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Onde comer bem em Buenos Aires? Rua tem 'chori' moderno e parrilla asiática

Tataki, do Niño Gordo - Divulgação
Tataki, do Niño Gordo Imagem: Divulgação
do UOL

Editora de Nossa*

17/09/2024 05h30

Seja pela proximidade ou pelo preço (nem tanto mais) gentil da conversão a pesos, o público brasileiro ama a Buenos Aires de comer. Cada vez mais, porém, surgem oportunidades de conhecer pequenas e ousadas revoluções gastronômicas, ainda que a carne esteja no DNA de quase tudo.

Um dos grandes responsáveis por este frescor diante de uma tradição que encanta o mundo todo atende pelo nome de German Sitz.

Aos 35 anos, o filho de Rivera, cidade entre as províncias de Buenos Aires e dos pampas argentinos é co-fundador de Grupo Thames ao lado do colombiano Pedro Peña e saiu da cozinha para operar seis negócios, todos abertos em um prolífico período de dez anos.

Não à toa, seu celular (um sonoro Motorola) não para de tocar um segundo durante os dois dias em que encontrou a reportagem.

German Sitz - Divulgação - Divulgação
German Sitz
Imagem: Divulgação

De asado a parrilla, de tacos a choripán, de transformação de um jardim de museu à revelação criativa de fusão asiática. E ainda uma taperia madrilenha.

Ao lado desta jovem potência dos negócios de comida na Argentina - e todo o peso que esse ponto no mapa carrega - a reportagem fez um "recorrido" que nem os mais belos (e glutões) sonhos poderia imaginar.

Que você, leitor, se inspire a visitar algum deles em sua próxima visita portenha - mas a recomendação é não deixar passar nenhum.

Que disfrute!

Chori

Mesas do Chori - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Mesas do Chori
Imagem: Reprodução/Instagram

Na rua Thames, já eleita uma das mais "cool" do mundo em 2021 pela lista da Time Out, o "food crawl" de Sitz já começa pelo número 1653 e por uma tradição mexida daqui, revolucionada de lá.

Instituição dividida com os uruguaios, o pão com linguiça e chimichurri, o choripán deu lugar a lanches globalizados, como hambúrguer e pizza.

E Chori nasceu dessa tentativa de resgatar o chori, mas de uma forma diferente e tão atraente quanto as 'hamburguesas', conta German, sobre o estabelecimento inaugurado em 2016.

Para isso, no lugar do pão comprido, surge um redondo. E nos recheios, uma infinidade de opções, do tradicional "de Cancha", ao de linguiça de costela com cheddar, ao bovino e até vegetariano. Para tomar, cerveja, vermú ou o irresistível e pop Fernet Cola.

Choripán do Chori - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Choripán do Chori
Imagem: Reprodução/Instagram

Bem ao estilo fast-food, neons chamativos e desenho do personagem que dá rosto à marca, e comer em pé, no balcão, ou na calçada - ouvindo o mais fino do hard rock. Este sim, globalizado e perdoado.

Mais informações: @xchorix

Juan Pedro Caballero Taquería & Churrería

Juan Pedro Caballero Taquería & Churrería - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Juan Pedro Caballero Taquería & Churrería
Imagem: Reprodução/Instagram

Das canchas argentinas ao México, um pulo rapidinho até o número 1719 da mesma Thames. Nasceu como churreria, e na pandemia foi reformulado. Hoje lota a calçada com a oferta de tacos, burritos e, sim, churros num estilo cool, rápido e coloridíssimo pelas referências de Nossa Senhora de Guadalupe aos mascarados de "lucha libre".

Mais informações: @xjuanpedrochuntarostylex

Paquito

El Paquito - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Paquito
Imagem: Reprodução/Instagram

No 1999 da rua, estamos em Madri. Entre e olhe para os lados: um bar de tapas, um trio de flamenco e mesões regados a vinho, jamón cortado na hora, croquetas (as mais cremosas da vida) e boquerones ahumados - anchovas no vinagre prontas para o pão.

Já temos muito de cozinha com influência catalã e basca. Queria mesmo um bar de tapas que transportasse a Madri, informal, barulhento, conta Sitz.

Tapas do El Paquito - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Tapas do El Paquito
Imagem: Reprodução/Instagram

É no Paquito, nascido em 2021, que o gastro-business-man conta que foi ficando de olho no aluguel das casas ao longo da rua que percebeu a importância de levar mais e mais gente ao lado até então menos gentrificado do Palermo Soho. "Se pudermos trazer mais e mais gente, melhor".

No rumo ao destino seguinte, conta a história boêmia do bairro, onde passou a infância Jorge Luis Borges e onde se criaram os movimentos rock e punk locais.

Mais informações: @xpaquitobarx

La Carniceria

La Carniceria - Divulgação - Divulgação
La Carniceria
Imagem: Divulgação

Primeiro negócio a nascer da parceria com Pedro para o domínio da Thames, em 2014, o espaço é uma considerado um "paraíso carnívoro" pela lotação de um pequeno espaço do número 2317.

E quem diz isso não é a reportagem ou os muitos clientes, somente, mas também as listas como 50 Best (onde o local desponta como Discovery) e Michelin, que o recomendou na primeira edição argentina para Buenos Aires e Mendoza.

Se trata de parrilla, sim, mas ao contrário das muitas espalhadas pela cidade, traz o toque de modernidade e muito menos rusticidade da tradição.

La Carniceria - Rodrigo Ruiz Ciancia - Rodrigo Ruiz Ciancia
La Carniceria
Imagem: Rodrigo Ruiz Ciancia

German conta que a procedência das carnes, hoje tão alardeada em casas pelo mundo, foi a prerrogativa para fincar os pés no lugar e se valer de uma herança bem favorável: os cortes todos vêm da fazenda de sua família nos Pampas.

Desde o "amouse-bouche" - pãozinho com tutano assado de chupar o osso e maionese de cebola -, até mollejas com limão, nalga com leite de tigre e pimenta aji preparado à mesa, como um tartar, e os tradicionais chinchulines, tudo é parrilla, mas sem ares de nostalgia.

Nalga com leite de tigre e pimenta aji, do La Carniceria - Divulgação - Divulgação
Nalga com leite de tigre e pimenta aji, do La Carniceria
Imagem: Divulgação

Ficamos nas entradas, mas como não botar os olhos em todos os cortes parilheiros das mesas vizinhas?

Mais informações: @xlacarniceriax

José el Carnicero

José el Carnicero - @miserereok - @miserereok
José el Carnicero
Imagem: @miserereok

Na casa logo à frente, no número 2316, em uma espécie de viagem ao interior da Argentina. Lá, quem reina é o asado, dos cortes simples e de preparo lento.

No "José", porém, chama mais uma vez a atenção como referências modernas de espaço - decoração impecável e o banheiro mais divertido do mundo, com trilha no talo (o mais fino do soul), revistas Rolling Stone para folhear e pia voltada para a geladeira de carnes.

Surpreende também, nessa aura supostamente tradicional, a destreza e balé da cozinha - sorte de quem está no balcão - e o espírito de alta gastronomia (com direito a uns sonoros "si, chef" entoados vez ou outra). A alface coberta por parmesão e a melhor salada russa da vida acompanham cordeiro, leitão, costela surgem em um serviço caprichado e atento.

A mesa completa de José el Carnicero - @miserereok - @miserereok
A mesa completa de José el Carnicero
Imagem: @miserereok

Para beber, mais Sitz - a garrafa de Malbec da casa, batizada de Bife, leva o rosto do anfitrião no rótulo.

Mais informações: @xjoseelcarnicerox

Niño Gordo

Salão do Niño Gordo - Rodrigo Ruiz Ciancia - Rodrigo Ruiz Ciancia
Salão do Niño Gordo
Imagem: Rodrigo Ruiz Ciancia

Na fachada, um grande bebezão inflável recebe gourmands, curiosos e fãs do melhor kastusando que se tem notícia - pão brioche tostadinho, com uma pornográfica milanesa bovina (contrariando a tradição japonesa do porco) e maionese japonesa.

No 1810 da mesma Thames, o mergulho em um salão todo vermelho com lâmpadas chinesas e no balcão ao estilo izakaya lotado, barulhento e enfeitado com brinquedos - de Sailor Moon a um mini Atari - revela o que há de mais surpreendente (e doidão) em Buenos Aires.

Balcão do Niño Gordo - Ornella Capone - Fotografia - Ornella Capone - Fotografia
Balcão do Niño Gordo
Imagem: Ornella Capone - Fotografia

Não à toa, 43° melhor restaurante da América Latina pelo 50 Best e recomendado Michelin.

O ambiente vibrante, a trilha no talo e as muitas opções da fusão de parrilla com elementos asiáticos diversos - do tataki ao bao, às sobremesas de chocolate com wasabi e katsuobushi - deixam comensais ora atordoados, ora encantados, mas nunca indiferentes.

Katsu sando, do Niño Gordo - Divulgação - Divulgação
Katsu sando, do Niño Gordo
Imagem: Divulgação

Sucesso imediato desde a abertura, em 2017, é o mais simbólico das invenções mirabolantes - e certeiras - de German e Pedro. Tanto é verdade que ganhou até um livro (Libro Gordo) em que receitas são mero detalhe entre crônicas sobre a rua, as trajetórias dos donos, o bairro e as pirações que geraram o "imperdível" da cena gastronômica portenha.

Mais informações: @xniniogordox

Além da Thames

Los Jardines de Las Barquin

Los Jardines de Las Barquin - Divulgação - Divulgação
Los Jardines de Las Barquin
Imagem: Divulgação

O mais novo de tantos filhos, com pouco mais de oito meses, é uma homenagem aos recantos coloniais que uma foi a Recoleta. É no jardim do Museo de Arte Hispanoamericano Fernández Blanco que Sitz explica que grãos, cereais, PANCS argentinas, enfatiza-se, agora mandam no cardápio - "já que não poderíamos instalar uma parrilla aqui", lembra.

Com sorte, além da simpática equipe formada, a recepção é feita por um gatinho cinza e gordinho de nome Coquito que insistirá em miar por carinho. Apenas ceda.

Quem passeia pela história - a das Barquin, sobrinhas-filhas da Condesa María Ignacia de Velasco Tagle Bracho que usavam daquele jardim como ponto de encontro com seus muitos pretendentes - pode admirar o espaço do café da manhã, passando pelo almoço, até o lanche da tarde.

Pratos de Los Jardines de Las Barquin - Divulgação - Divulgação
Pratos de Los Jardines de Las Barquin
Imagem: Divulgação

Entre as criações do chef Alejandro Feraud - com destaque para deliciosas opções vegetarianas -, estão empanadas de trigo sarraceno recheadas com cogumelos, o risoto de cevada com espinafre e a inesquecível humita - espécie de creme de milho pré-colonial.

Para beber, cafés e uma seleção caprichada de vinhos ("ojo" para Rocamadre Viñas Viejas Chenin Blanc 2022).

Mais informações: @xlosjardinesdelasbarquinx

São tantas coisas que de fome nunca morreremos, brinca German.

*A jornalista viajou a convite de Flybondi, Grupo Thames e Mengano

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