A animação "Avatar: A Lenda de Aang" é um clássico cultuado, mas não teve tanta sorte em adaptações. Criada por Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko no começo dos anos 2000, a produção teve uma versão live action em 2010 dirigida pelo renomado diretor M. Night Shyamalan, mas foi um desastre. Apressada, com efeitos especiais questionáveis e não mantendo a essência do original, o filme mostrou que talvez as aventuras dos dobradores de elementos não funcionassem com atores de verdade. É aí que, em pleno 2024, a Netflix decidiu provar o contrário com "Avatar: O Último Mestre do Ar".
O processo de produção conturbado desse novo live action reflete um pouco o pé atrás dos fãs com essa série da Netflix. A dupla DiMartino e Konietzko até fez parte originalmente da adaptação, mas abandou esse bisão voador após algumas diferenças criativas. Albert Kim assumiu as rédeas do projeto e tentou provar que a jornada de Aang ainda funcionaria em um live action. O resultado acabou sendo bastante positivo.
"Avatar: O Último Mestre do Ar" apresenta praticamente a mesma história do desenho animado da Nickelodeon: em um mundo no qual povos específicos conseguem manipular um dos quatro elementos (fogo, ar, terra e água), a cada geração nasce um Avatar, um ser especial com o poder de dobrá-los, verbo usado para quem os controla. Segundo as lendas, o Avatar é quem trará o equilíbrio e a paz para o mundo.
Aang (Gordon Cormier), dos nômades do ar, é o Avatar da vez, porém, por um descuido, acaba congelado em um iceberg. Ao acordar 100 anos depois, Aang descobre que sua raça foi dizimada pelo Senhor do Fogo Ozai (Daniel Dae Kim), cujo objetivo é dominar o mundo. Agora na companhia de Katara (Kiawentiio) e Sokka (Ian Ousley), dois jovens do Povo da Água, Aang viaja pelo mundo buscando aprimorar suas habilidades e fugindo da perseguição de Zuko (Dallas Liu), herdeiro da Nação do Fogo.
A história simples esconde uma possibilidade dramática forte. Mesmo sendo uma criança, Aang precisa obter a responsabilidade de ser um Avatar enquanto lida com o peso na consciência de descobrir que todas as pessoas próximas foram exterminadas 100 anos atrás. Katara, por sua vez, enfrenta todo o machismo da sociedade que não a enxerga como uma dobradora de água capaz de participar de uma guerra. Até mesmo o antagonista Zuko também tem seu passado triste, buscando reconhecimento e afeto de um pai que constantemente o humilha.
Tudo no live action se encaminha para que esse roteiro dramático seja aproveitado em sua melhor forma. A direção optou por seguir uma linha menos caricata, ainda que respeitando a essência da série, e os atores parecem ter compreendido todas as nuances de seus personagens. Ninguém está fora do tom, e em especial Kiawentiio e Dallas Liu brilham com seus personagens.
Para quem se preocupa com as diferenças com o desenho animado original, saiba que "Avatar: O Último Mestre do Ar" é uma adaptação bastante fiel. Algumas coisas foram mudadas, e outras foram adiantadas de eventos futuros, mas o que a Netflix apresentou foi uma versão bastante competente da primeira temporada do original, cortando a "gordura" daqueles episódios em que nada acontece e o Time Avatar apenas viaja por cidades e conhece novas pessoas. Porém, isso acaba sendo também um ponto negativo do live action.
Esses "episódios filler" (definição dada pelos fãs aos episódios sem evoluções significativas na história) são importantes para desenvolver a relação entre os personagens. No decorrer dos 20 episódios da animação, o laço de amizade entre o Time Avatar se fortalece após tantas aventuras, mas na série da Netflix assistimos apenas ao essencial. Alguns poucos fillers ganharam espaço no live action, como narrativas paralelas agora inseridas em eventos importantes da história, mas não o bastante para acreditarmos no desenvolvimento da relação entre aquelas pessoas.
Porém, mesmo assim, esse pequeno problema não afeta "Avatar: O Último Mestre do Ar". Os 8 episódios do live action são capazes de emocionar, divertir e apresentar ótimas cenas de ação. O resultado é uma série capaz de conquistar quem passou ileso ao fenômeno "Avatar" no passado, mas também ativar a nostalgia de quem já era fã de Aang e os demais. E que a série atinja o êxito esperado, até para que possamos ver a Toph na próxima temporada.