'Bebeu e se jogou em mim': ativista argentina relata assédio de Boaventura
A argentina Moira Ivana Millán, 53, ativista mapuche pela recuperação de terras indígenas, é mais uma mulher a acusar o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, 82, de assédio sexual. A acusação foi feita em junho do ano passado, durante encontro de mulheres indígenas no México.
O vídeo em que ela denuncia o diretor emérito do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra está disponível no Instagram (a partir do minuto 59).
Durante o depoimento, ela afirma que viajou a Coimbra a convite de Boaventura para dar uma aula na pós-graduação. "Esse senhor me convidou para jantar em um lugar onde estávamos sozinhos. Ele começou a beber e me chamou para ir ao seu departamento para buscar uns livros que iria me emprestar. Quando vou ao departamento desse senhor, ele se joga em cima de mim", relatou.
Segundo a ativista, que classificou o professor de "machista e violento", os fatos ocorreram em 2010. Ela afirmou não ter denunciado o assédio, à época, "porque seria vista como uma mulher mapuche", não como uma acadêmica.
"Quando voltei de Coimbra para Lisboa, devastada, um argentino me disse para não falar nada, pois ele [Boaventura] é o guru do pensamento de esquerda em Portugal e, na Argentina, ninguém acreditaria em mim", afirmou. No depoimento, Moira Ivana Millán criticou a construção de "egolatrias" que levam a situações de "maus tratos e violência".
Embora o vídeo tenha quase um ano, somente agora passou a circular em grupos de WhatsApp de estudantes de doutorado no Brasil e em Portugal. O compartilhamento do vídeo coincide com a publicação de um artigo em que três ex-alunas do CES acusam Boaventura de assédio sexual.
Nesta quarta-feira, 12, uma estudante brasileira disse ser a personagem de um dos casos relatados — Boaventura teria tocado no joelho da aluna e a convidado a "aprofundar a relação" como "pagamento" pelo apoio acadêmico.
Em e-mail enviado a alunos, ex-alunos e funcionários do CES, Boaventura de Sousa Santos negou as acusações e disse que as denúncias foram feitas por vingança — uma das autoras do artigo, segundo o sociólogo, foi expulsa do CES por mau comportamento.