Descubra as origens pirata e viking dos navios da série 'One Piece'
A série de animação One Piece conquistou o mundo com o mangá e anime japonês do ilustrador e autor Eiichiro Oda, com mais de mil episódios —e 26 anos de existência. Uma nova série, agora em live-action, estreou mundialmente na Netflix em 31 de agosto, chegou ao top 10 em 93 países, sendo que em primeiro lugar em 46 deles. No Brasil, também estava na lista dos mais bem colocados até o término dessa matéria.
O fenômeno conta a história do jovem de chapéu de palha Monkey D. Luffy. Ele sonha em receber o título de Rei dos Piratas do falecido Gol D. Roger, que escondeu seu tesouro chamado One Piece na região perigosa Grand Line. Para atingir seu objetivo, sai em busca de uma tripulação sonhadora e habilidosa para enfrentar os perigos do caminho.
As aventuras de Luffy nasceram da publicação da narrativa de Romance Dawn, em 1996, na qual o personagem usava seus poderes de borracha para resgatar o pássaro de uma garotinha. No ano seguinte, Eiichiro Oda começou a publicar os mangás de One Piece.
Quando criança, o autor gostava de piratas e assistia ao desenho animado Vicke the Little Viking, de 1974, conforme relatou em entrevista a Viz. O menino admirava os vikings e sonhava ser um deles quando crescesse.
Chama a atenção a criatividade de Oda para navegar na história e criar um universo fora do tempo histórico, principalmente os barcos que trazem em sua estrutura a identidade dos grupos. A inspiração para eles veio dos piratas europeus e japoneses e dos vikings.
Origem dos piratas
O termo "pirata" tem origem latina, que significa "assaltantes do mar". O auge das suas práticas ocorreu a partir da Idade Moderna, entre os séculos 17 e 18. Na chamada 'Era de Ouro da Pirataria', seus roubos se tornaram um problema para as grandes potências da época: Inglaterra, Portugal, Espanha, França e Holanda.
As ações de pirataria eram praticadas de forma autônoma ou com grupos organizados, que navegavam pelos mares saqueando navios e cidades por objetos valiosos pela Europa, África e Ásia. Mas gregos, romanos, fenícios, árabes, persas, indianos também relatam a existência de prática desse tipo.
Nos países asiáticos, os piratas eram chamados de Wakou (em tradução livre "bandidos do país de Wa") e Ronin (samurais sem um senhor). Existiram entre os séculos 13 e 16 e atuavam na China, Coreia e Japão.
Vikings eram aventureiros
Os mais antigos são os vikings de origem nórdica, que viveram na Idade Média entre os séculos 8 e 11. Eram grupos que tinham uma atividade marítima aventureira, faziam saques por onde passavam, mas não eram permanentes. A prática começava no início da fase adulta dos seus homens e era realizada apenas em partes do ano. No restante, eles viviam como agricultores, comerciantes, pastores.
As aventuras realizadas por eles foram responsáveis por levar diversidade étnica para a Europa, como revelam estudos de genética atuais. As rotas de navegação se estenderam até o Canadá e um estudo publicado em 2021 da revista Nature sugere que o grupo possa ter chegado nas Américas 400 anos antes de Colombo.
Estruturas dos barcos
Os barcos são o meio de locomoção dos piratas e existem diversas estruturas conforme a necessidade, a localidade e a cultura. 'One Piece' traz navegações estravagantes e criativas. O navio dos chapéus de palha da ficção se chama Going Marry, e tem uma estrutura que lembra uma caravela, galeão ou um drakkar, segundo os historiadores.
Drakkar: de origem viking dos séculos 8 e 12, a estrutura do barco é longa, de casco raso, que possibilitava navegar em alto mar e adentrar em rios e riachos. A única vela é quadrada. Naquela época, os nórdicos tinham outras estruturas de barcos também, que eram usados para pesca e transporte de grandes cargas.
Caravelas: o tamanho pequeno ou médio deste barco permite mais rapidez, mas a sua estrutura é frágil. A retratada no mangá são do século 15 e 16, têm 20 a 25 metros de comprimento, dois mastros, um de vela quadrada e outro de vela latina (triangular). A estrutura permitia a instalação de cômodos e armazenamento. A Going Marry é maior que o tamanho normal.
Galeão: tem maior capacidade de carga que as caravelas, vários andares, mais canhões e espaço para maior tripulação. Foram usados pelas nações europeias nos séculos 16 ao 18, alguns até faziam uso de três a quatro mastros.
Os navios são diferentes e recebem outros nomes segundo à capacidade de carga, velocidade, equilíbrio, aerodinâmica, finalidade etc. As embarcações de 'One Piece' trazem aspectos fictícios.
Símbolos piratas
A bandeira dos navios piratas é chamada de Jolly Roger, tem a caveira branca com dois ossos cruzados. A partir dessa imagem, os grupos criaram a sua assinatura visual para demostrar suas identidades. Os chapéus de palha não seriam diferentes.
A parte da frente dos barcos é a proa e também leva uma figura emblemática. O Going Marry possui uma cabra ali. As figuras variavam conforme a cultura e o nome da embarcação, podiam evocar um animal veloz, como cavalo e golfinho, refletir um valor sociocultural, como a presença de um símbolo de centuriões, por exemplo, na proa dos romanos, que significava posição de comando miliar. Outros elementos comuns são sereias, serpentes, dragões e touros.
O dragão, particularmente, é uma figura comum a muitos povos. Alguns drakkar tinham cabeças de dragão, que eram removidas quando a embarcação era usada para o comércio. Os egípcios, gregos e romanos também usavam o dragão.
Os tripulantes acreditavam que a imagem na proa afastava espíritos nefastos e protegiam o barco de alguma maneira, por isso não era ruim mantê-las ali.
A tripulação dos navios
A tripulação de um navio pirata era composta por homens aventureiros do mar, marinheiros, comerciantes, criminosos e escravos fugitivos. A literatura dos séculos 18 e 19 criou estereótipos para seus membros, representados com tapa olho, perna de pau, gancho. Com práticas como beber rum, fazer o inimigo andar na prancha, ter uma tripulação atrapalhada ou rude e outros padrões que estudiosos esclarecem não serem reais.
'One Piece' traz personagens femininas fortes e independentes. Na 'Era Viking', elas desfrutavam de liberdade e igualdade, ocupando cargos nas vilas, além de cuidar da família, e também estavam presentes nas embarcações. Apesar de haver mulheres piratas, era raro. A sua presença era considerada uma distração. As famosas Anne Bonny e Mary Read da série precisaram se vestir como homens para conquistarem o respeito da tripulação.
Quando Oda as colocou na história quis dar outros valores para a trama. "Eu não queria criar uma história sobre mulheres sendo sequestradas e salvas. Retrato mulheres que sabem lutar por si mesmas e não precisam ser salvas", disse o autor em entrevista ao jornal norte-americano The News York Times.
Especialistas consultados: Dr. Leandro Vilas, historiador especialista vikings; Renan Marques Birro, professor de história medieval da Universidade de Pernambuco (UPE); e Jarl Baldur, um dos fundadores da Vila Viking.
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