Topo
Entretenimento

Xixi no sapo e truque da cerveja: como eram os antigos 'testes' de gravidez

Museu na Áustria conta a história do abordo, de "testes" de gravidez e de métodos contraceptivos desde o Egito Antigo - Getty Images
Museu na Áustria conta a história do abordo, de 'testes' de gravidez e de métodos contraceptivos desde o Egito Antigo
Imagem: Getty Images
do UOL

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

10/11/2022 04h00

A saga do ser humano para evitar ter filhos. Este é um dos temas centrais de um original local turístico que existe na cidade austríaca de Viena e que leva o nome de Museu da Contracepção e do Aborto (também chamado de MUVS, na sigla em alemão).

A instituição conta com salas que abrigam exposições sobre a história dos testes de gravidez, dos métodos contraceptivos e do aborto, mostrando práticas que chegam ao Egito Antigo.

E, entre as exibições, não faltam histórias intrigantes.

A trajetória dos testes de gravidez abordada pelo museu, por exemplo, renderia um longa-metragem.

"A pergunta 'estou grávida?' pode ser rapidamente respondida nos dias de hoje, graças aos testes disponíveis nas farmácias. Mas, no passado, não era assim", diz o ginecologista Christian Fiala, fundador do MUVS.

Ao longo dos séculos, inúmeros métodos foram tentados para identificar a gravidez. Plantas e animais eram frequentemente utilizados como indicadores indiretos" Christian Fiala

Interior do Museu da Contracepção e do Aborto, em Viena - Museu do aborto - Museu do aborto
Interior do Museu da Contracepção e do Aborto, em Viena
Imagem: Museu do aborto

Um dos procedimentos, adotado no século 20, era injetar em um sapo uma pequena quantidade de urina de uma mulher com suspeita de gravidez. "Segundo este método, se a mulher estivesse grávida, o hormônio da gravidez presente em sua urina faria com que o sapo produzisse esperma dentro de 3 horas", relata Fiala.

No museu, há também o registro de uma prática do Egito Antigo, que, para identificar uma possível gravidez das mulheres da época, prega o seguinte: "sementes de trigo e cevada devem ser enroladas em um pano, no qual a mulher deve urinar diariamente. Depois, tudo é misturado com tâmaras e areia. Se as sementes germinarem, significa que a mulher está grávida."

Outra tradição era a mulher beber uma poção preparada com cerveja e tâmaras. Era considerada uma confirmação da gravidez se ela se sentisse doente ou tivesse que vomitar.

O museu tem uma ampla exposição sobre a história dos métodos contraceptivos - Museu do aborto - Museu do aborto
O museu tem uma ampla exposição sobre a história dos métodos contraceptivos
Imagem: Museu do aborto

Contracepção

O museu também fala sobre os diversos contraceptivos criados pela humanidade, como o diafragma, o DIU e invenções menos conhecidas do público nos dias de hoje.

Uma delas, utilizada no começo do século 20, era chamada nos países de língua inglesa de "Powder Blowers" (Sopradores de Pó).

Dispositivo conhecido como "Soprador de Pó", em exibição no museu - Museu do aborto - Museu do aborto
Dispositivo conhecido como "Soprador de Pó", em exibição no museu
Imagem: Museu do aborto

"Esse dispositivo consistia em duas partes. Um bulbo de borracha contendo o 'pó purificador' feito com compostos químicos, que se encontrava preso a um cilindro oco", explica Fiala. "Antes da relação sexual, o cilindro tinha que ser inserido na vagina e, depois, era preciso apertar o bulbo uma ou duas vezes para catapultar a quantidade necessária de pó na direção do útero. Acreditava-se que isso evitava a gravidez"

Camisinha criativa exposta no MUVS - Museu do aborto - Museu do aborto
Camisinha criativa exposta no MUVS
Imagem: Museu do aborto
Tabelinha antiga exposta no museu - Museu do aborto - Museu do aborto
Tabelinha antiga exposta no museu
Imagem: Museu do aborto

E no museu há, logicamente, uma seção toda dedicada à história dos preservativos e das pílulas anticoncepcionais.

À mostra, por exemplo, está uma das primeiras caixas do Anovlar, a primeira pílula anticoncepcional comercializada na Alemanha, nos anos 1960.

Caixinha histórica do anticoncepcional Anovlar exposta no museu - Museu do aborto - Museu do aborto
Caixinha histórica do anticoncepcional Anovlar exposta no museu
Imagem: Museu do aborto

"Embora, inicialmente, tenha sido prescrita com muita relutância pelos médicos, a Anovlar é um símbolo do tão esperado passo em direção à contracepção eficaz", diz Fiala. "Surpreendentemente, poucas unidades deste primeiro pacote histórico sobreviveram até hoje".

Aborto

O MUVS dá um amplo espaço para o tema do aborto, falando sobre a história da prática e sobre a luta das mulheres para legalizá-la.

"Uma das primeiras indicações de que o aborto era comum em civilizações antigas aparecem em um papiro egípcio de aproximadamente 1.600 a.C.", informa o museu. "O documento descreve um método pelo qual 'a mulher esvazia o concebido no primeiro, segundo ou terceiro período de tempo'. Para isso, havia várias bebidas à base de plantas".

Seringa usada em procedimentos abortivos no começo do século 20 - Museu do aborto - Museu do aborto
Seringa usada em procedimentos abortivos no começo do século 20
Imagem: Museu do aborto
Pacote de abortivo usado na Tailândia - Museu do aborto - Museu do aborto
Pacote de abortivo usado na Tailândia
Imagem: Museu do aborto

Já em Roma, "os médicos possuíam um vasto conhecimento que poderiam usar para atender à demanda por aborto, que existia naquela época. Já eram conhecidos mais de duzentos abortivos".

O museu também relata a história de mulheres que arriscaram prisão em movimentos de defesa do direito ao aborto durante o século 20 e aborda o trabalho da artista luso-britânica Paula Rego, que pintou quadros que mostram mulheres em situação de desamparo durante a realização de abortos ilegais. Rego, que morreu em 2022, foi uma ativista pela legalização do aborto em Portugal.

Interior do Museu da Contracepção e do Aborto - Museu do aborto - Museu do aborto
Interior do Museu da Contracepção e do Aborto
Imagem: Museu do aborto

E, como não poderia deixar de ser, o MUVS concede muito espaço para as discussões sobre o aborto travadas nos dias de hoje.

"Como médico, só posso alcançar e educar um número limitado de pessoas sobre sua fertilidade e como lidar melhor com isso. Como cientista e conferencista é um número maior, mas somente através do museu é possível difundir o conhecimento sobre contraceptivos confiáveis e abortos medicamente seguros em escala global", diz o ginecologista Christian Fiala.

Entretenimento