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Cadáver sumiu por 50 anos: o caso misterioso da mulher de 2,41 metros

Representação da possível aparência de Jane Bunford - Divulgação/Guinness World Records
Representação da possível aparência de Jane Bunford Imagem: Divulgação/Guinness World Records
do UOL

Giovanna Arruda

Colaboração para o UOL

16/07/2024 04h00

A britânica Jane Bunford morreu em 1922, aos 26 anos, vítima de problemas físicos causados por um desequilíbrio hormonal. 50 anos após sua morte, Jane recebeu o título de mulher mais alta do mundo. O corpo dela, no entanto, não estava onde acreditava-se estar.

Crescimento fora do comum

Nascida em Birmingham, na Inglaterra, Jane Bunford tem uma história cercada de mistérios. Durante sua vida, foi considerada a mulher mais alta do mundo e, por anos após sua morte, carregou o título de pessoa mais alta da história. Até hoje, é a britânica mais alta de todos os tempos.

Crescimento descontrolado seria resultado de acidente. De acordo com o Guinness, Jane caiu de bicicleta aos 11 anos e sofreu uma fratura no crânio. Apesar de já ter uma altura acima do normal antes do acidente, acredita-se que a queda tenha causado um dano permanente à hipófise da garota. Além de ser responsável pelo funcionamento de glândulas, a hipófise também regula funções como o crescimento. A atividade cerebral atípica causada pela lesão teria liberado hormônios em cargas excessivas, acentuando o crescimento de Jane.

Assim como a altura de Jane, o tamanho de seu cabelo também era recorde. Apesar de não haver fotografias de Jane, registros indicam que ela tinha um cabelo longo, dividido em duas tranças e com uma tonalidade entre ruivo e castanho escuro. A edição do Guinness de 1972 concedeu a Jane o recorde de cabelo mais longo do mundo: as madeixas chegavam até os tornozelos de Jane, indicando um comprimento de mais de dois metros.

Segundo o Guinness, Jane chegou a recusar a oferta "considerável" de um homem que pretendia comprar seu famoso cabelo. Jane também teria recusado diversas oportunidades de participação em shows.

Na adolescência, ela media 1,98 metro. Com dificuldades para passar pelas portas e para caber nas cadeiras convencionais, Jane era "atormentada" pelos colegas, de acordo com o Guinness. A perseguição a Jane fez com que seus pais a tirassem da escola antes de completar 13 anos. Depois de abandonar os estudos, Jane trabalhou na fábrica de chocolates Cadbury's e, aos 15 anos, a jovem já havia ultrapassado os dois metros de altura.

Em 1916, aos 21 anos, Jane atingiu o pico de sua altura em pé: 2,39 metros. O recorde registrado, de 2,41 metros, é uma medida estimada ajustada à sua curvatura.

A atenção que Jane recebia pela sua altura não a agradava. De acordo com o Guinness, a britânica viveu de forma reclusa em seus últimos anos de vida, nos quais trabalhava como babá para seus vizinhos. Nessa época, Jane teria mantido uma amizade com uma mulher com nanismo chamada Emma.

O agravamento da curvatura da coluna causado por seu tamanho impedia Jane de ficar totalmente ereta. Além de não se manter em pé, Jane sofria com desconfortos e dores causados por problemas em suas articulações.

Morte e mistério

Em abril de 1922, Jane morreu, aos 26 anos. Em sua certidão de óbito, foram listados gigantismo e hiperpituitarismo, caracterizado pela produção excessiva de hormônios pela hipófise.

O caixão de Jane foi feito sob medida, mas enterrado vazio. Para que pudesse ser enterrada, a jovem precisou de um caixão de 2,5 metros. Segundo o Guinness, o caixão especial foi trancado na igreja local na véspera do funeral da jovem. O corpo de Jane, porém, não estava dentro dele.

Corpo de Jane foi encontrado na universidade local. Quase 50 anos depois da morte de Jane, em 1971, o Guinness Book divulgou quem seria a mulher mais alta do mundo: "gigante acromegálica não identificada, que faleceu em Birmingham em 1921, com aproximadamente 24 anos". De acordo com o registro do livro, a mulher teria atingido a marca de 2,4 metros. Com o texto, foi divulgada uma imagem do esqueleto, exposto no museu de anatomia da Universidade de Medicina de Birmingham. Uma nota incluída no final do livro afirmava: "A pesquisa mais recente indica que ela morreu em 1922."

As características do registro do Guinness, como o local, a data e a idade da mulher, revelaram que o corpo divulgado era o de Jane. Ao ser questionada sobre como havia conseguido o corpo de Jane, a universidade se recusou a prestar esclarecimentos. Ao Daily Mirror em 1972, o porta-voz da universidade teria declarado que "não há razão para supor que tenhamos conseguido o corpo por qualquer outro método que não seja o apropriado". A universidade, então, passou a proibir fotografias do esqueleto e a recusar novas entrevistas.

Também em 1972, uma entrevista sobre o caso de Jane foi veiculada na TV. Nela, uma mulher conhecida como senhora Booth, que conhecia Jane por seus serviços como babá, explicou que os colegas que levaram o caixão de Jane na cerimônia teriam pontuado que o corpo da jovem não estaria dentro do caixão, dado o peso. "Estava muito mais leve do que eles estavam esperando", declarou. Senhora Booth também disse que o fato de a igreja ter sido trancada após receber o caixão de Jane era um detalhe estranho, já que as portas do local permaneciam abertas.

De acordo com o Guinness, ainda não se sabe se o corpo de Jane foi vendido pela família para a universidade ou se foi roubado. Apesar de toda a polêmica envolvendo o caso, o esqueleto da britânica permaneceu exposto na universidade até 2005, quando uma mudança na legislação permitiu que seus parentes o tivessem de volta. Em seu segundo funeral, Jane foi enterrada sem lápide e em cerimônia particular.

Jane perdeu o título de pessoa mais alta do mundo para Zeng Jinlian. A chinesa, que morreu em 1982 aos 17 anos, alcançou a marca de 2,49 metros.

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