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Sem contratos fixos, Globo e streaming se abrem para novatos e pluralidade

Tulio Starling e Larissa Bocchino estreiam em novelas como os protagonistas de "No Rancho Fundo" - Fabio Rocha/TVGlobo
Tulio Starling e Larissa Bocchino estreiam em novelas como os protagonistas de 'No Rancho Fundo' Imagem: Fabio Rocha/TVGlobo
do UOL

De Splash, no Rio

01/07/2024 04h00

Quem assiste às novelas atualmente, vê que o Brasil é representado de maneira mais realista que há alguns anos e décadas. Há mais diversidade na escalação de jovens atores de diferentes regiões, além de veteranos que tinham espaço no teatro, mas não chegavam à TV.

Em "Vai na Fé", novela exibida pela Globo em 2022, 70% do elenco era negro, algo quase inimaginável há poucos anos. "No Rancho Fundo", exibida no horário das seis, tem mais de 20 atores nordestinos — e protagonistas mineiros novatos.

Realidade bem diferente de apenas seis anos atrás: em 2018, a escalação de "Segundo Sol" gerou críticas. A novela das 21h era ambientada na Bahia, estado com a maior população negra do Brasil, mas o elenco era majoritariamente branco.

Se olhar adiante, as próximas novelas dos três horários da Globo serão protagonizadas por jovens atrizes negras. Gabz estreará em "Mania de Você", trama de João Emanuel Carneiro para as nove, enquanto Duda Santos, que estreou na primeira fase de "Renascer", estará em "Garota do Momento", futura novela das seis. Já Jéssica Ellen, a mais experiente dessa trinca, em "Volta por Cima", próxima das sete.

Para Splash, a Globo diz que realizou um "profundo planejamento de renovação e qualificação de talentos" nos últimos anos. Considerada a maior produtora de novelas do Brasil, a emissora busca profissionais — autores, diretores, produtores, figurinistas, elenco, entre outros — em festivais, escolas de teatros, roteiros e cinema em diferentes regiões do país.

A aparição de novos rostos na TV acontece após a emissora carioca acabar com o regime de contratos fixos. Motivada por cortes de gastos, em sincronia com o mercado audiovisual, passou a contratar atores apenas por obra e com salários mais enxutos. Sem medalhões da dramaturgia, a emissora teve de abrir os olhos e buscar novos nomes.

Para Mauro Alencar, especialista e pesquisador em TV, o fim dos contratos fixos "permite uma alta rotatividade em produção e exibição midiática". Ele explica que esse processo abriu portas para novatos e para aqueles que estão no teatro há anos. Ele pontua que o modelo de contrato na Globo não é o único fator responsável para dar espaço aos novatos: o crescimento das plataformas de streaming também é um fator relevante.

O que abre as portas para os artistas, em geral, não é apenas o atual formato de contrato e, sim, a ampliação do mercado de trabalho. E aí há que se registrar e louvar também pela produção do streaming. É disso que o mercado efetivamente precisa: empresas produtoras de ficção audiovisual.
Mauro Alencar

Em breve, a Globo ganhará concorrência no mercado de novelas — atualmente ela domina o mercado, já que SBT e Record se restringem a novelas infantis e bíblicas, respectivamente. Netflix se prepara para estrear "Pedaço de Mim", melodrama protagonizado por Juliana Paes e Vladimir Brichta, enquanto HBO Max prepara "Beleza Fatal" e remake de "Dona Beija", todas com ex-atores da emissora.

Família protagonista de 'Vai na Fé' era negra; sucesso na TV, novela foi considerada um marco de representatividade - Globo/João Miguel Júnior - Globo/João Miguel Júnior
Família protagonista de 'Vai na Fé' era negra; sucesso na TV, novela foi considerada um marco de representatividade
Imagem: Globo/João Miguel Júnior

Em busca de novos nomes

A Globo afirma que sua área de Pesquisa e Desenvolvimento Artístico investe em iniciativas de captação e formação de talentos. Além disso, olha "a cadeia de talentos artísticos, tanto os contratados quanto os que estão no mercado, com foco em quatro pilares fundamentais: acesso, aceleração, relacionamento e influência", explica Bernardo Portugal, diretor de Talentos Artísticos, para Splash.

A oficina online Potencializa, por exemplo, é voltada para atores e preparadores de elenco que nunca trabalharam com a Globo. A empresa se destacou nas pesquisas da emissora, seja em festivais de cinema e teatro pelo país ou nas plataformas digitais. Já o projeto Mergulho na Cena afina a seleção do Potencializa e leva os selecionados para os estúdios da Globo.

O Mergulho na Cena complementa a ação do Potencializa e cria possibilidades reais de escalação com esses talentos. Muitos têm sido contratados para as nossas obras. Olhamos o material do Potencializa, além das demais pesquisas, promovendo uma diversidade não só de gênero e raça, mas de idade, com atores de 18 a mais de 70.
Bernardo Portugal

Entre os artistas estão Maria Alcina, Arrigo Barnabé, Chica Carreli, Maurício Tizumba e Meste Ivamar. "Todos acima dos 60. Com isso, contemplamos as famílias e as relações dos personagens, para que o olhar não fique restrito a um só núcleo", diz Bernardo.

Já o pesquisador Mauro Alencar reforça que não basta escalar atores negros e de diversas regiões. Para maior diversidade e representatividade, é preciso escrever e contar histórias na TV aberta e no streaming que dialoguem com o hoje e o amanhã. "Foi dessa maneira que a telenovela e séries de ficção foram se desenvolvendo e conquistando o mercado estrangeiro. Ou seja, é o conteúdo que faz a forma."

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