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Síndrome do bem-estar: pressão por saúde e autocuidado podem virar obsessão

A imposição de padrões do que é ser saudável cria expectativas desnecessárias - Getty Images
A imposição de padrões do que é ser saudável cria expectativas desnecessárias Imagem: Getty Images
do UOL

Karina Hollo

Colaboração para Universa, em São Paulo

17/11/2022 04h00

Nos últimos dois anos, você, eu, todas nós fomos bombardeadas pela cultura do bem-estar. O autocuidado se transformou em uma alternativa para combater o estresse. No entanto, a geração Z já deu o alerta: essa pressão imposta pela cultura do bem-estar pode ser prejudicial para a nossa saúde mental —não à toa, vemos uma onda de rotinas mais tolerantes, fluidas e minimalistas.

"Hoje, percebemos que, cada vez mais, a imposição de padrões do que é ser bem-sucedido, saudável, feliz é bem danosa e cria expectativas desnecessárias nas pessoas", observa Hanne Lima, especialista em tendências na WGSN, empresa líder em tendências de comportamento e consumo.

"Partimos do entendimento de que estar feliz é algo momentâneo. É importante entender que somos feitos de ciclos e nenhum sentimento é uma constante." Estar bem é estar bem consigo mesmo." É estar em equilíbrio com o corpo, mente e alma e não se preocupar com os padrões e regras, não se comparar com o que está fora", alerta Priscila de Charbonnières, life coach fundadora do Soulloop e membro da The Theosophical Society of London. "Vivemos em uma sociedade altamente acelerada em relação ao consumo. Inclusive, o próprio mercado do bem-estar também tem o seu lado consumista. Somos bombardeados de informações o tempo inteiro e quando tentamos absorver todas as informações, saímos do bem-estar e vamos em direção a algo externo que não faz parte de nós", continua ela.

Para Carl Cederström e André Spicer, autores de "The Wellness Syndrome" (a Síndrome do Bem-Estar, em tradução livre), a pressão para estar bem e feliz, ter uma saúde otimizada para um corpo que performa com toda a sua capacidade, pensando somente na sua individualidade, faz com que a pessoa se sinta ainda pior. "São hábitos como ir a extremos para encontrar a dieta perfeita, o monitoramento obsessivo de todas as suas atividades, e aperfeiçoar a sua rotina para incluir o máximo de rituais de bem-estar possível", diz Hanne. Um bom exemplo? A personagem Cassie, de "Euphoria", que acorda todo dia às 4h da manhã para começar sua rotina maníaca de beleza e skincare.

Síndrome do Bem-Estar - Getty Images - Getty Images
"Para muitos, ser saudável e produtivo se iguala a ser uma boa pessoa, o que é uma cilada"
Imagem: Getty Images

O perigo da obsessão

"A cilada mora em criar uma equivalência entre o quão saudável e feliz você é, com a sua produtividade, com o seu valor como pessoa; para muitos que passam por isso, ser saudável e produtivo se iguala a ser uma boa pessoa", fala Hanne. "Segundo, deixar de entender que você também é afetado pelo mundo ao seu redor, pela saúde da sua comunidade como um todo e acontecimentos externos, e se individualizar a ponto de estar alienado a essa realidade. A positividade tóxica vem desses lugares."

Em outras palavras, quando o nosso bem-estar se torna dependente do conforto pelo controle das situações, ele se restringe a essa segurança. "Porém, quando ele é atingido com a consciência da dinâmica de necessidades das exigências do corpo, mente e espírito, todo esse nosso investimento em saúde nos leva a acessar essa restauração do estar 'bem' com maior fluidez", observa Mylla Carneiro, médica da clínica Awake Health (SP), pós-graduada em Saúde Integrativa pelo Hospital Albert Einstein e formada em Neurociência do Comportamento.

"Quando cuidar da nossa saúde deixa de ser leve e se torna uma auto responsabilidade comparativa, podemos estar alimentando uma busca por viver esse bem-estar como algo fora de nós e completamente dependente de se encaixar em determinados padrões de experiências", complementa.


"Não somos constantes"

A medida certa para essa busca é mantê-la razoável, não deixar que essa busca se torne obsessiva e aconteça em detrimento da sua saúde e felicidade hoje, o que é bem comum de acontecer na cultura de wellness como a gente conhece. "A geração Z considera que não somos constantes e nem perfeitos. A gente vê inclusive uma mudança no significado de "holístico" e de saúde —em que uma dieta inclui desde suco verde até martinis. É muito mais sobre equilíbrio", diz Hanne.

Alongamento, ioga, relaxar, bem-estar - iStock - iStock
Imagem: iStock

"Algo interessante quando olhamos para a relação da geração Z com alimentação, por exemplo, é ver como a motivação por uma alimentação saudável está cada vez mais ligada com saúde mental e manejo do estresse, longe da cultura da dieta e num espaço em que o movimento pela neutralidade corporal está crescendo cada vez mais." A felicidade é a saúde da alma e a saúde é a felicidade do corpo. "Se o que nos faz feliz é tão único, o que nos faz saudável também. O autoconhecimento é a única forma de acerto para esse equilíbrio dinâmico", finaliza Mylla.

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