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Estreia de filme em Sarajevo destaca harmonia entre muçulmanos e judeus

26/09/2024 13h01

Por Daria Sito-Sucic

SARAJEVO (Reuters) - Um filme que mostra como os muçulmanos e judeus de Sarajevo se salvaram mutuamente em tempos de guerra estreou na capital da Bósnia nesta semana, destacando o potencial para a harmonia inter-religiosa, apesar da renovada polarização global sobre a guerra de Gaza.

O curta-metragem "Sevap/Mitzvah" (Uma Boa Ação), da diretora norte-americana Sabina Vajraca, conta a história real de uma mulher muçulmana que escondeu uma família judia em sua casa e a ajudou a escapar da Sarajevo ocupada pelos nazistas na década de 1940.

Cinquenta anos depois, Zejneba Hardaga -- a primeira mulher muçulmana reconhecida como "Justa entre as Nações" pelo museu israelense do Holocausto por ter arriscado sua vida para salvar judeus -- foi ela própria resgatada da capital bósnia sitiada, por uma família judia.

"Essa é uma história sobre vizinhança, sobre amizade entre muçulmanos e judeus, sobre a essência da Bósnia-Herzegóvina e de Sarajevo", disse Vladimir Andrle, presidente da instituição de caridade judaica La Benevolencija, sediada em Sarajevo.

Vajraca, nascida na Bósnia, disse que a inspiração para o filme veio de testemunhar como muçulmanos e judeus estavam divididos nos Estados Unidos, em contraste com a Bósnia.

"É muito raro encontrar na América atual um judeu e um muçulmano que se sintam seguros ao lado um do outro e todas as sinagogas e mesquitas são protegidas pela polícia", disse, à Reuters após a estreia no prédio reformado da antiga Biblioteca Nacional, que foi incendiada em tempos de guerra.

A projeção do filme foi organizada para um grupo limitado de convidados das comunidades muçulmana e judaica e jornalistas.

CIDADE DE MAIORIA MUÇULMANA

A maioria dos cidadãos de Sarajevo é muçulmana e sente grande empatia pelos palestinos em Gaza, devido à morte e à destruição que sua cidade também sofreu durante o cerco dos sérvios-bósnios entre 1992 a 1995.

Andrle disse que houve algumas ameaças nas redes sociais contra a comunidade judaica após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, mas houve mais solidariedade do que antipatia.

"Se um me ameaçou, cinco me defenderam", disse.

Durante a Segunda Guerra Mundial e a guerra de 1992-1995 na Bósnia, os historiadores muçulmanos salvaram o Sarajevo Haggadah, o livro judaico do Século 14 sobre os ritos do Pessach, que encontrou um lar na cidade vindo da Espanha. Ele se tornou um símbolo da coexistência religiosa na Bósnia.

(Reportagem de Daria Sito-Sucic)

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