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Apalpada e chamada de 'vadia': ciclista chora ao narrar 3º caso de assédio

do UOL

Maurício Businari

Colaboração para Universa, em Santos (SP)

27/06/2024 12h38

A ciclista amadora Letícia Besse, 31, viralizou nas redes sociais após relatar ter sido vítima de assédio sexual durante um treino em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.

O que aconteceu

Letícia enfrentou um momento aterrorizante durante um treino de mountain bike. Treinando em uma estrada próxima à sua casa, em Petrópolis, Letícia foi abordada por um motociclista que a assediou verbalmente e a seguiu.

Ela estava voltando para casa quando o homem a abordou. "Uma moto passou por mim na contramão. Ele ficou me encarando e, segundos depois, senti que alguém estava próximo de mim. Era ele que tinha retornado com a moto", contou Letícia a Universa.

A abordagem do motociclista foi direta e intimidadora. "Ele parou ao meu lado, diminuiu a velocidade e começou a falar comigo. Olhei nos olhos dele e, na hora, me assustei. Quando ele disse 'Bom dia, você não vai me responder? Sua vadia', eu já sabia o que ele queria".

A reação da ciclista foi imediata e desesperada. Ela conta que começou a gritar, e o homem decidiu ir embora ao perceber que ela estava com o celular na blusa, como se estivesse gravando tudo. "Já tinha acontecido antes, mas dessa vez senti mais medo, porque ele voltou atrás de mim e olhou nos meus olhos".

O vídeo que Letícia postou no Instagram teve mais de um milhão de visualizações, o que a surpreendeu. Ela decidiu compartilhar sua experiência para alertar outras pessoas e buscar apoio. "É muito triste uma mulher ter que escolher um horário 'mais seguro', ou precisar de uma companhia masculina para conseguir fazer algo tão natural que é se exercitar", escreve no post.

A repercussão trouxe tanto apoio quanto comentários negativos. Muitas mulheres compartilharam relatos semelhantes, e Letícia conseguiu identificar um dos assediadores graças à ajuda de uma seguidora. Por outro lado, ela recebeu muitos comentários ofensivos de homens e decidiu silenciar os comentários. "Fiquei ansiosa e angustiada", conta.

O incidente, ocorrido no dia 20, não foi isolado. Letícia já havia sido assediada três vezes antes.

Nas outras três vezes, acredito que tenha sido a mesma pessoa, porque foi no mesmo local e ele passou a mão na minha bunda. A primeira vez aconteceu quando eu estava começando a treinar com planilha e treinador, pegando firme.
Letícia

Medo constante

O medo tem sido uma constante na vida de Letícia desde esses incidentes. "A primeira vez que isso aconteceu, voltei para casa chorando e fiquei mal, mas voltei a treinar no dia seguinte. Agora, estou com muito medo e não estou conseguindo cumprir meus treinos".

Para aumentar sua segurança, Letícia decidiu treinar em casa, usando um rolo interativo. Embora não goste de treinar em ambientes fechados, essa foi a solução que encontrou.

É uma alternativa segura, mas é chato estar dentro de casa. Amanhã eu vou tentar treinar, colocar meu treino em dia, porém, o sentimento de medo, ele está em mim, entendeu? Ele não está indo embora, eu não estou me sentindo segura.
Letícia Besse

Procurar a polícia após um dos incidentes não resultou em apoio significativo para ela. Sem a placa do agressor, a polícia disse que nada poderia ser feito. "Me senti mal na hora. Poderiam ter me ouvido ou procurado imagens do agressor de câmeras de monitoramento".

Além de ser ciclista, Letícia trabalha como veterinária de equinos, uma área geralmente dominada por homens. E, mesmo nunca tendo enfrentado preconceito na profissão, pois ela trabalha com o marido, que também é veterinário, ela se mantém séria e focada no trabalho.

Para Letícia, o mais importante é nunca desistir de treinar e de fazer aquilo que se quer. Para as mulheres que, como ela, já sofreram ou temem sofrer assédio, ou importunação durante os treinos, a ciclista sugere que busquem uma companhia, compartilhem a localização em tempo real com alguém próximo, e treinem em locais com mais movimento.

Eu não vou parar de treinar por causa do medo. Quero que todas as mulheres saibam que não estão sozinhas. Precisamos falar sobre isso, denunciar, e apoiar umas às outras. Não podemos deixar que o medo nos impeça de viver nossas vidas plenamente.
Letícia Besse

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