Coroa de 2 kg e colher 'sobrevivente': os valiosos objetos da coroação
A coroação do rei Charles 3º e da rainha Camilla, a primeira desde que Elizabeth 2ª foi coroada há 70 anos, acontece neste sábado (6).
Embora a cerimônia tenha sido modernizada para refletir "o espírito de nossos tempos", como indicou o Palácio de Buckingham, muitos itens usados em ritos milenares são os mesmos há séculos — um deles data do século 12.
Conheça os objetos valiosos que fazem parte da coroação:
Carruagem de 1762 será usada em procissão
A Carruagem de Ouro de Estado será usada na segunda procissão de Charles e Camilla, após a coroação. Fabricada em 1762, é usada em todas as coroações desde 1831. Tem sete metros de comprimento, quase quatro metros de altura e pesa quatro toneladas.
A carruagem é feita de madeira coberta de folha de ouro. O interior é forrado e estofado com veludo e cetim e o exterior tem pinturas que representam deuses e deusas romanas.
Na primeira procissão, Charles e Camilla usarão a Carruagem de Estado do Jubileu de Diamante, fabricada em 2012 para marcar os 60 anos de reinado de Elizabeth 2ª. Essa carruagem tem cinco metros de comprimento e pesa três toneladas.
Moderna e mais confortável, a Carruagem do Jubileu de Diamante tem ar condicionado e suspensão hidráulica. Seus painéis de madeira são feitos com objetos doados por mais de cem lugares históricos e organizações de todo o Reino Unido, como o iate real Britannia e o escritório do primeiro-ministro britânico, 10 Downing Street. A coroa no topo é feita com carvalho do navio HMS Victory, o mais antigo ainda em serviço.
Coroas: a de Charles, do século 17; a de Camilla, sem diamante controverso
Charles será coroado com a Coroa de Santo Eduardo, feita em 1661 para a coroação de Charles 2º. Essa coroa de mais de dois quilos é feita de ouro maciço, decorada com rubis, ametistas, safiras, granadas, topázios e turmalinas. Seu gorro é de veludo, decorado com uma faixa de arminho.
Camilla usará a coroa da rainha Mary, feita em 1911. É a primeira vez na história recente que uma rainha "recicla" uma coroa em vez de ordenar a produção de uma nova.
A rainha não usará o controverso diamante Koh-i-Noor, que integrou a coroa da rainha Mary na coroação de 1911. Um dos maiores diamantes lapidados do mundo, o Koh-i-Noor foi retirado da Índia pela Companhia das Índias Orientais durante a era colonial e presenteado à rainha Vitória. Sua propriedade já foi reivindicada pela Índia e outros países como Paquistão, Afeganistão e Irã.
Algumas mudanças serão feitas na coroa antes de Camilla usá-la, como a inclusão dos diamantes Cullinan III, IV e V, retirados do maior diamante já encontrado e que faziam parte da coleção pessoal de joias da rainha Elizabeth 2ª, além de outras alterações para "refletir o estilo de Camilla".
Ao final da coroação, Charles trocará a Coroa de Santo Eduardo pela Coroa Imperial de Estado, feita em 1937 e decorada com 2.868 diamantes, 273 pérolas, 17 safiras, 11 esmeraldas e 5 rubis, pesando mais de um quilo. Essa coroa inclui a safira de Santo Eduardo, que teria feito parte de um anel do rei, e um rubi que teria sido usado em batalha por Henry 5º, além do diamante Cullinan II.
Na cerimônia, Charles receberá outras joias da coroa como o orbe, um globo de ouro com uma cruz no topo simbolizando o mundo cristão, e dois cetros de ouro: um que representa o poder monárquico e a justiça e também carrega um diamante Cullinan, e outro com uma pomba, que representa o papel espiritual do rei. Ele também receberá espadas, anéis, esporões e braceletes, todos representantes do poder do rei. Camilla também receberá cetros durante a cerimônia.
Cadeira do século 14 vandalizada e pedra escocesa histórica
A Cadeira da Coroação foi feita em 1300, faz parte da cerimônia de coroação há mais de 700 anos e tem dois metros de altura. Segundo a realeza, este é o móvel mais antigo do Reino Unido que ainda é usado para seu propósito original.
A cadeira, que fica exposta na Abadia de Westminster, foi grafitada nos séculos 18 e 19 por alunos da Escola de Wesminster e turistas que nela gravaram seus nomes. Um deles escreveu "P. Abbott dormiu nesta cadeira em 5-6 de julho de 1800" no assento. Ela também perdeu um pedaço após um ataque de bomba que teria sido organizado pelo movimento sufragista em 1914.
Embaixo desta cadeira, é posicionada a Pedra do Destino ou Pedra de Scone, que tem sido utilizada em coroações de monarcas ingleses e britânicos desde 1399. Ela é um antigo símbolo da monarquia da Escócia e foi retirada de lá em 1296, quando a Inglaterra estabeleceu o domínio sobre o país. Ela foi devolvida aos escoceses em 1996, mas foi enviada para Londres para ser usada na coroação de Charles.
Charles e Camilla também "reciclarão" as cadeiras de estado e tronos de outras coroações para a ocasião, em nome da "sustentabilidade". As cadeiras de estado foram feitas para a coroação da rainha Elizabeth 2ª, e os tronos, que serão usados no momento da entronização e da homenagem, foram feitos para a coroação do rei George 6º e da rainha Elizabeth em 1937. Esses objetos foram restaurados, conservados e adaptados para a nova cerimônia.
Colher que sobreviveu à Guerra Civil em momento "secreto"
No momento da unção, que será protegida por uma tela durante a coroação, o óleo sagrado será derramado de uma ampola de ouro em formato de águia. Esse objeto foi criado em 1661 para a coroação de Charles 2º.
A colher onde será derramado o óleo é o objeto mais antigo usado em coroações. Seu primeiro registro data de 1349, mas segundo a família real, esta colher foi possivelmente usada pelos reis Henry 2º (1133-1189) e Richard 1º (1157-1199). De prata dourada, é o único item que restou daquele século e uma das "sobreviventes" da Guerra Civil, resistindo à destruição dos objetos da coroação no momento da vitória do parlamento e do fim do absolutismo do rei. Ela foi usada para ungir o rei Charles em 1603 e em todas as coroações até 1649. Foi vendida e depois devolvida para a coroação do rei Charles 2º em 1661.
Qual o valor desses objetos?
"São objetos de valor inestimável, mas carregados do colonialismo inglês. São pedras trazidas da África do Sul, pedras que foram trazidas da Índia, então são todos objetos que mostram a riqueza do colonialismo inglês", explica o professor de história Francisco Vieira a Splash.