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Livro virou filme: qual é a história real que pode vingar Brasil no Oscar?

do UOL

Do UOL, em São Paulo

02/09/2024 15h15

"Ainda Estou Aqui", filme brasileiro estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello e dirigido por Walter Salles, foi ovacionado após exibição no Festival de Cinema de Veneza no domingo (1º).

O longa foi aplaudido de pé por 10 minutos e pode colocar a atriz na disputa por prêmios, segundo o Deadline. Brasileiros comemoraram o sucesso nas redes sociais, dizendo que Fernanda Torres pode "vingar" a sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar há 25 anos, por "Central do Brasil". Ela acabou perdendo a estatueta para Gwyneth Paltrow (por "Shakespeare apaixonado").

Qual a história de 'Ainda Estou Aqui'?

Eunice Paiva e Rubens Paiva - Reprodução/Instituto Vladimir Herzog - Reprodução/Instituto Vladimir Herzog
Eunice Paiva e Rubens Paiva
Imagem: Reprodução/Instituto Vladimir Herzog

Obra narra a história real de Eunice Paiva (interpretada por Fernanda Torres na juventude e Fernanda Montenegro na velhice) e sua busca pelo marido, Rubens Paiva (Selton Mello), vítima da ditadura militar. O então deputado foi levado por agentes da Aeronáutica em 20 janeiro de 1971 de sua casa no Rio de Janeiro à sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) na capital fluminense.

Filme é inspirado em livro homônimo de 2015 do jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice. Ela nasceu em São Paulo, cursou Letras na Universidade Presbiteriana Mackenzie e teve cinco filhos: além de Marcelo, a jornalista Maria Eliana, a empresária Ana Lúcia e as psicólogas Vera e Maria Beatriz.

Eunice e a filha mais velha, Maria Eliana, então com 15 anos, também foram levadas ao DOI-Codi. A adolescente ficou um dia no local, e a mãe foi interrogada por duas semanas até ser liberada.

Militares alegavam que Rubens Paiva foi sequestrado por "terroristas de esquerda". Versão oficial dizia que ele foi levado durante um deslocamento para depor ou teria fugido para Cuba, onde tinha outra família.

Eunice se empenhou na busca pela verdade sobre a morte do marido. Em 1973, começou a faculdade de Direito, atuando em causas políticas e sociais.

Ela recebeu o atestado de óbito dele apenas em 1996. Eunice foi uma das principais articuladoras da aprovação da lei 9.140, em 1995, que reconhecia a morte de desaparecidos políticos durante a ditadura militar.

Rubens Paiva foi morto no DOI-Codi, e corpo jogado no mar em 1973. Documentos obtidos em 2013 pela Comissão Nacional da Verdade confirmaram a entrada de Rubens Paiva no DOI-Codi, até então negada por militares e só relatada por testemunhas. Ele foi torturado e morto entre 20 e 22 de janeiro de 1971. Seu corpo foi desenterrado várias vezes, até ser jogado na costa do mar do Rio de Janeiro dois anos após a morte.

Eunice Paiva morreu aos 86 anos, em 2018. Ele convivia com o Alzheimer desde 2004 e morreu de causas naturais.

Aposta brasileira no Oscar

"Ainda Estou Aqui" concorre ao Leão de Ouro, um dos maiores prêmios do cinema internacional. Com a presença do diretor, dos protagonistas e do escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o longa, a produção brasileira foi ovacionada na sessão realizada na mostra italiana.

O filme é a próxima aposta do Brasil para o Oscar. Com "Ainda Estou Aqui", o país pode chegar mais uma vez à premiação, como foi o caso de "Central do Brasil", indicado na cerimônia de 1999.

A data oficial de estreia nos cinemas ainda não foi definida. No entanto, é possível que o filme estreie apenas após a temporada de festivais de filmes, inclusive podendo ser lançado nos cinemas apenas em 2025. "Ainda Estou Aqui" ainda participa do Festival Internacional de Cinema de Toronto e do Festival de Cinema de Nova York.

*Com informações de reportagem publicada em 02/09/24.

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