Dona Florinda: 'No México, somos queridos; no Brasil, somos idolatrados'
Era fevereiro de 2015 quando a atriz mexicana Florinda Meza, hoje aos 73 anos, conhecida por dar vida à Dona Florinda no seriado "Chaves", veio ao Brasil pela primeira vez. Na ocasião, ela participou de um programa de TV e encontrou alguns fãs na plateia do auditório.
A reação do público que encontrou por aqui a surpreendeu. Ela não esperava, mas se sentiu mais apreciada em terras brasileiras, onde "Chaves" foi exibido na TV aberta por 36 anos, do que em seu próprio país.
"Noto que a comoção é maior no Brasil do que aqui. No México, somos queridos. Na América do Sul, somos amados. E, no Brasil, somos idolatrados", afirma em entrevista a Splash.
Ela retorna ao país no próximo ano, como atração do Festival da Boa Vizinhança, evento ligado ao EducaFest, que traz bate-papo com artista e possibilidades de fotos com ela, no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente nos dias 20 e 22 de abril.
O evento estava planejado para acontecer neste mês de novembro, mas precisou ser remarcado para 2023. Mas não há motivo para os fãs ficarem tristes: hoje ela participa da versão online do EducaFest — festival que une educação, sustentabilidade e entretenimento.
"Estava planejado para outros meses, depois foi transferido para novembro, mas entre a Copa do Mundo, as eleições... Tudo foi adiado. Para mim é muito importante que os fãs vão me ver. Venha, me ver, por favor", brinca. "A Copa do Mundo é uma grande competição. Nem meu marido prestava atenção em mim quando havia Copa do Mundo, então, imagine", completa aos risos.
'Roberto era um gênio'
Florinda é viúva de Roberto Bolanõs, o ator que interpretou o personagem Chaves, que morreu aos 85 anos, em 2014, um ano antes da primeira vinda da atriz ao país.
Ela relembra que as notícias de que recebia sobre a comoção em terras brasileiras pela morte de Bolaños a deixou inquieta, que diz não entender por que "Chaves" é tão popular no Brasil. Seu palpite é que há uma similaridade entre as culturas brasileiras e mexicanas, o que permite a identificação com os personagens.
"Não encontro exatamente uma resposta para essa devoção. Porque vocês só poderiam gostar, mas há uma verdadeira paixão. Acho que se deve também ao temperamento do brasileiro e à proximidade de nossas culturas. Os portugueses chegaram aí. Nós, os espanhóis. Dois países grudados que já foram um. Como se estivéssemos presos desde antes de nascermos, não?", reflete.
'Roberto era um gênio. O programa tem coração e alma. E cai em terreno muito fértil, um país onde o que transborda é coração. O brasileiro é amor, alma e coração' Florinda Meza
Saudade de Bolaños
Florinda Meza e Roberto Bolaños viveram juntos por 37 anos, entre o casamento, em 1977, e a partida do intérprete de Chaves em 2014. A atriz relata que a dor do luto segue, que se sente até hoje "vivendo pela metade".
"Como é viver sem ele? Eu gostaria de responder como falamos no México, com uma palavra que é uma grosseira. Bem, não é rude porque, neste caso, significa que é terrível. Viver sem ele é 'de la fregada'. Significa algo como: muito duro, é viver pela metade", lamenta.
Para Florinda, ele era genial porque criou personagens marcantes para o programa "Clube do Chaves" ("Chespirito", em espanhol) — que engloba "Chaves" e "Chapolin Colorado".
"Todos os personagens são cativantes, mas há um personagem que, para mim, é admirável, o Chapolín Colorado. Ele contém muito da idiossincrasia do latino, alguém que está sempre disposto a colaborar e a enfrentar um problema. O Chapolin não ligava por ser fraco, baixinho. Realmente, era um herói porque superava o medo para ajudar, é nisso que consiste a coragem. E esse personagem para mim é uma lição para o mundo bom", pensa.
"Na verdade, foi ele quem abriu as portas. Ele é o personagem mais internacional. Chavo é encantador. O Dr. Chapatín é cativante, também carinhoso. O Chapolin é mais internacional", completa.
Direitos autorais
As famosas produções de Bolaños deixaram de ser exibidas em mais de 20 países em agosto de 2020, por falta de acordo entre a Televisa — até então detentora dos direitos de transmissão — e Roberto Gómez Fernández, filho de Bolaños, à frente do Grupo Chespirito — dono dos direitos de exploração comercial dos personagens.
Na época, Florinda revelou que foi excluída das conversas do grupo Chespirito com a Televisa. Hoje, ela segue sem informações sobre o futuro da obra deixada por Bolaños.
"Não posso falar de projetos futuros sobre o trabalho do 'Chespirito' porque não sei sobre isso. 60% foi herdado pelo filho de Roberto. Eu deveria saber sobre projetos futuros, mas não sei. Eles não foram relatados para mim, mas devia ser", lamenta.
Ela, então, faz o pedido para que a obra de seu falecido marido volte à TV. "Só gostaria que o programa fosse ao ar novamente porque é o legado do meu marido e sei que muitas pessoas sentem falta dele", pede.
"Mas não depende de mim. Depende da Televisa negociar a compra. Eles são donos do vídeo, mas Chespirito e eu éramos donos dos roteiros do conteúdo literário. Agora, os direitos pertencem ao filho de Roberto como herdeiro e a mim como colaboradora", explica.
Relação com ex-colegas
A imprensa mexicana já noticiou que Florinda e Maria Antonieta de las Nieves (intérprete de Chiquinha) não tinham uma boa relação. Ela confirma que não são próximas, mas descarta rivalidade durante o papo com Splash.
"Olha, com alguns é muito difícil ter uma conexão porque eles estão no além (risos). Eles já faleceram. Mas dos que estão vivos, quando encontro o Edgar me dá muito prazer, amo muito o Edgar Vivar (ator que faz o Seu Barriga)", diz.
"Faz muito tempo que não vejo María Antonieta, mas no dia em que a encontrá-la, me dará um grande prazer. Não podemos ter um relacionamento intenso ou amizade porque o mundo de hoje não permite. Vivemos em cidades diferentes, o tempo é tão limitado. Às vezes eu nem tenho relacionamento suficiente com minha família. Só conversamos para ver se eles estão bem. E às vezes nem falam comigo", afirma.
Florinda ainda se refere ao período das gravações como "uma lindíssima lembrança" e de muita risada, desde as leituras até o momento de gravar.
"Como eu ria enquanto lia e memorizava. Os técnicos também riam enquanto ensaiávamos. E eles diziam: 'gravando, não é mais ensaio, ninguém mais pode rir, silêncio'. Ninguém podia rir porque era gravado direto", lembra.
Florinda Meza no Brasil - Festival da Boa Vizinhança
Ingressos de R$ 50 (meia entrada) até R$ 1600 (Vip Experience)
20 de abril: Rio de Janeiro (no Vogue Square)
22 de abril: São Paulo (no VIP Station)