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De IA a internet: agronegócio leva tecnologia para tornar campo sustentável

do UOL

Mariana Grilli

Colaboração para Tilt, de São Paulo

22/07/2024 04h05

Se na década de 1970, o agronegócio brasileiro ainda era somente importador de alimentos, hoje em dia, o setor chama a atenção pela capacidade de produzir em larga escala para abastecer não só a indústria internacional, mas também a nacional.

O avanço é acelerado safra após safra devido à velocidade com que novidades chegam ao campo, da expansão da conectividade à inteligência artificial, passando pelo uso de dados para a ágil tomada de decisão. E essa adoção ocorre antes, dentro e depois da porteira.

O 'Brasil do Futuro - Agrotech', evento realizado pelo UOL, em junho, mostrou que diferentes tecnologias caminham juntas e passam a fazer parte do dia a dia de propriedades rurais de pequeno, médio e grande porte pelo Brasil. O mesmo vale para empresas de diferentes tamanhos. Enquanto as startups do setor, também chamadas de agtechs, criam soluções pensadas tanto para a agricultura familiar quanto para os maiores produtores de grãos, as Big Tech descobrem o potencial das fazendas do país. É o caso de Amazon e Microsoft.

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'Smartwatch' das vacas

Enquanto um colar inteligente pode captar informações sobre a saúde do rebanho bovino, tratores rodando em uma lavoura geram dados sobre a qualidade do plantio e o consumo de combustível. As duas soluções se apoiam na conexão, mas revertem em benefícios diferentes: a primeira leva bem-estar ao animal, enquanto a segunda torna a aplicação de insumos mais eficiente. Em comum, há o uso sustentável da terra e dos recursos naturais.

A startup brasileira Cromai trabalha com tecnologia semelhante, mas em outra linha: reduz a aplicação de defensivos no campo em 65%, conta Dirceu Ferreira, diretor de tecnologia do PwC Agtech Innovation e sócio na PwC Brasil.

"Através de visão computacional, ela consegue ativar um pulverizador para aplicar determinado herbicida para controlar diferentes tipos de erva daninha", disse.

Campo digital

A agricultura digital tem impulsionado a agenda ESG no campo ao viabilizar o uso de dados para favorecer a eficiência financeira e de recursos naturais. A gestão hídrica é um exemplo. Decisões certeiras sobre a irrigação ou o monitoramento de áreas produtivas podem economizar água.

Guilherme Belardo, líder de desenvolvimento de negócios digitais da Bayer para América Latina, conta que o uso de dados favorece todo o ecossistema do agronegócio. As seguradoras, conta ele, podem desenvolver modelos específicos de seguro rural com base no histórico de dados da microrregião e de um talhão específico dentro da propriedade.

Já Fernanda Spinardi, líder de Gestão de Soluções para Clientes na Amazon Web Services, acrescenta que o tratamento de dados feito pela empresa garantiu a avaliação de 43 mil registros do Cadastro Ambiental Rural (CAR) no estado do Pará.

Múltiplos segmentos

De robôs para identificar pragas e doenças a diversos modelos de financiamento para perfis diferentes de produtores. A ampliação das tecnologias é capaz de atender um amplo leque de segmentos no agronegócio.

Nessa economia cada vez mais conectada, produtores de menor porte muitas vezes são excluídos da base de fornecedores da indústria, seja por sempre conseguem garantir a consistência nos dados, seja por já terem tido problemas socioambientais. Lucas Tuffi, sócio e diretor de marketing e estratégia da Agrotools, explica que a interpretação de dados permite que eles sejam reinseridos à cadeia de valor.

Por outro lado, o cruzamento de distintas bases de dados viabiliza a concessão de crédito, explica Mariana Bonnora, cofundadora e diretora executiva da Sette.

Conectividade em curso

Para o universo dos dados e da inteligência artificial seja difundido no meio rural, é preciso que iniciativas públicas e privadas ganhem tração. Enquanto o Ministério das Comunicações planeja a criação de "distritos agrotecnológicos", voltados para pequenos e médios produtores, a Associação ConectarAGRO reúne companhias para levar soluções em conjunto, entre empresas envolvidas nos segmentos de telefonia e máquinas agrícolas.

A gente tem o objetivo de levar a conectividade, impactar a economia e vida das pessoas. A associação tem um indicativo de conectividade rural, junto com Universidade de Viçosa, a Anatel e o Ministério da Agricultura, buscando informações e mostrando onde tem infraestrutura de cobertura e onde não tem
Renato Bueno, Diretor financeiro na ConectarAGRO e diretor de novos negócios para América Latina na Nokia

A associação também está em projetos como a Fazenda Conectada, no município de Água Boa, no Mato Grosso, uma parceria entre a montadora CNH Industrial e a operadora TIM que levou internet à propriedade. Também participaram a consultoria Agricef e a Unicamp para avaliar a performance da safra a partir da conexão com o sinal 4G.

No primeiro ano com internet, na safra 2022/23, a propriedade teve 7% a mais de produtividade em comparação à média das fazendas do entorno e 13% a mais do que a média no Brasil. Também houve aumento de produção de grãos em 18% e desdobramentos positivos ao meio ambiente, com redução de 25% de uso de combustível na fazenda.

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