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O polêmico assassinato do diretor dias antes de lançar '120 Dias de Sodoma'

Cena do filme "Salò ou os 120 Dias de Sodoma" - Divulgação
Cena do filme "Salò ou os 120 Dias de Sodoma" Imagem: Divulgação
do UOL

De Splash, em São Paulo

02/07/2024 04h00

"Salò ou 120 Dias de Sodoma" foi lançado em 1975, mas até hoje choca o público. Baseado na obra do Marques de Sade, o filme foi dirigido pelo italiano Pier Paolo Pasolini, que ficou famoso não apenas por comandar a polêmica produção, mas também por ter sido assassinado dias antes do longa estrear.

O que aconteceu

Na madrugada do dia 1º de novembro de 1975 Pasolini foi brutalmente assassinado, em um bairro periférico de Roma, na Itália. O cadáver foi encontrado às 6h30 da manhã.

Giuseppe "Pino" Pelosi, um garoto de programa que à época tinha dezessete anos, foi tido como o culpado pela morte. Ele já era conhecido pela polícia por roubos de veículos, tendo sido detido na mesma noite do crime por estar guiando o carro de Pasolini.

Segundo a Justiça italiana, o jovem teria sido abordado por Pasolini, que lhe ofereceu dinheiro e o chamou para entrar em seu carro. Na versão de Pelosi, os dois brigaram em decorrência das pretensões sexuais de Pasolini.

O diretor teria ameaçado o jovem com um pedaço de pau. Depois, Pelosi teria conseguido tirar arma de Pasolini e o golpeou várias vezes, até ele cair para fora do carro, mas ainda com vida. Então, Pelosi teria atropelado o cineasta diversas vezes, destruindo sua caixa torácica.

Pelosi foi condenado em primeira instância por homicídio doloso em 4 de dezembro de 1976, sentença confirmada pela Corte de Apelação. Ele ficou preso até 2005.

Pier Paolo Pasolini é o cineasta por trás do polêmico 'Salò ou 120 Dias de Sodoma' - Will / ullstein bild via Getty Images - Will / ullstein bild via Getty Images
Pier Paolo Pasolini é o cineasta por trás do polêmico 'Salò ou 120 Dias de Sodoma'
Imagem: Will / ullstein bild via Getty Images

Outra versão

Um relatório da Comissão Parlamentar Antimáfia da Itália indicou que o homicídio do cineasta Pier Paolo Pasolini pode estar ligado ao furto das versões originais de algumas cenas de "Salò ou os 120 Dias de Sodoma". O filme ainda estava em produção, tendo sido lançado poucas semanas depois do crime. Segundo o relatório final do comitê, divulgado em 2020, Pasolini havia viajado a Ostia, no litoral de Roma e local de sua morte, justamente para tentar recuperar as gravações.

A Comissão Parlamentar Antimáfia ainda diz que essa hipótese teria tido o envolvimento de "grupos criminosos de destaque", como a Banda della Magliana, organização já extinta e que mantinha laços com a máfia e a extrema direita italiana. "Soluções judiciais parecem agora improváveis, mas ainda é útil, sob a perspectiva histórica, que as buscas pelas motivações e modalidades das agressões que causaram a morte de Pasolini, ambas jamais esclarecidas, sejam eventualmente retomadas", afirma o comitê, acrescentando que suas suspeitas ainda são "embrionárias".

Giuseppe "Pino" Pelosi morreu de uma doença não revelada em julho de 2017. Menor de idade na época do crime, Pelosi disse inicialmente que matou o cineasta durante um encontro sexual frustrado, porém ele mudaria sua versão décadas mais tarde, afirmando que o intelectual foi assassinado por outras três pessoas.

No entanto, Pelosi nunca deu nenhuma pista que permitisse a identificação dos supostos autores. Até hoje, a família de Pasolini acredita que o cineasta, um comunista convicto, tenha sido morto em função de motivos políticos.

Salò ou os 120 Dias de Sodoma (1975) - Reprodução - Reprodução
'Salò ou os 120 Dias de Sodoma' foi dirigido por Pasolini
Imagem: Reprodução

'Salò ou 120 dias de Sodoma'

A história é baseada na obra do Marques de Sade "Os 120 dias de Sodoma", e se passa em 1944, na cidade italiana de Saló, ocupada por nazistas. Quatro fascistas sequestram 18 jovens e os aprisionam em um palácio. Na mansão vigiada por guardas, os fascistas cometem todo o tipo de experiências com os jovens, que passam a ser usados como uma fonte de prazer sexual, masoquismo e morte.

Dividido em quatro segmentos inspirados na "Divina Comédia" de Dante Alighieri: o Anteinferno, o Círculo de Manias, o Círculo de Excremento e o Círculo de Sangue. O filme contém referências frequentes e várias discussões ao livro "A Genealogia da Moral" (1887), de Friedrich Nietzsche, ao poema "Os Cantos", de Ezra Pound, e Marcel Proust, "Em Busca do Tempo Perdido".

A sua temática é forte e chocante, com cenas de tortura sexual e psicológica, violência explícita e até mesmo coprofilia — a excitação sexual causada pelo contato com as fezes. No Brasil, o filme está disponível na Darkflix, plataforma brasileira de streaming voltada ao público de terror.

Filme foi proibido em diversos países. Ele estreou no Festival de Cinema de Paris em 23 de novembro de 1975 e, depois, teve uma breve exibição nos cinemas da Itália, até ser banido em janeiro de 1976. No Brasil, "Salò" chegou em 1988, após o fim da censura no país. Ele foi exibido no Rio.

Repercussão

No Letterboxd, rede social voltada a filmes, o filme tem nota 3,1, de 5. Entre os comentários positivos estão: "Meus pais finalmente cederam e assinaram o Disney+, então obviamente essa foi a primeira coisa que assisti", escreveu um usuário. "Um filme absurdamente complexo que infelizmente foi resumido à infâmia de carregar o título de 'mais nojento/mais chocante' já feito, quando é muito mais do que isso", disse outro.

Entre os que não gostaram, estão: "Pior filme que assisti em toda a minha vida, o filme não leva a lugar nenhum, puro suco de maldade", escreveu. "Vi cerca de 30 minutos antes de sair da sala com nojo. Todas as pessoas que chamam isso de cinema estão mentindo. Fui levado a acreditar que verdadeiros cinéfilos assistem e entendem esse filme, mas isso não pode estar mais longe da verdade", escreveu outro.

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