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Nesta festa, você sorteia as chaves e tem noitada de sexo com marido alheio

Já pensou em participar de um swing assim? - Getty Images/iStockphoto
Já pensou em participar de um swing assim? Imagem: Getty Images/iStockphoto
do UOL

Colaboração para Universa

29/06/2024 04h00

Os casais chegam à festa e depositam as chaves do carro em um pote. Depois que todos beberam e ficaram soltinhos, cada mulher escolhe uma chave e deve sair com o feliz proprietário dela para uma noitada de sexo. Claro, não vale ser o próprio maridão.

Outra opção: as chaves dos quartos da casa ficam em uma caixa. Os homens se distribuem nas suítes e esperam no escurinho. As mulheres pegam uma chave e testam as fechaduras, até abrir uma porta. Aí começa a festinha a dois.

Esse jogo erótico surgiu nos primórdios do swing nos Estados Unidos, principalmente entre os anos 1950 e 1970.

Esses relacionamentos liberais começaram dentro da Aeronáutica dos EUA com o decorrer da Guerra Fria. Como era alto o índice de mortalidade entre os pilotos, criou-se uma união forte entre as famílias.

A ideia era que o escambo de parceiros aumentava a intimidade, a amizade e a rede proteção. Depois, quando surgia uma nova viúva, ela era amparada pelos outros casais, amorosa e sexualmente.

Do ambiente militar para os subúrbios das grandes cidades, o swing se popularizou principalmente após a revolução sexual no fim da década de 1960 e a disseminação da pílula anticoncepcional.

Calcula-se que no início dos anos 1970 havia um milhão de casais nos EUA que tinha "relacionamentos abertos", segundo o livro "A Mulher do Próximo", do célebre jornalista Gay Talese. Essa publicação também cita o psicoterapeuta norte-americano Albert Ellis, que em 1965 fez a primeira referência pública sobre as "key parties" em uma conferência.

Era a época do "faça o amor, não faça a guerra", e os pombinhos suburbanos não queriam deixar só para os hippies tanta liberação dos costumes.

Ser swinger era pop. Antes, nos países ocidentais a troca de parceiros era restrita a pequenos grupos, geralmente bem elitizados. Depois, a onda liberal deu uma retraída na década de 1980 com a epidemia de aids e só retomou seu crescimento já no século 21.

O termo inicial era "troca de esposas" (wife swapping), o que demonstra um certo machismo no meio swingueiro da época. De lá pra cá, as mulheres passaram a comandar a etiqueta desse universo - e, hoje em dia, não aceitam "serem sorteadas".

Mais recentemente "o jogo da chave" foi testado no Brasil. Dono da balada liberal Code Club, Willians de Souza lembra ter ido em uma festa nesse estilo em Holambra, cidade interiorana a 134 quilômetros de São Paulo.

"Foi lá pelo ano 2000 ou 2001. O pessoal alugou um sítio com muitos quartos. Tinha show erótico e bebida. Depois os homens iam para os quartos, e as mulheres escolhiam as chaves", conta Willians. "Era mais uma festa temática, mas não pegou por aqui. Na teoria, parece uma boa ideia, mas na prática é fria e meio sem sentido a interação. De cara, não vi muito potencial."

Quem organizou foi um dos proprietários da casa de swing Bon Vivant, a pioneira do gênero no Brasil.

A influenciadora liberal Marina Rotty concorda. "Era comum nos EUA. Pode até ser que, por lá, ainda existam. O gringo swinger é bem direto na hora do sexo", analisa.

"Esse jogo das chaves não funciona no Brasil porque prezamos muito pela liberdade de escolher com quem ficar. A menos que a festa aconteça entre casais onde todos se desejam, o que é muito difícil acontecer, o negócio não funciona", completa Marina.

Foi exatamente por seu potencial de tretas, junto com a situação excitante, que atraiu tanta atenção da indústria do entretenimento - até apareceu no desenho animado Simpsons, com o casal Homer e Marge convidados para uma surubinha dessas sem saber do que se tratava.

Também foi tema de episódios de séries como "Will and Grace", "That '70s Show" e "Masters of Sex". Atualmente há um seriado chamado "El Juego de Las Llaves", que está em sua quarta temporada. De origem mexicana, a ficção no streaming da Amazon Prime estreou em 2019 e gira em torno de quatro casais de amigos que trocam de parceiros, colecionando situações dramáticas e cômicas.

No cinema, o filme mais relacionado com o assunto é "Tempestade de Gelo" (Ice Storm), do diretor taiwanês Ang Lee. Com um elenco que contava com Sigourney Weaver, Kevin Kline, Christina Ricci, Tobey Maguire e Elijah Wood, o longa-metragem foi rodado em 1997 e é ambientado em 1973. Na trama, casais suburbanos entediados participam de uma festa das chaves, e todas as crises conjugais e problemas familiares vão aparecendo à medida que o joguinho engrena.

Hoje em dia, as "key parties" estão mais para lendas urbanas do que prática comum entre os não-monogâmicos.

Nos EUA, há atualmente uma versão mais amena em festas temáticas chamadas "lock and key". Na entrada, as garotas recebem cadeados, e os garotos ganham chaves. As duplas se formam a partir da combinação, mas uma chave serve para alguns cadeados, o que abre a possibilidade das pessoas minimamente escolherem seus parceiros.

A intenção é que os solteiros se conheçam, engatem uma conversa e algo mais, sem precisar chegar aos finalmentes, afinal, nesses encontros não há corredores com quartinhos libidinosos como nas festinhas de antigamente.

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