavão e Bruno Silvano
do UOL

De Splash e Colaboração para Splash, no Rio

29/09/2024 05h30

"Volta Por Cima" estreia nesta segunda-feira (30) e promete levar o subúrbio carioca à tela da Globo para representar todas as regiões periféricas do país. Em conversa com Splash, a autora Claudia Souto conta que a história é "puro suco do Rio de Janeiro".

'Volta Por Cima' é puro suco do Rio de Janeiro. Traz uma empresa de ônibus [como núcleo central], é samba, é bate-bola, que vai ser retratado numa novela pela primeira vez, traz a contravenção [pelo jogo do bicho], que é algo muito carioca. Para o bem ou para o mal, eles fazem parte da nossa cultura. Eles fazem o maior espetáculo da Terra, o Carnaval. Claudia Souto, autora

Subúrbios do Brasil

Ambientada na fictícia Vila Cambucá, a novela conta a história de Madalena (Jéssica Ellen), a Madá, uma jovem mulher batalhadora que teve que adiar seus sonhos pessoais para ajudar a sustentar a família. Apesar das dificuldades, ela não esmorece diante das lutas diárias e vislumbra no empreendedorismo um futuro mais próspero. Vê o pai, o motorista de ônibus Lindomar (MV Bill), morrer inesperadamente.

Carioca, a autora Claudia Souto nasceu em Bangu, na zona oeste do Rio, e tem histórias da própria família como inspiração para a criação do folhetim. "Apesar de já ter nascido na fase tijucana da família, cresci ouvindo as histórias da minha mãe e das minhas tias no subúrbio, aquele café da tarde com todo mundo sentado para conversar. O subúrbio está muito no meu DNA".

Além disso, o subúrbio é o pano de fundo ideal para debater a ética em uma família brasileira, afirma ela. Na história, Osmar (Milhem Cortaz) encontra um bilhete premiado que seria de Lindomar, seu cunhado. Osmar, o tio folgado, enriquece às custas da sorte do outro.

A autora defende que os subúrbios brasileiros, apesar de diferenças geográficas para cada estado, se assemelham bastante. "Como ficam os laços quando você abre mão de uma amizade tão forte por um bem material? Achei que falar disso no subúrbio seria muito legal, porque eu estaria falando com o Brasil todo. Todo mundo do Brasil vai se identificar com Villa Cambucá."

Juliana Alves vive a motorista de ônibus Cida em 'Volta por Cima' - Fábio Rocha/Globo - Fábio Rocha/Globo
Juliana Alves vive a motorista de ônibus Cida em 'Volta por Cima'
Imagem: Fábio Rocha/Globo

Representatividade negra

Protagonizada por dois atores negros, Jéssica Ellen e Fabrício Boiliveira, a autora acredita que a novela dá um passo além quando o assunto é representatividade. "Comecei a fazer novela colaborando com o Walcyr em 2007 e fui ter minha primeira novela em 2017, com 'Pega-Pega'. Ali comecei a falar mais da representatividade negra a partir do núcleo com o Seu Milton Gonçalves, que era pai do David Junior, mas ainda estava limitado, era o começo desse avanço de espaço que temos agora."

Assisto novela desde que eu era criança, nos anos 1970, e quando eu era mais nova, perguntava: 'essa novela se passa na Suíça?' Era todo mundo branco, um ou outro personagem representando uma classe mais baixa, eu ia para a rua e a vida não era assim. Claudia Souto

Além de atores negros, a novela quer abrir portas para artistas descendentes de asiáticos. "Temos atores brasileiros com ascendência japonesa, coreana ou chinesa. Eles honram suas famílias, assim como eu honro a minha origem suburbana. A gente traz Adanilo, de Manaus; o Juliano [Cazarré], do Sul; Fabinho Lago, do Nordeste. Eu e o [diretor] André Câmara quisemos colocar a cara brasileira na televisão."

Espero que essa seja uma marca que fique da minha geração de autores e diretores. Não sei se a gente vai ser celebrado pelas novelas, mas eu quero que a gente seja lembrado por ser uma geração que colocou o Brasil na tela. Claudia Souto

Histórias de pessoas que a gente poderia cruzar dentro do ônibus, no metrô ou nas ruas dos subúrbios da nossa cidade. Nosso desafio é como contar essa história de uma forma leve, divertida e colorida. A gente foi buscar essa inspiração estética no próprio subúrbio. A gente foi a Madureira, a Marechal Hermes. André Câmara, diretor

Adanilo vive o cobrador de ônibus Sidney em 'Volta por Cima' - Fábio Rocha/Globo - Fábio Rocha/Globo
Adanilo vive o cobrador de ônibus Sidney em 'Volta por Cima'
Imagem: Fábio Rocha/Globo

A Vida É Um Ônibus?

Assim que as primeiras informações sobre a sinopse foram veiculadas, alguns internautas criaram uma paródia que viralizou no extinto X (Twitter). A irreal "A Vida É Um Ônibus" não chateou a autora, pelo contrário, causou boas risadas. "Meus amigos achavam que era verdade. Adorava a [personagem] Maria Catraca, a Vai Dar Sinal. Era uma novela possível, mas era outro gênero de novela, a farofa, que fiz muito com o Walcyr [Carrasco], mas não é a minha via principal como autora. Ri muito porque vim do humor. Comecei na Globo no Casseta & Planeta Urgente."

Ri muito quando meus amigos começaram a me mandar mensagens, mas eu falei: 'gente, vocês acham que minha protagonista vai se chamar Maria Catraca? Claudia Souto

O nome "Volta Por Cima" foi pensado por várias pessoas, afirma Claudia. "O nome original já era de outra pessoa... A história tem a ver com 'Volta Por Cima', fui eu, com o André e o [José Luiz] Villamarim [diretor de gênero], além de uma equipe da Globo que traz sugestões."

Violeta (Isabel Teixeira) é viúva de um contraventor em 'Volta Por Cima' - Beatriz Damy/Globo - Beatriz Damy/Globo
Violeta (Isabel Teixeira) é viúva de um contraventor em 'Volta Por Cima'
Imagem: Beatriz Damy/Globo

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