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Por que furto de celular superou roubo? Detalhe facilita vida do criminoso

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto
do UOL

De Tilt, em São Paulo

22/07/2024 04h00

O número de roubos e furtos de celulares caiu quase 5% em 2023, na comparação com o ano anterior, segundo um levantamento feito pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) publicado na quinta-feira (18).

A pesquisa também mostra que o número de furtos de aparelhos celulares (subtração do item sem agressão) superou pela primeira vez o número de roubos de telefones (quando há grave ameaça ou violência). Veja algumas hipóteses para explicar este fenômeno.

O que explica mais furtos e menos roubos?

O crescimento do número de furtos e a redução de roubos de celulares podem estar ligados ao fato de a pessoa que pratica o crime querer se colocar menos em perigo. "O roubo tem uma pena maior [4 a 10 anos; no caso de furto, é de 1 a 4 anos]. E, por ele ser feito também com grave ameaça, como arma de fogo e faca, existe a possibilidade de a polícia pegar, colocar na cadeia e imputar uma pena maior. O furto, por sua vez, é sem que a vítima perceba o que está acontecendo, então não tem a possibilidade de reação dela", explica Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O furto facilita o cometimento de outros crimes, principalmente se o celular for pego desbloqueado. Com acesso ao aparelho, é possível fazer transações bancárias, compras, entre outros.

No furto, pode ser mais fácil obter o celular desbloqueado do que no roubo. No roubo, o criminoso tem de pedir a senha; no furto, se o celular estiver desbloqueado, ele não vai ter de pedir senha nenhuma. Furtos podem ocorrer, por exemplo, quando uma pessoa mexe no celular na rua e tem o aparelho subtraído por alguém que passa de bicicleta.

O roubo envolve uma grave ameaça, como uma arma. Enquanto no furto, por exemplo, o cara da bicicleta pega o telefone desbloqueado e consegue fazer várias transações, como compra de comida em apps, e até acessar o aplicativo de banco.
Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O que aconteceu

Em 2023, houve 937.294 ocorrências relacionadas aos crimes de furto e roubo de celulares no país —o que dá quase 2 celulares subtraídos por minuto. No ano passado, houve 4,7% menos ocorrências do que no ano anterior.

De todas essas ocorrências:

  • 494.295 foram furtos em 2023 (contra 490.771 em 2022)
  • 442.999 foram roubos em 2023 (contra 492.205 em 2022)

Segurança digital

Falta para muita gente conhecimento básico de segurança digital para dificultar o trabalho dos criminosos, diz Alcadipani. "Tem gente que não tem autenticação em dois fatores, coloca senha fácil para desbloqueio do celular e ainda tem uma nota com todas as senhas escritas. Se essa vítima tem R$ 20 mil investidos, ela perde tudo rapidamente, pois os ladrões sabem onde buscar essas informações."

[Os celulares] São a porta de entrada mais fácil do crime organizado para uma série de outras modalidades delituosas que financiam o poder das organizações criminosas, a exemplo dos estelionatos e golpes virtuais.
Anuário Brasileiro de Segurança Pública

Depois do roubo ou furto, os celulares são usados de diferentes formas:

  • Receptadores compram celulares roubados e furtados;
  • Há tentativa de fraudes bancárias e golpes a partir da invasão do aparelho e obtenção de dados pessoais;
  • Revenda de peças no mercado irregular de celulares;
  • Extravio de celulares sobretudo para países africanos, onde o bloqueio brasileiro não tem efetividade.

O relatório diz que a modalidade se tornou lucrativa para o crime organizado e que "o enfrentamento a esse delito passa pelo aprimoramento da investigação e da cooperação de esforços entre Polícia Civil e Judiciário". A entidade cita como exemplo o que ocorre no Piauí, onde uma parceria entre polícia e o Judiciário busca devolver telefones subtraídos. Isso, na prática, fez com que houvesse redução de roubos no estado.

Quando e onde acontecem os crimes

Os roubos costumam ocorrer quando as pessoas estão saindo de casa (entre 5h e 7h) e quando estão voltando (entre 18h e 22h), em dias úteis (entre segunda e sexta). O local mais comum para ocorrer este delito é em vias públicas (78% dos casos).

Os furtos são mais frequentes entre 10h e 11h, e entre 15h e 20h. A maior parte das ocorrências (35%) é no fim de semana. Os locais onde costumam acontecer crimes dessa modalidade são vias públicas (44%) e estabelecimentos comerciais/financeiros (14%).

E os celulares mais roubados?

O levantamento do anuário mostra que, em ordem, as marcas mais roubadas ou furtadas foram:

  • Samsung: 37,4%
  • Apple: 25%
  • Motorola: 23,1%
  • Xiaomi: 10%

A Samsung é líder do mercado, então é comum que lidere o ranking de roubos e furtos. No entanto, em segundo lugar entre os celulares mais furtados ou roubados, vem a Apple —que é a quarta empresa com maior participação de mercado no Brasil.

A Motorola, por sua vez, é a terceira em roubos e furtos, mas a segunda em participação no mercado de celulares.

O anuário diz que isso "implica que usuários da Apple, talvez por ser uma marca com aparelhos mais caros, correm mais riscos de serem vítimas de roubos e furtos de celular em relação a outras marcas".

Quais cidades têm mais roubo proporcionalmente?

A pesquisa procurou dar uma perspectiva dos locais onde há mais roubo ou furto proporcionalmente. Para isso, a entidade fez um recorte para cidades com 100 mil habitantes ou mais.

  • Manaus (AM) - 2096,3 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Teresina (PI) - 1866 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • São Paulo (SP) - 1781,6 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Salvador (BA) - 1695,8 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Lauro de Freitas (BA) - 1695,8 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Belém (PA) - 1643 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Macapá (AP) - 1425,7 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Olinda (PE) - 1423,8 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Ananindeua (PA) - 1400,6 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes
  • Recife (PE) - 1292,7 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes

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