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'Cinema é emoção, e vai demorar para IA chegar nisso', diz CEO da O2 Filmes

do UOL

Ruam Oliveira

Colaboração para Tilt, de São Paulo

23/07/2024 04h05

Paulo Barcellos, CEO da O2 Filmes, afirmou que a produtora por trás de sucessos como "Cidade de Deus", "Cangaço Novo" e "Ensaio sobre a Cegueira" usa inteligência artificial em todos os processos. Mas essa tecnologia está longe de ser algo que vai transformar a indústria do audiovisual.

Ele participu de Deu Tilt, o podcast do UOL para humanos por trás das máquinas e é apresentado Helton Simões Gomes e Diogo Cortiz. O episódio que vai ao ar nesta terça-feira (23) trata de como a IA está no futuro do cinema.

Cinema é atuação, é diálogo, é entonação, close de câmera? O controle no cinema é muito importante (...) São muitas variáveis e a IA não trabalha assim. É uma questão da maneira como a IA generativa funciona, a falta de controle é o padrão
Paulo Barcellos, CEO da O2 Filmes

Como exemplo de uma função essencial ao cinema, mas feita de maneira indispensável por um ser humano, o executivo fala do foquista, responsável por fazer o foco nas filmagens. "Focar é contar história, é jogar o foco na parte que você quer contar."

Para ele, não deve surgir uma ferramenta, no curto ou médio prazo, capaz de controlar foco, movimento de câmera ou diálogos ao mesmo tempo.

Ao mesmo tempo que o ambiente de cinema é extremamente controlado, ele também é espontâneo. O ator pode soltar uma fala que não estava no roteiro, por exemplo
Paulo Barcellos

E personagens feitos com IA? Podem ser uma realidade, de modo a integrar grandes produções? Para Barcellos, a inteligência artificial talvez a ajude a produzir ações mais detalhadas, mas vai demorar algum tempo para que isso aconteça.

paulo - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Paulo Barcellos, CEO da O2 Filmes, durante o podcast Deu Tilt
Imagem: Reprodução/UOL

Apesar de jogar um banho de água fria nos entusiastas da IA, Barcellos comenta que há bons usos de inteligência artificial em processos internos do cinema. Para ele, as ferramentas de IA podem ser usadas para prototipar ideias. Dessa forma, é possível descartar estéticas que não funcionem antes de partir para a gravação.

A O2 criou duas equipes com foco em tecnologia: uma chamada de artistas generativos, para entender como deve funcionar o universo de personagens sintéticos, e uma de programadores. "Temos uma galera de programação que está pesquisando há um ano como criar um modelo de LLM [grandes modelos de linguagem, na sigla em inglês] nosso e o quanto é viável", contou.

Um ponto difícil de ser pioneiro nessa área de coisas que ainda estão saindo é que tudo o que você está fazendo e gastando dinheiro pode ser inútil amanhã [porque] alguém pode lançar algo que resolve tudo
Paulo Barcellos, CEO da O2

Ele argumenta que, apesar do risco, não quer esperar para ver. O ideal é ir experimentando. Se surgir uma solução mais eficiente, fica o conhecimento profundo sobre o tema, completa.

O interesse hoje é baratear a produção, porque é muito caro fazer um filme ou série, principalmente no Brasil. Por que a gente não faz um Game of Thrones brasileiro? [A resposta é] Porque ninguém vai pôr dinheiro, não necessariamente porque a gente não conseguiria
Paulo Barcellos, CEO da O2

'IA não substituirá atores tão cedo'

O ator Will Smith, 55, deu as caras em uma propaganda na TV brasileira falando português em uma voz bastante parecida com a dele.

Esse processo usou de inteligência artificial e também foi discutido em Deu Tilt. Paulo Barcellos, CEO da O2 Filmes, afirmou que há usos interessantes de IA no cinema, mas, por enquanto, ainda não há nenhuma prática muito consistente no ramo que seja uma ameaça à atuação dos atores.

Se a gente conseguir estabelecer as regras do jogo, vai ser bom para todo mundo"
Paulo Barcellos, CEO da O2 Filmes

Filme com IA? 'Cinema interativo chama videogame'

Em uma de suas previsões, Sam Altman, CEO da OpenAI, disse que o futuro do cinema é se tornar mais interativo, como se fosse um videogame. Barcellos discorda dessa visão.

Cinema é uma experiência passiva, é onde você contempla uma história e não onde você tem que parar e ativar o seu córtex pré-frontal para pensar o que fazer
Paulo Barcellos

Ele acredita que, no futuro, vão surgir ferramentas tecnológicas bastante sofisticadas, sim, mas talvez para mostrar versões diferentes de uma cena ou de um personagem.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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