Com tanta notificação, ainda há espaço para viver o ócio?
Quando você pensa em tempo livre, o que vem à cabeça? Podemos até imaginar um momento de relaxamento no campo, um mergulho em uma cachoeira ou um passeio sem rumo na rua. Mas a verdade é que o ócio está mais ligado, na prática, a uma série de estímulos.
Netflix, Instagram, conversas no WhatsApp, uma olhadinha no Twitter? Tudo isso que a tecnologia coloca nas nossas mãos acaba ocupando boa parte do tempo que seria de descanso. São vários os estudos que medem o tempo médio do brasileiro no celular, mas aparecemos sempre no top 3 mundial. Uma dessas pesquisas indica que chegamos a gastar quase 4 horas diárias em aplicativos. E este foi o papo no CAOScast desta semana, que você pode ouvir clicando no vídeo abaixo.
"A gente percebeu que as pessoas já não sabem mais quando elas estão no ócio e quando não estão", diz Marina Roale, líder de pesquisa da Consumoteca, no episódio de CAOScast veiculado esta semana aqui em TAB. "Se na TV a gente tinha separado a hora de falar de notícia e a hora de falar de entretenimento, na internet é tudo junto e misturado", afirma (ouça a partir de 28:21).
Um post é uma foto do café da manhã do seu melhor amigo, logo abaixo já vem uma notícia de um jornal que você segue, contando o mais novo número de infectados pelo coronavírus, depois aparece uma live que você deveria estar assistindo porque tem a ver com o seu trabalho. No fim dessas quase 4 horas diárias, o que você fez, afinal? Descansou? Interagiu com amigos? Trabalhou?
A ideia não é se desconectar por completo, mesmo que isso faça bem de vez em quando, explica a jornalista Daniela Arrais, convidada do episódio e sócia da Contente, plataforma que propõe um uso mais consciente do digital. "Eu acho que criar esse momentos [de desconexão] faz mais sentido. Porque a gente gosta de estar conectado, a gente se beneficia de estar conectado, mas também já percebe que comportamentos que a gente tinha antigamente — por exemplo, estar numa mesa de um restaurante e alguém pega o celular, hoje a gente já vê mais todo mundo com um olhar estranho (...). Então eu acho que esse uso equilibrado que vai ser a nossa ferramenta do futuro", opina (a partir de 21:22).
Já não dá para imaginar passar horas a fio sem fazer nada, como os filósofos gregos, mas há quem defenda até mesmo uma espécie de ócio produtivo, o chamado "ócio criativo", termo cunhado pelo professor e sociólogo italiano Domenico de Masi nos anos 1990, unindo prazer, trabalho e estudo. Mas é claro que isso não pode se apoiar no celular a todo momento.
"Muitas das campanhas de educação que a gente trabalha hoje visam o ensino de yoga, o ensino de meditação, trabalho corporal e esse tipo de coisa. A criatividade fica nesse — embora ligada à tecnologia, essa coisa mais mundial e global, você tem a necessidade de ensinar essa âncora corporal, de ensinar essas mentes", diz Andrea Jotta, professora e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, convidada do episódio (a partir de 30:23).
Seja pelo bem da saúde mental ou simplesmente para se sentir mais produtivo, o ócio é bem-vindo. Saiba como conciliar descanso e tecnologia no episódio desta semana de CAOScast acima.
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